ufpe_119_edit.jpgOs exercícios extras de tabuada recomendados diariamente pela mãe de Fágner Dias Araruna deram um resultado, talvez, maior do que o esperado por ela. O matemático graduado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é um dos cinco novos jovens cientistas que passam a fazer parte do quadro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2017, e permanecerão como membros afiliados até 2021.
Para Fágner, a ciência como carreira surgiu como uma opção natural. Ingressou na matemática ainda sem certeza do que poderia fazer nessa área e sem muita noção de suas possibilidades. “Quando ingressei na iniciação científica e comecei a ler os primeiros artigos, consegui compreender o quão vasta e poderosa era a matemática e como ela poderia agir como meio de transformação e criação”, conta.
Ainda que afinado com as equações, chegou a considerar outras opções. O Acadêmico conta que, na adolescência, sonhava em ser engenheiro, pois via na profissão um reconhecimento maior e uma gama variada de oportunidades. Mesmo já no curso de matemática, não descartava seguir para a segunda graduação e conseguir o tão sonhado diploma de engenheiro.
Uma matéria na grade do curso, no entanto, mudou seus planos. “Ao cursar uma disciplina chamada matemática elementar, que tratava de teoria de conjuntos, apaixonei-me pela abstração matemática e não mais me imaginei fora dela”, diz Fágner. “Comecei a ter a certeza que a matemática poderia me dar todas as oportunidades profissionais que almejava”, completa ele.
Já certo da área com a qual se identificava, a decisão por seguir carreira acadêmica veio logo depois. No terceiro período de faculdade, ele ingressou no projeto de iniciação científica (IC) e viu ali a oportunidade para a carreira acadêmica. Os anos de graduação, no entanto, não foram apenas de certezas. Fágner sentiu diretamente os impactos de uma educação básica falha e enfrentou dificuldades em algumas matérias do ciclo básico de graduação.
“Essas dificuldades eram uma consequência de um ensino secundário deficiente, até então comum nas pequenas cidades do sertão da Paraíba”, avalia Fágner. Para passar por essas disciplinas e conquistar o convite para o IC, o matemático precisou dedicar um esforço extra aos estudos.
O projeto de IC sobre equações diferenciais parciais e suas aplicações, orientado pelo professor Aldo Maciel, foi o primeiro passo de um caminho que se apresentou naturalmente. Ele seguiu para o mestrado, também pela UFPB e, em seguida, para o doutorado, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação do professor Luís Adauto Medeiros. Foi Medeiros quem lhe apresentou trabalhos sobre a teoria do controle, despertando em Fágner o interesse de fazer doutorado sanduíche na Universidade Autônoma de Madrid, na Espanha, com o professor Enrique Zuazua.
“O contato com o professor Zuazua me fez olhar para a matemática desde o ponto de vista das aplicações e perceber que é possível usar sua beleza, rigorosidade e poder como uma importante ferramenta no processo de inovação científica e tecnológica. Dei-me conta, ao defender minha tese, que ele e o professor Medeiros haviam aberto as portas do mundo para mim e eu deveria de fato aproveitar isso”, ressalta.
A pesquisa que Fágner conduz atualmente trata dos aspectos qualitativos e quantitativos de sistemas distribuídos. Estes sistemas são governados ou modelados por equações diferenciais parciais (EDPs) que evoluem com o tempo. As EDPs descrevem a dinâmica de muitos fenômenos naturais e tecnológicos, tais como propagação de ondas, transmissão de calor, dinâmica de estruturas e materiais, movimento de fluidos, entre outros. A pesquisa gerou contribuições relativas à Teoria de Controle de sistemas distribuídos.
“Controlar um sistema é fazer com que ele se mova em todo o seu espaço de configuração, usando apenas certas manipulações admissíveis, de modo a garantir que o mesmo tenha o comportamento desejado em determinado momento, com um menor custo possível”, explica Fágner. Os resultados obtidos por ele usam o Equilíbrio de Nash, teoria introduzida pelo matemático americano John Nash na teoria de jogos, no estudo da controlabilidade, em que os problemas mais realistas (multi-objetivos e não-cooperativos) são considerados.
Para Fágner, o aspecto cativante de trabalhar com ciência reside no fato de que é uma área criadora e transformadora, que permite beneficiar e melhorar a qualidade de vida da população. “A minha área de pesquisa, pela vasta aplicabilidade em fenômenos naturais e tecnológicos, enquadra-se plenamente nessa premissa da ciência”, defende ele.
O Acadêmico pretende aproveitar o espaço na ABC para divulgar a matemática como uma ciência aplicável e presente na vida das pessoas, além de estimular a formação de recursos humanos nas carreiras científicas. Fágner define a titulação da ABC como uma honra e ressalta: “É uma grande responsabilidade e uma confirmação que estou trilhando um caminho acadêmico correto.”