“Senhoras e senhores, boa noite. Damos início à Sessão Solene de Entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia, Edição 2018; a Concessão de Títulos a Pesquisadores Eméritos e Menção Especial de Agradecimentos, pelo CNPq; e Posse dos Novos Membros Titulares, Correspondentes e Institucional da Academia Brasileira de Ciências [ABC], sob o patrocínio da Fundação Conrado Wessel. Agradecemos ao Museu do Amanhã – que se dedica a explorar, pensar e projetar as possibilidades de construção do futuro – pela parceria, abrigando essa cerimônia.”
Assim começou o evento da noite de 9 de maio, no qual o presidente da ABC Luiz Davidovich recebeu uma Menção Especial de Agradecimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em nome da Academia. Menções de Agradecimento também foram entregues ao Acadêmico Francisco Mauro Salzano (à direita na foto), pelo conjunto de sua obra científica, e ao deputado Celso Pansera, por seu apoio à causa da ciência, tecnologia e inovação (CT&I), entre outros.
<img5139|left> Junto com mais seis pesquisadores brasileiros, os Acadêmicos Carlos Medicis Morel, Luiz Antonio Barreto de Castro, Vanderlei Salvador Bagnato e Walter Colli receberam o título de Pesquisadores Eméritos do CNPq, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica.
Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia
A outorga do Prêmio criado em 1981 e que leva o nome do ex-presidente da ABC desde 1986 é a mais importante honraria em ciência e tecnologia do país. Ao agraciado é concedido um diploma e medalha do CNPq e do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC); uma viagem em navio de assistência hospitalar na Amazônia e uma viagem à Antártida, oferecidas pela Marinha; e uma premiação em espécie, concedida pela Fundação Conrado Wessel. É concedido anualmente, em sistema de rodízio, a uma das três grandes áreas do conhecimento.
Em 2018, a área do conhecimento contemplada foi a de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes e o premiado foi Jorge Sidney Coli Junior (à direita na foto), professor titular de História da Arte e História da Cultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bolsista do CNPq. Seus estudos abordam especialmente a arte e iconografia do século 19.
Após o seu agradecimento e as falas do representante da Marinha do Brasil e do presidente do CNPq, foi encerrada a primeira parte da cerimônia e teve início a diplomação e posse dos novos membros da ABC, que foram apresentados pelos Acadêmicos Helena Nader e o Acadêmico Virgílio Almeida.
Os novos membros da ABC
Foram empossados na cerimònia 19 cientistas de excelência, dentre Membros Titulares e Correspondentes.
Nas Ciências Matemáticas, tomou posse Jose Felipe Linares Ramirez (IMPA) . Na área de Ciências Físicas, foram eleitos dois pesquisadores do Nordeste, Antonio Gomes de Souza Filho (UFC), que foi membro afiliado da ABC entre 2011 e 2015 e José Renan de Medeiros (UFRN). As Ciências Químicas elegeram dois pesquisadores do Sul-Sudeste. Antonio Salvio Mangrich (UFPR) e Roberto Manuel Torresi (USP).
As Ciências Biológicas elegeram uma ex membro afiliado da ABC, Alicia Juliana Kowaltowski (USP), e mudaram de categoria Philip Martin Fearnside (INPA), membro correspondente da ABC desde 1993. Na área de Ciências Biomédicas foram empossados Amilcar Tanuri (UFRJ) e Célia Regina da Silva Garcia (USP). Já nas Ciências da Saúde, tomou posse Celina Maria Turchi Martelli (Fiocruz-PE).
Dois dos novos Acadêmicos são da área de Ciências da Terra: Dilce de Fátima Rossetti (INPE) e Milton José Porsani (UFBA). Já as Ciências Agrárias e aa Ciências Sociais elegeram um novo membro cada, Acelino Couto Alfenas (UFV) e Eduardo Luiz Gonçalves Rios Neto (UFMG), respectivamente. Paulo Sergio Ramirez Diniz (UFRJ) e Romildo Dias Toledo Filho (UFRJ) foram empossados na área de Ciências da Engenharia.
Os novos Membros Correspondentes são Christian André Amatore (CNRS – França), das Ciências Químicas; Christopher Michael Wood (UBC – Canadá), da área de Ciências Biológicas e Jeremy Nichol McNeil (Western University, Canadá), na área de Ciências Agrárias.
O novo Membro Institucional da ABC é o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), uma instituição sem fins lucrativos que tem por objetivo promover o avanço científico e tecnológico na área de saúde, com responsabilidade social.
Sua operação é independente e em sede própria desde 2010, mas as suas origens remontam ao início da Rede D’Or de Hospitais, sua principal mantenedora. O diploma foi recebido pela vice-presidente do Instituto, a pesquisadora Fernanda Moll.
Saiba mais sobre cada um dos novos membros da ABC.
Após um minuto de silêncio em memória dos Acadêmicos falecidos recentemente, o Acadêmico Luiz Drude de Lacerda saudou os recém-chegados. Ele destacou o período adverso por que está passando a ciência no Brasil, diante da apatia dos governos para com a competência científica instalada no país e o descaso com relação ao que foi conquistado em anos anteriores.
Drude ressaltou a pronta resposta da Academia a estes tempos nefastos, com a publicação de dois documentos seminais: o Projeto de Ciência para o Brasil e o documento da ABC para os Candidatos à presidência do Brasil, no qual aponta o caminho a seguir para a retomada do crescimento no país, por meio da implantação de uma política de Estado para ciência, tecnologia e inovação.
Cumprimentou então os novos membros, alinhando-os à ABC no sentido de não se deixarem abater e continuarem engrandecendo a ciência brasileira, com estudos de qualidade mundial. “Estes novos membros confirmam o papel da ciência como promotora da redução daas desigualdades regionais e de gênero. Recebemos membros dos diversos estados do pís e temos uma forte presença feminina, ajudando a quebrar barreiras num setor que ainda permanece artificial e absurdamente masculino, ignorante da participação fundamental da mulher na ciência mundial”, exaltou o Acadêmico.
Em nome dos novos membros discursou a Acadêmica recém-empossada Alicia Kowaltowski. Sem notas escritas, falando de improviso com muita segurança e desenvoltura, ela agradeceu pela inclusão nos quadros da ABC,uma grande honra numa carreira em que se erra muito até conseguir resultados, mas que envolve pessoas com curiosidade, vontade de entender e de desenvolver inovações fantásticas.
Destacou, porém, que o conhecimento da sociedade sobre ciência não acompanhou seu desenvolvimento e atribuiu aos cientistas a responsabilidade de reduzir gradativamente esta distância. “Para que o apoio à ciência seja ampliado, é preciso que a sociedade entenda que sem ciência não há desenvolvimento”, ressaltou a bioquímica.
“Posso falar em nome dos meus colegas que estão aqui hoje, como eu, tomando posse: a ABC pode contar conosco para lutar como for necessário no sentido de levar o Brasil ao patamar de protagonismo científico em nível internacional.”
Outorga da Medalha Henrique Morize
Em sua quarta edição, a medalha que leva o nome de um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências foi criada para premiar personalidades que tenham prestado grandes serviços à ABC e à ciência brasileira.
O agraciado foi o Acadêmico Jacob Palis Jr., matemático brilhante de reconhecimento internacional que presidiu a Academia entre 2007 e 2016, um período de relevantes avanços nessa organização. Ele a recebeu das mãos de seu sucessor, Luiz Davidovich, num momento de muita emoção na cerimônia.
Davidovich ressaltou que Jacob Palis é membro de mais doze Academias por todo o mundo (Alemanha, EUA, França, Itália, Portugal, Russia, entre outras) e que orientou 43 doutores, com pelo menos 257 descendentes indiretos até o momento, um número considerado assombroso. Acrescentou que Palis promoveu revoluções positivas por onde passou, como na ABC, na Academia Mundial de Ciências (TWAS) e na União Internacional de Matemática (IMU), que também presidiu, e no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), que dirigiu e onde atua até hoje. “Vou usar uma expressão que o próprio Jacob costuma utilizar para se referir a algumas pessoas que admira: ele é uma força da natureza”, arrematou.
Agradecendo a medalha, Jacob Palis salientou sua emoção em receber a quarta edição desta honraria, criada em sua gestão e destinada anteriormente aos Acadêmicos Jorge Guimarães, Américo Fialdini e Helena Nader. Agradeceu à sua família, aos colegas e funcionários do IMPA e da ABC e ao presidente Luiz Davidovich, “com quem seguirei trabalhando em prol da ciência brasileira.”
Quebrando o clima de emoção, Palis arrancou risos da plateia ao cobrar do ministro Kassab, ali presente, o resgate de 2% do orçamento federal prometidos para ciência e tecnologia. “Ele prometeu, conseguiu e perdeu. Vamos lutar por isso.”
Lançamento do projeto “Ciência gera Desenvolvimento”
Com este mote, a ABC iniciou um projeto, conduzido pela diretora Márcia Barbosa, para a produção de vários vídeos curtos exemplificando casos em que a pesquisa científica resultou em desenvolvimento para o país. O primeiro desses vídeos foi dedicado à Johanna Döbereiner, que foi vice-presidente da ABC, e foi apresentado na cerimônia, com muito sucesso.
Encerramento
As duas últimas falas foram do presidente da ABC, Luiz Davidovich, seguido pelo ministro do MCTIC, Gilberto Kassab.
Davidovich destacou que o Brasil tem 20% da biodiversidade mundial, base para um projeto nacional de bioeconomia. “Tem vastos recursos minerais, incluindo o nióbio, que tem um grande leque de aplicações tecnológicas. Tem um clima que facilita o uso de energias alternativas, como a energia solar e a energia eólica”. E alcançou inúmeras conquistas científicas de importância mundial.
No entanto, a seu ver, as conquistas já alcançadas correm risco de serem revertidas, pela falta de uma agenda nacional que defina as prioridades e os instrumentos para sua realização, e pelos severos cortes orçamentários. “O orçamento disponível este ano para custeio e capital do MCTIC, elaborado pelo Ministério de Planejamento e aprovado pelo Congresso Nacional, é cerca de 1/3 do orçamento de 2013, excluindo os recursos para Comunicação”, relatou.
Ele apontou, ainda, as recentes ações truculentas ocorridas no país contra Acadêmicos e contra as universidades públicas. E enfatizou que a Academia Brasileira de Ciências reúne sonhadores. “Não são sonhos estratosféricas, eles se baseiam na análise científica das possibilidades do real. Sonhos construídos coletivamente, pelo trabalho voluntário e não remunerado de cientistas”. Nesse sentido, convidou os novos membros a participar ativamente da construção desses sonhos. “Trabalhando juntos, aumentaremos as chances de que eles se transformem em realidade: o futuro será mais próximo do que queremos, se participarmos de sua construção”, concluiu.
Encerrando o evento, o ministro Kassab atribuiu à cerimônia daquela noite, para a ciência brasileira, a mesma importância que a final de uma Copa do Mundo tem para o futebol. Lamentou “o problema crônico da ausência de recursos e de descaso do poder público para com a ciência” e afirmou estar ao lado dos cientistas na luta pelo desenvolvimento científico e tecnológico, “para termos a possibilidade de continuar sonhando com um país mais justo”.