A última sessão da 1ª Conferência Internacional da Rede de Jovens Afiliados à Academia Mundial de Ciências (TWAS, na sigla em inglês), que aconteceu nos dias 22 a 24 de agosto, em Copacabana, Rio de Janeiro, foi dedicada à comunicação científica e à diplomacia.
Em mundo globalizado e cada vez mais conectado, o cientista precisa, também, ter sua atuação voltada para o global. Essa foi a mensagem passada pelos palestrantes da sessão: a pesquisadora visitante da Universidade de Nottingham (GB) em missão do Ministério da Saúde, Maria Augusta Arruda; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich; e a química egípcia Amal Amin, o biólogo turco Yusuf Baran e a química paquistanesa Almas Taj Awan.
Ciência para Diplomacia, Diplomacia para Ciência
Ganhadora do prêmio ABC-LOréal-Unesco Brasil para Mulheres na Ciência 2008, a farmacologista brasileira Maria Augusta Arruda (Farmanguinhos/Fiocruz e Universidade de Nottingham) fez curso técnico em biotecnologia na então Escola Técnica Federal de Química, que hoje é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
Maria Augusta cursou bacharelado e doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), tendo iniciado seus estudos universitários ao mesmo tempo em que ingressou no serviço público como biotecnologista na mesma instituição, aos 19 anos.
A pesquisadora lembrou que aquela terceira semana de agosto poderia ser chamada de Semana da Diplomacia Científica, pois ocorriam simultaneamente a 1ª Conferência da TYAN, a 4ª Edição do Curso de Diplomacia Científica – uma iniciativa conjunta da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) e TWAS e o lançamento do primeiro Curso Online de Diplomacia Cientifica da AAAS. Defendendo a premissa de que “todo cientista é um diplomata”, ela contou um pouco da sua trajetória.
Seu despertar para os temas relacionados à diplomacia científica ocorreu quando percebeu a necessidade imperiosa de capacitar jovens pesquisadores no campo de descoberta de novos fármacos, a partir de redes de colaboração internacionais. “É fundamental fomentar a independência do Brasil nesta área, uma questão de soberania e influência regional”, destacou a pesquisadora. Ela percebeu, por tentativa e erro, que tais iniciativas dependem de um entendimento profundo dos interesses e necessidades dos muitos atores envolvidos, com o estabelecimento de uma comunicação universal, clara, precisa e envolvente. “E o mais importante: estabelecer confiabilidade. Curiosamente, esses também são características básicas da diplomacia”, observou Maria Augusta.
Os eixos da diplomacia científica se interconectam. Mas, para fins didáticos, ela se divide em:
• Ciência em Diplomacia: quando a comunidade cientifica instrui governos e outras instituições com orientações que demandam uma resposta global. As questões referentes a mudanças climáticas, segurança alimentar e desarmamento nuclear sao alguns exemplos.
• Diplomacia para Ciência: quando instrumentos diplomáticos, como acordos de cooperação e tratados – fomentam a colaboração de cientistas de diferentes partes do globo, alavancando assim o progresso da ciência. São exemplos de diplomacia para ciência o Programa Ciência sem Fronteiras e a Base Internacional de Estudos na Antártida.
• Ciência para Diplomacia: quando a interação entre cientistas fomenta avanços no campo diplomático. O Centro Internacional de Fisica Teorica, criado pelo Premio Nobel de Física Abdus Salam – que também foi o fundador da TWAS -, teve um papel de destaque em estreitar os laços entre cientistas do bloco soviético com seus pares no Ocidente, possibilitando a aproximação destas nações em nível diplomático. Um exemplo mais recente é a colaboração entre cientistas americanos e cubanos, que promoveram o estabelecimento da primeira missão diplomática americana em Cuba desde a revolução comunista.
O êxito nestas três áreas, segundo Maria Augusta, depende diretamente da capacidade dos cientistas envolvidos de se comunicarem de modo verdadeiro, cativante e efetivo. Essa é a chave para estabelecer um canal de comunicação contínuo e robusto com os diferentes interlocutores, sejam eles alunos, pares, gestores de políticas públicas ou governantes, como prega a publicação da AAAS “Connecting Science to Policy Around the World”, e o projeto Story Collider, que visa facilitar o entendimento da vivência em ciência a partir de uma perspectiva pessoal.
O conflito do cientista em abraçar a diplomacia vem do fato desta atividade, tao antiga quanto a própria Humanidade, ter uma reputação duvidosa, como eloquentemente colocado pelo diplomata e político inglês Sir Henry Wotton, no início do século XVII: “Um embaixador é um homem honesto enviado ao exterior para mentir pelo bem do seu país”. A ciência resolve este problema uma vez que, como bem colocado pelo biólogo norte-americano Gregory Stone, “estabelece regras para não mentirmos uns para os outros”.
“Os problemas que afligem as sociedades nos dias de hoje são, em sua grande maioria, globais”, ressaltou a palestrante. “Os países em desenvolvimento têm pressa e não podem repetir os mesmos erros cometidos pelas nações mais prósperas no passado, gerando uma sociedade global desigual e doente”, acentuou. Na visão da pesquisadora, somente a diplomacia cientifica, exercitada através da comunicação efetiva, pode estimular uma cooperação que siga os passos de Abdus Salam. “ Assim talvez possamos ajudar a criar uma sociedade mais justa, saudável e feliz, por meio do progresso da ciência”, finalizou Maria Augusta Arruda.
Ciência, políticas e governança: inventando o futuro
O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Luiz Davidovich, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) começou sua palestra mostrando o globo terrestre azul, visto à distância. À medida em que vamos nos aproximando, percebemos uma concentração de luzes em poucas regiões do planeta. A impressão, segundo o físico, é que só há vida nestas regiões iluminadas. Mas, de fato, não é assim.
Davidovich mostrou que a concentração de luzes corresponde ao maior consumo de energia, de água, de emissão per capita de CO2, enquanto as regiões escuras exibem altos índices de insegurança alimentar e de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia – considerado o corte para a linha de pobreza. É, portanto, a marca da desigualdade.
Em sua visão, essas questões são os grandes desafios para a ciência hoje. O suprimento de alimentos, água, energia e saneamento para todos os habitantes do planeta; o envelhecimento e as doenças relacionadas; as mudanças climáticas e a poluição do ar; os desastres naturais; o uso sustentável da biodiversidade; a educação de qualidade para todos. “Estas são questões éticas. É a responsabilidade que todos nós temos com a inclusão social e a redução das desigualdades.”
Ele citou algumas instituições e iniciativas que envolvem diplomacia científica para o desenvolvimento sustentável, como a Rede Mundial de Academias de CIências (IAP, na sigla em inglês), a Unesco, a Organização Israel-Palestina de Ciências (IPSO, na sigla em inglês), o Conselho Internacional para Ciência (ICSU, na sigla em inglês ), o Conselho InterAcademias (IAC, na sigla em inglês), a Rede InterAmericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês), a Academia Mundial de Ciências (TWAS), entre outras.
No Brasil, Davidovich referiu-se à 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI), realizada em 2010 e coordenada por ele. “Foi um evento que realmente integrou a ciência e a sociedade, com participação de acadêmicos, empresários, representantes do governo, sindicatos e movimentos sociais. Foram 4.000 participantes nos três dias, com mais de 40.000 acessos pela internet”, destacou. “E gerou um excelente documento com recomendações: o Livro Azul“.
Quanto à colaboração científica na América Latina e Caribe, Davidovich ressaltou aspectos positivos e negativos. “A região tem imensas bacias hidrográficas e a maior biodiversidade do mundo. Deveríamos ter laboratórios multiuso, um ambiente de internet aberta, novos mecanismos de financiamento para colaboração regional e leis nacionais facilitando esta interface, com menos burocracia. Por outro lado, a desigualdade social é imensa, assim como a vulnerabilidade a desastres naturais, um número pequeno de acadêmicos, sistemas educacionais deficientes e exportações centradas em ‘commodities’.”
Para ampliarmos as perspectivas de futuro para a região, algumas ações têm que ser priorizadas, de acordo com o palestrante. Dentre elas, a formação de recursos humanos deve ser encarada como uma responsabilidade regional e global; as bibliotecas digitais devem ter acesso aberto; deve haver incentivo para a formação de redes virtuais de excelência, integrando talentos científicos de todas as regiões e com abordagem multidisciplinar. A educação, inclusive, deve ter caráter multidisciplinar, indo além da escola. “Também vejo a necessidade da criação de mais mecanismos globais que fortaleçam a ciência e tecnologia nos países em desenvolvimento, inclusive apoiando a criação de centros de excelência e laboratórios multiuso de caráter regional”, frisou Davidovich.
Um bom exemplo de diplomacia científica, a seu ver, foi a criação do laboratório de Luz Sincrotron do Oriente Médio para Ciência Experimental e Aplicações (Sesame, na sigla em inglês), um projeto científico multimilionário construído em Amã, capital da Jordânia. “Cada um dos quatro países parceiros – Israel, Irã, Jordânia e Turquia – investiu 5 milhões de dólares na construção das instalações, que são de uso comum. Isto é, de fato, usar a ciência para promover e estimular a paz entre os povos”, ressaltou.
Outro exemplo apresentado pelo palestrante foi um episódio ocorrido nos anos 80, quando surgiu uma desconfiança de que os militares brasileiros e argentinos estivessem envolvidos numa corrida armamentista. “A Sociedade Brasileira de Física e a Associação Argentina de Física assinaram um documento manifestando-se contra a produção de armas nucleares e a corrida armamentista entre os dois países, assim como reivindicando a transparência da pesquisa na área e o controle mútuo de plantas nucleares.”
Davidovich citou trechos do livro “Inventando um futuro melhor”, produzido pelo Conselho InterAcademias (IAC, na sigla em inglês) em 2004 e organizado pelo então vice-presidente da ABC, Jacob Palis. Um deles destaca: “Ciência não é apenas uma cultura de dimensões globais por si, ela induz uma corrente cultural que afeta forte e positivamente a sociedade em que ela se desenvolve. E nestas se incluem aquelas que estão devastadas pela pobreza e pela fome, destroçadas por conflitos civis e afundadas em crises fiscais.” O outro trecho diz que “a cultura da ciência e os valores abertos e honestos que ela promove são imensamente importantes, acima e além dos benefícios materiais que ajudam a garantir o bem estar da humanidade.”
O presidente da ABC afirmou, por fim, que a paixão pela ciência é recorrente na humanidade e revoluciona o cotidiano das pessoas, afeta a organização social, os modos e os costumes. E encerrou com uma frase do físico Brian Greene: “É um direito de toda criança e uma necessidade para todo adulto olhar para o mundo e ver que a grandeza do cosmos transcende tudo que nos divide.”
“Quanto mais papel e tinta, menos sangue, armas e balas”
Nascido e formado na Turquia, o biólogo Yusuf Baran fez doutorado-sanduíche no Centro de Câncer Hollings da Universidade Médica da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e recebeu muitos prêmios por sua pesquisa de excelência, voltada para a biologia molecular do câncer e a resistência multidrogas. Foi eleito membro afiliado da TWAS em 2016, onde integra o grupo de Diplomacia Científica, assim como o da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), dos EUA. É membro dos comitês executivos da Academia Jovem Global (GYA, na sigla em inglês) e da TYAN. É membro fundador da Academia de Engenharia e Tecnologia do Mundo em Desenvolvimento; membro da Associação Mundial de Jovens Cientistas (WAYS, na sigla em inglês) da Unesco e do Programa de Jovens Cientistas do Fórum Econômico Mundial. Desde 2015, é professor titular do Departamento de Genética e Biologia Molecular da Universidade Abdullah Gul, em Kayseri, na Turquia.
Baran vê a ciência como apolítica, tratando de temas de grande importância para todas as sociedades. “A diplomacia científica é o uso das colaborações internacionais para destacar problemas comuns e desenvolver parcerias internacionais construtivas, conectando ciência e relações exteriores, política externa e geopolítica em nível multilateral”, afirmou.
Para o biólogo, a diplomacia científica é hoje mais importante do que nunca. Ela pode contribuir para resolver os maiores desafios da globalização, como as mudanças climáticas, pandemias, desastres naturais, proliferação nuclear, segurança cibernética, construção de conhecimento científico e tecnologias inovadoras. Também é útil na perspectiva de alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável (SDG, na sigla em inglês) na agenda 2030, assim como colabora para a harmonização das relações internacionais. “A natureza universal da ciência e da pesquisa, assim como a velocidade das mudanças e da expansão, favorecida pelo desenvolvimento de novas tecnologias, oferece oportunidades de trabalho em equipe num espírito de solidariedade com outros países”, destacou Baran.
Ele também crê que a diplomacia científica é um instrumento de soft power e integração de países. “É um dos elementos mais relevantes e reconhecidos na área de diplomacia pública hoje em dia”, afirmou. “Ela garante uma estrutura favorável à competitividade das empresas e sua liderança internacional, num contexto de inovações abertas, através do investimento em recursos e cooperações com os melhores parceiros do mundo.”
A ciência não pode resolver todos os problemas do mundo, mas pode abrir caminho e promover uma plataforma de comunicação entre cientistas, diplomatas e formuladores de políticas públicas. Baran considera que pesquisadores e professores tem a missão de encarar os problemas do mundo e encontrar soluções. “Os obstáculos não podem nos deter. Temos responsabilidade em relação às nossas crianças e às futuras gerações de fazer deste mundo um lugar melhor”, afirmou.
Um dos líderes do programa de diplomacia científica na Turquia, já tendo representado o país diversas vezes, nos mais variados eventos internacionais. Baran diz que “se você quer reduzir a tensão em qualquer lugar do mundo, a diplomacia científica pode ajudar”.
O palestrante mostrou foto da ponte do Bósforo, que marca a fronteira entre a Bulgária, no continente europeu, e a Turquia, no continente asiático. “Comunicação científica requer auto-confiança, clareza, simplicidade, persistência, habilidade para contar histórias de sucesso e paciência, porque leva tempo. Mas nosso objetivo principal é conectar a Turquia com o mundo através da ciência e dos cientistas.”
Ele ressaltou a importância da diplomacia científica num mundo dividido entre os hemisférios norte e sul, Oriente e Ocidente, com uma lacuna profunda entre ricos e pobres, entre os altamente educados e os analfabetos. “Acredito que a ciência é uma linguagem universal que se sobrepõe à nacionalidades, etnias e religiões. A ciência pode aparar arestas e eliminar obstáculo. A linguagem da ciência tem um propósito nobre, e estou grato pelo fato de que todos nós falamos essa língua.”
Empoderamento das sociedades através da ciência
A química egípcia Amal Amin é professora associada do Departamento de Polímeros e Pigmentos e líder do grupo de pesquisa em polímeros nano estruturados no Centro de Pesquisa Nacional do Egito, situado no Cairo. Representou o Egito em diversos eventos internacionais e trabalhou nos EUA, França e Alemanha, liderando diversos projetos de pesquisa.
É uma das fundadoras da Academia Jovem Global (GYA, na sigla em inglês) criada em Berlim no ano de 2010. Atuou nos três primeiros anos no Comitê Executivo e hoje lidera o grupo de Mulheres na Ciência. Também é cofundadora da Academia Jovem de Ciências do Egito (EYAS, na sigla em inglês). É fundadora e presidente da Sociedade Egípcia de Materiais Avançados e Nanotecnologia, assim como da Rede Árabe de Ciência e Nanotecnologia de Materiais. Foi eleita Jovem Afiliado da TWAS para o período 2010-2014. Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais e dedica-se, também, à educação e comunicação científica.
O movimento de criação de Academias Jovens começou na Alemanha, com a criação da Junge Akademie em 2000. Em 2004, a Associação Mundial de Jovens Cientistas (WAYS, na sigla em inglês) foi criada com o apoio da Unesco, a Organização Educacional, Científica e Cultural Islâmica (Isesco, na sigla em inglês), a TWAS e o Ministério de Educação Nacional do Marrocos, reunindo 120 jovens cientistas de 90 países, em Marrakesh. Hoje, existem 22 Academias Jovens, assim como outras iniciativas para empoderar jovens cientistas no meio da carreira, promovendo excelência científica e práticas colaborativas.
Em 2008, a Rede Global de Academias de Ciências (IAP) lançou seu programa de Jovens Cientistas e publicaram um documento intitulado Paixão pela Ciência e Paixão por um Mundo Melhor, no qual consta a declaração: “Como jovens cientistas dos cinco continentes, nós somos apaixonados pela ciência e por sua contribuição para um mundo melhor. Nós queremos ampliar a contribuição que podemos dar à ciência e a que a ciência pode dar à sociedade.”
Em 2009, 40 jovens cientistas reunidos no Fórum Econômico Mundial para Novos Campeões (Summer Davos) decidiram fundar a GYA, o que se concretizou em fevereiro de 2010, em Berlim. Entre suas prioridades está a promoção da interação entre ciência e sociedade, a melhoria da educação científica, a pesquisa multidisciplinar voltada para problemas globais e o apoio a cientistas em início ou meio de carreira.
Na prática, o alcance destes objetivos envolve o desenvolvimento de uma rede global de uma liderança científica jovem, que assumam posicionamentos por meio de publicações, ofereçam consultoria para instituições internacionais, comprometam-se com atividades e pesquisas e apoiem a criação de novas Academias Jovens. “A GYA hoje envolve 200 jovens cientistas, que representam quase todas as regiões do mundo”, relatou Amal. Ela informou que o critério de seleção para candidatos a membros da GYA envolve excelência científica, comprometimento com a causa e a perspectiva de liderança científica nos próximos cinco a dez anos.
“Uma Academia Jovem evita a fuga de cérebros, estimula a cooperação internacional e dá aos cientistas jovens oportunidade de interagir com pesquisadores seniores, empresários, formuladores de políticas públicas”, ressaltou a química. “Eles passam a entender como funcionam os processos decisórios para políticas públicas, por exemplo, o que os habilita para uma liderança efetiva, nos anos vindouros, em iniciativas relacionadas com o desenvolvimento sustentável, melhoria do ambiente científico nos países em desenvolvimento, questões de gênero em ciência e outros temas relacionados à CT&I e educação.”
Amal conta que a EYAS vem mostrando ser um empreendimento bem-sucedido. Ela descreveu a boa repercussão de suas atividades, que começaram com contação de histórias voltadas para explicar a prática científica e conceitos de ciência para estudantes de ensino básico em áreas rurais. “No Egito, os jovens são 60% da população. Os membros da EYAS estão sendo preparados para desempenhar um papel vital no planejamento e gerenciamento da estratégia nacional de educação, ciência, tecnologia e inovação.”
Ela participou da 1ª Conferência Global de Consultoria Científica para Governos, realizada na Nova Zelândia, em 2014, organizada pela Rede Internacional para Consultoria Científica a Governos (INGSA, na sigla em inglês). Ela explicou que na área da diplomacia científica, os seminários da TWAS – AAAS ocorrem anualmente e procuram reunir a comunidade científica com a comunidade diplomática e de formuladores de políticas para discutir estratégias de desenvolvimento. “Desafios globais requerem colaboração científica. Nenhum país pode resolver nada sozinho. Nenhum país deve desejar resolver nada sozinho”, ressaltou a pesquisadora.
Amal Amin finalizou sua participação com uma frase de Albert Einstein: “Educação não é o aprendizado dos fatos, mas o treinamento da mente para pensar.”
“A ciência constrói pontes entre nações”
A química paquistanesa Almas Taj Awan (UFScar) obteve sua graduação e mestrado pela Universidade de Peshawar. Trabalhou por quatro anos em rádio e TV e foi professora de química na Escola de Cambridge.
Mudou-se para o Brasil para fazer doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp). Chegou sem saber nada da língua portuguesa. Seu projeto de doutorado foi sobre o processo de obtenção de bioetanol, esperidina e nanocelulose a partir do bagaço da laranja. Por conta da tese, publicou artigo e registrou patente sobre enzimas de baixo custo desenvolvidas a partir de resíduos agroindustriais e suas aplicações no setor de bioenergia, junto com os pesquisadores Ljubica Tasiuc e Junko Tsukamoto.
Completou o doutorado em 2013 e partiu para estágios de pós-doutorado – um no laboratório ThoMSon da Unicamp e outro na Universidade Federal de São Carlos (UFScar), onde pesquisou com os professores Pedro Sérgio Fadini e Antonio Mozeto a distribuição espaço-temporal de nutrientes e contaminantes em amostras de água e sedimentos no rio Monjolinho, em São Carlos, um recurso afetado por descarga de esgoto sanitário e agrícola. Hoje ela é professora da UFSCar e pesquisadora colaboradora do Laboratório ThoMSon, Unicamp.
Almas sempre se preocupou em pensar fora da caixa e refletia sobre o impacto social das pesquisas feitas nos laboratórios de modo geral. Tinha interesse em empreendedorismo, na interface entre ciência e políticas públicas, no trabalho em organizações sociais, em diplomacia científica e em comunicação de ciência para o público através das mídias eletrônicas.
Fora da universidade, ela atua como membro da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), dos EUA; integra o Comitê Executivo da Academia Jovem Global (GYA, na sigla em inglês), para a qual foi eleita no período de 2016 a 2021. “O grupo de diplomacia científica da GYA atua, no momento, com temas relacionados à paz mundial, como um projeto sobre a crise dos refugiados e a abertura das várias áreas de pesquisa do Irã para colaborações científicas internacionais”, explicou Almas.
Ela também participa de uma inciativa chamada Smart Villages, um programa de engajamento comunitário subsidiado pela Universidade de Oxford que envolve segurança alimentar, educação, negócios locais, saúde e bem-estar. Na Academia Nacional de Jovens Cientistas (NAYS, na sigla em inglês) do Paquistão, Almas atuou em educação científica para jovens.
Almas diz que a diplomacia científica toma muitas formas. “Quando países se reúnem para negociar acordos de cooperação em regiões de pesca internacional ou monitoramento de doenças infecciosas, por exemplo, precisam de assessoria científica. Quando cientistas se juntam em complexos projetos multinacionais em astronomia ou física, é porque seus países promoveram acordos, gerenciamento e financiamento. E quando as relações políticas entre países estão estremecidas, esforços de pesquisa conjuntos são uma forma de continuar conversando e, eventualmente, recompor a confiança mútua.”
Hoje, a necessidade de diplomacia científica está crescendo. “A ciência constrói pontes entre países e a promoção de cooperação científica é um elemento essencial da política externa das nações. É um fórum de reflexão e análise para o início de atividades bilaterais, como programas de intercâmbio de estudantes, de ‘embaixadores’ da ciência, de construção da paz mundial ”, disse Almas.
A química encerrou sua apresentação com uma frase de Gandhi: “Seja a mudança que você deseja ver no mundo.”