dsc04657.jpgCoordenadora do Programa de Coleções Científicas e Biológicas e vice-curadora da Coleção de Anfíbios e Répteis do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a bióloga Fernanda de Pinho Werneck é a mais nova afiliada da Regional Norte da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Vencedora do prêmio Internacional Rising Talents da LOréal-UnescoFor Women in Science de 2017 e do prêmio ABC-L´Oréal-Unesco “Para Mulheres na Ciência” de 2016, na área de ciências biológicas, ela se dedica a estudar a evolução da biodiversidade, com ênfase na variação genética e diversificação de anfíbios e répteis na América do Sul.
Nascida e criada em Brasília, Fernanda sempre teve oportunidade de brincar ao ar livre e viajar para regiões rurais, seja a lazer ou durante atividades escolares. A infância em meio à natureza foi importante para aguçar o interesse dela pela biologia e por temáticas ligadas ao meio ambiente, tendo contribuído na decisão de se tornar cientista.
Mas foi uma experiência especial, durante a graduação em biologia na Universidade de Brasília (UnB), que determinou de vez seu caminho como pesquisadora: um mês na floresta amazônica e no cerrado. “Lembro que logo que comecei a graduação já sabia que queria trabalhar com zoologia e, em especial, com anfíbios e répteis. Mas nos dois primeiros semestres não consegui estágio, pois ainda não tinha cursado as disciplinas obrigatórias da área”, conta Fernanda.
Decidida a conseguir um estágio mesmo sem ter realizado tais matérias, a jovem travou contato com o professor Guarino R. Colli, que veio a ser seu orientador, e disse que não precisava esperar para saber que era aquilo que queria: trabalhar com herpetologia (o estudo de répteis e anfíbios). “A insistência valeu a pena, porque ele então me aceitou no laboratório e logo embarcamos para meu primeiro grande trabalho de campo, um mês na floresta amazônica e regiões isoladas naturais de cerrado no estado de Rondônia. Foi uma experiência única e determinante na minha carreira”, relembra Fernanda.
Por meio de suas pesquisas, ela busca aumentar a consciência para a importância de se compreender e preservar a biodiversidade em seus múltiplos níveis – genes, populações, espécies, comunidades biológicas e ecossistemas. “As espécies são a unidade básica de inúmeros estudos e avaliações de conservação. No entanto, a diversidade de espécies de muitos grupos taxonômicos ainda é subestimada em muitas ordens de grandeza, particularmente na região neotropical, que é menos estudada. Isso leva ao cenário atual, no qual várias espécies e ecossistemas estão sendo perdidos antes mesmo de serem reconhecidos”, diz a cientista.
“Precisamos entender quantas espécies existem, suas distribuições geográficas, história evolutiva e variação genética, ocorrência de linhagens únicas, padrões de fluxo genético e potenciais adaptativos para melhor preservar e, em última instância, proteger a biodiversidade dos devastadores efeitos das mudanças climáticas e da perda de habitat“, defende a bióloga.
Para Fernanda, a eleição como membro afiliado da ABC e também os recentes prêmios da L Oréal indicam que ela está no caminho certo. “O titulo da ABC significa muito para mim, pois vem em reconhecimento ao trabalho que venho desenvolvendo ao longo dos últimos 15 anos, em diversas instituições no Brasil e no exterior”, avalia a pesquisadora. Ela acrescenta que a nomeação veio a renovar o ânimo para desenvolver pesquisas de qualidade e atuar na formação de recursos humanos. “Isto é especialmente necessário em momentos de crise, como o que estamos passando”, acrescenta ela.
Apesar de estar relativamente há pouco tempo na região Norte, desde 2013 quando assumiu o cargo de pesquisadora no Inpa, Fernanda acredita que poderá contribuir bastante para a pesquisa em evolução da biodiversidade e para a difusão do conhecimento na região. “Como membro afiliado da ABC pretendo interagir com pesquisadores mais experientes e contribuir para difundir questões relacionadas à evolução da biodiversidade, à importância de coleções científicas como repositórios da nossa diversidade, à carreira de pesquisador no Brasil e na Amazônia e à promoção e valorização do papel das mulheres na ciência”, afirma.