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O segundo dia da Reunião Magna da ABC de 2018, 9 de maio, começou com um debate sobre transformar ideias e conhecimento em riqueza e desenvolvimento. Para discutir o tema, foram convidados a secretária de Estado da Indústria de Portugal, Ana Lehmann, e dois Acadêmicos: o professor emérito da UFMG, Nívio Ziviani, e o presidente da Embrapii, Jorge Guimarães, que apresentaram suas experiências com projetos para promover inovação.

ana_lehman.jpg O primeiro caso apresentado foi o de Portugal, que vem implementando políticas para estimular a chamada co-criação de conhecimento e valor econômico, segundo conta Lehmann. “Tivemos que passar para um novo vocabulário, e falar menos de transferência (de tecnologias) para falar mais de co-criação”, contou a secretária de Estado da Indústria portuguesa.

Essa política de inovação portuguesa prevê a adaptação de conteúdos e atividades desde o ensino básico com vistas a uma capacitação de recursos humanos de forma global. “É preciso transformar o sistema de ensino tradicional e induzir o conceito de cooperação, especialmente entre pesquisadores e empresários”, comenta, destacando que o país lançou uma série de programas específicos de incentivo à cooperação tecnológica – levando em conta que em Portugal 99% das empresas são de pequeno e médio porte. “É preciso pensar em estratégias para defender o desenvolvimento de novas tecnologias nessas empresas”, disse.

Ziviani e Guimarães, por sua vez, apresentaram um pouco do cenário das inovações no Brasil. O presidente da Embrapii falou do papel da entidade e os desafios para promover a inovação na indústria nacional.

jorge_guimaraes.jpg “O Brasil está preparado para inovar? A resposta é sim. Somos o 13º país do mundo em produção científica”, ressaltou Guimarães, apontado, por outro lado, que são muitos os desafios para que essa pesquisa tão bem qualificada seja capaz de elevar a participação do país no ranking das nações mais inovadoras: hoje, o Brasil ocupa a 69ª posição.

“O conceito de inovação está mal concebido e mal aplicado no país”, criticou. Segundo ele, o caminho para o Brasil subir nesse ranking inclui unir a produção científica ao desenvolvimento de tecnologias, ampliar os centros de P&D nas empresas, ampliar os investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento, elevar o nível da inovação tecnológica, criar um novo modelo de financiamento para P&D e elevar a porcentagem do PIB nacional para CT&I para 2%.

Pesquisador-empreendedor

nivio_ziviani.jpg Ziviani contou sua experiência com o empreendedorismo tecnológico nos últimos 25 anos. Ele foi um dos criadores, na década de 1990, do Metaminer, sistema brasileiro de busca simples na web, que depois foi incorporado ao portal UOL. “Esta foi uma das primeiras empresas a nascer em uma universidade brasileira, a UFMG”, observou. No início dos anos 2000, o pesquisador participou da criação da Akwan, empresa de buscas na internet que em pouco tempo foi adquirida pela gigante Google. Por conta disso, a multinacional americana criou o seu primeiro centro de P&D na América Latina, em Belo Horizonte. “Cerca de 25% das melhorias da Google são feitas nesse centro”, destacou.

Agora o pesquisador se dedica ao aprendizado das máquinas e diz que quer mudar a nossa sociedade utilizando inteligência artificial. “Essa tecnologia dá aos computadores a capacidade de aprender sem ser explicitamente programado”, explicou, apresentando sua mais nova startup, a Kunumi. “O aprendizado das máquinas lida, com conforto, com milhares de dimensões ao mesmo tempo. E é isso que permite a revolução que estamos vendo”.

Um dos exemplos de desenvolvimento são corretores ortográficos que permitem com um só modelo se adaptar a todas as línguas. Outro exemplo é a possibilidade, a partir de uma só gota de sangue, de analisar os biomarcadores e conhecer a probabilidade de uma pessoa desenvolver Alzheimer com uma antecedência de quatro anos.

Ziviani ressaltou a importância do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, sancionado em 2016 e regulamentado em fevereiro de 2018. Com base nas suas experiências em transformar estudos e tecnologias desenvolvidos na academia em negócios lucrativos, ele defendeu que a nova legislação facilita e desburocratiza a relação entre pesquisa e empreendedorismo no país. “Vários pontos que estão nessa Lei já temos feito há alguns anos. O Marco traz segurança jurídica às atividades de inovação”, concluiu.