spena2_copia_edit.jpg“Não existem raças. Nossos genomas são todos iguais? Não, são todos igualmente diferentes”. Ainda impactado pelas manifestações de 19 de agosto em Boston (EUA), contra a onda de movimentos favoráveis à supremacia branca e o nazismo, o membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Sergio Danilo Junho Pena fez uma emocionante palestra na abertura da 1ª Conferência Internacional de Jovens Afiliados à Academia Mundial de Ciências (TYAN-TWAS), no dia 22 de agosto.

Com uma plateia formada por mais de 100 pesquisadores de 32 países da América Latina, África e Ásia, o geneticista e professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) defendeu que as pesquisas na área de biologia e genética já comprovaram que a humanidade pertence a uma única família. As teorias de supremacia racial, portanto, não encontram sustentação científica.

“Na perspectiva biológica, diversos estudos têm mostrado que não existe uma diferença significativa entre os grupos humanos. Do ponto de vista científico, as raças humanas não existem”, declarou ele. “Não somos todos iguais, somos diferentes. Mas somos igualmente diferentes. A diferença entre um chinês e um brasileiro é de menos de 5%”, exemplificou o pesquisador.

De acordo com Pena, o desenvolvimento dos estudos sobre a diversidade do genoma humano tem mostrado que a humanidade teve sua origem no continente africano. Há 60 mil anos, os homens teriam emigrado da África e ocupado os outros continentes. Nesse processo de migração, ocorreram mutações e variabilidades genéticas que permitiram a adaptação a diferentes climas e ambientes dos cinco continentes.

“O genoma humano tem aproximadamente 20 mil genes. Provavelmente, menos de 20 desses genes estão relacionados à determinação da cor da pele. Esta, por sua vez, não está associada geneticamente com as habilidades intelectuais, físicas e emocionais. Esses são argumentos usados por racistas e não têm nenhuma relação com valores científicos”, frisou Pena. Os diversos tons de pele, em sua avaliação, estão relacionados com a localização “A maior quantidade de melanina na pele corresponde a grupos que se desenvolveram em regiões com maior incidência de raios UV”, explicou. “Como os humanos surgiram na África, então os brancos são apenas despigmentados”.

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O geneticista mostrou ainda que o pequeno número de genes associados à cor da pele faz com que seja possível a existência de parentes próximos, até mesmo irmãos, com diferenças significativas de pigmentação da pele, mas com idênticos níveis de ancestralidade africana. “A genética tem nos revelado que a variabilidade racial dentro das populações é muito maior do que entre os continentes”, disse.

Por meio de cálculos bastante elaborados, Pena demonstrou ainda a impossibilidade da existência de um ancestral puro para cada um dos povos que habitam o mundo. “Se você andar numa cidade e encontrar uma pessoa, você tem 3.000 anos depois de Cristo, ou 169 gerações de probabilidade de ter o mesmo ancestral”, explicou Pena. “Somos uma família. Todos somos diferentes e iguais ao mesmo tempo”, defendeu o pesquisador.

Para o Acadêmico, a única ideia aceitável do ponto de vista da ciência é a de que temos um único genoma, mas singulares histórias de vida. “Temos que criar uma sociedade sem raças, na qual a singularidade do indivíduo é valorizada e celebrada”, afirmou ele, sob calorosa salva de palmas.