O Estado do Rio de Janeiro vive um momento difícil em todas os aspectos públicos e privados, na segurança, na saúde e na educação. As universidades, a ciência e a tecnologia não escaparam da crise e, desde 2015, os recursos sofreram diminuição.
Por determinação constitucional, o estado tem que repassar 2% da arrecadação líquida para o fomento da ciência, tecnologia e inovação, através da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Devido à crise financeira e fiscal, os recursos não puderam ser totalmente repassados. Em contraste com essa situação estão os resultados positivos de avaliações recentes das instituições do Rio. No Ranking Universitário Folha (RUF), por dois anos consecutivos a UFRJ está na primeira posição, e outras três universidades do estado estão posicionadas entre as 20 melhores do país (Uerj, UFF e PUC).
Na última avaliação quadrienal dos programas de pós-graduação (período 2013-2016), o Rio de Janeiro aumentou em 16% o número de programas de excelência, níveis 6 e 7. A notícia mais recente — uma das melhores do ano para a comunidade científica brasileira — foi o anúncio dos 65 ganhadores do edital do Instituto Serrapilheira.
Surpreendentemente, 15 pesquisadores jovens do estado foram contemplados. O Rio só ficou atrás de São Paulo, com 20 vencedores.
Todos estes dados refletem dois aspectos. O primeiro é que os recursos investidos pela Faperj por quase uma década (2006-2014) têm efeitos que não se perderam tão rapidamente, mesmo em um quadro de grande crise. O segundo é que tanto as instituições (universidades e institutos) quanto a Faperj têm buscado maneiras de atenuar os efeitos deletérios da diminuição dos recursos.
É como se fosse um “hospital de campanha” para tentar manter os investimentos e os projetos de ponta, tais como o fomento de bolsas e taxas de bancada para os programas de pós-graduação, o Programa de Apoio às Arboviroses (dengue, zika, chicungunha e febre amarela) e o Programa de Apoio aos Cientistas e Jovens Cientistas do Nosso Estado, entre outros.
Semelhante às ações de um hospital de campanha, elas são de caráter emergencial e não podem substituir o apoio continuado. Esse “Reage Rio” das nossas instituições de ciência e tecnologia não pode ser punido pela perenização da diminuição dos recursos. Recentemente, em uma carta ao presidente Michel Temer assinada por 23 pesquisadores internacionais, laureados com o Prêmio Nobel, destacou-se que a crise financeira e fiscal por que passa o Brasil não pode resultar em grandes e comprometedoras reduções nos orçamentos da ciência e tecnologia, sob risco de se aprofundar a própria crise. Talvez seja hora de essa lição ser levada a sério.
Se, em vários períodos de nossa história, tivéssemos investido como Japão, China e Coreia do Sul o fizeram no conhecimento, seríamos poupados de ter uma dependência econômica tão forte dos preços de commodities — baseada em produtos com pouco conteúdo tecnológico.
Em reunião recente com a diretoria da Faperj, com diretores da Finep e CNPq e com reitores das universidades estaduais, o governador Luiz Fernando Pezão se comprometeu a incluir a ciência, tecnologia e inovação no programa de recuperação do Rio. Nós, como membros da comunidade, nos comprometemos a envidar ainda mais esforços para que as universidades e institutos de excelência possam contribuir para a recuperação plena do desenvolvimento social e econômico do Rio. Para isso, temos que sair da situação de hospital de campanha para uma de ações continuadas de produção de conhecimento e inovação para a sociedade.
Jerson Lima Silva é professor da UFRJ e diretor científico da Faperj