A expansão quantitativa da pós-graduação foi um componente expressivo da educação brasileira nos tempos recentes, com o aumento do número de mestres e doutores e o crescimento da publicação de artigos em revistas internacionais especializadas. Mas sempre havia a ressalva de que a qualidade não acompanhava a quantidade. Tomando-se como referência os indicadores de qualidade normatizados nas bases Scopus e Web of Science, a curva do desempenho do país, com a Universidade de São Paulo (USP) à frente, manteve-se, por décadas, na faixa de 80% a 90% da média mundial.
O cenário mudou nos últimos três anos, quando a curva de desempenho da USP, puxando atrás de si a curva brasileira, ultrapassou a média mundial. “Cruzamos o Cabo das Tormentas, o Cabo da Boa Esperança”, comentou o pró-reitor de pós-graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Jr. O comentário – durante uma apresentação sobre o já realizado pela universidade e o que se pretende realizar – foi feito por Carlotti no evento de assinatura do memorando de entendimento USP-Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para adoção do Graduate Record Examination (GRE) como instrumento de seleção de alunos para os cursos de pós-graduação.
O memorando foi assinado, em 17 de agosto, por Marco Antonio Zago, reitor da USP e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), e Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da Fapesp e ex-presidente da ABC (1993-2007).
O GRE é um exame de proficiência que avalia a capacitação do candidato para ingresso em diferentes tipos de cursos e seu potencial de sucesso. O teste é aplicado em mais de 160 países. E, no rol das melhores instituições de ensino superior do mundo, é adotado, por exemplo, pela Harvard University e pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.
O exame propõe-se avaliar habilidades como raciocínio verbal, raciocínio quantitativo e escrita analítica. Na primeira rodada de aplicação, 48 programas de pós-graduação da USP utilizarão as notas obtidas no GRE como parte do processo seletivo. A essa triagem básica, serão acrescentadas avaliações próprias de cada curso, como prova específica e análise de currículo, entre outras.
A Fapesp disponibilizará 30 bolsas, na modalidade Doutorado Direto, para os candidatos, de quaisquer áreas, que, submetidos ao GRE e à avaliação específica, obtiverem a maior pontuação. Seus orientadores deverão ser Pesquisadores Responsáveis ou Pesquisadores Principais em modalidades de auxílio apoiados pela Fapesp que incluam a concessão de Bolsas como Item Orçamentário (BCO).
O que se espera é que a iniciativa não apenas contribua para a qualificação dos alunos brasileiros, mas também atraia para o país estudantes de outras nacionalidades. A adoção de um exame de padrão internacional faz parte do esforço de internacionalização da Universidade de São Paulo, em sintonia com o que ocorre nas principais instituições de ensino superior do mundo. Para acolher alunos estrangeiros, a USP já oferece 121 disciplinas em língua inglesa. E a expectativa é não apenas aumentar o número de cursos em inglês, mas também disponibilizar cursos em espanhol e francês.
“O que faz uma pós-graduação ser boa, no nível das melhores do mundo, é ter alunos excelentes. Este é o primeiro requisito. Ótimos professores e ótima infraestrutura vêm em seguida. Em primeiro lugar, vêm os alunos. E a Universidade de São Paulo já tem muitos alunos brilhantes na pós-graduação. Mas percebeu que precisa buscar mais – tanto dentro quanto fora do país. Buscar alunos excelentes para os cursos de pós-graduação onde quer que eles estejam”, comentou o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, presente no evento de assinatura do memorando.
“Esta iniciativa tornará a Universidade de São Paulo mais internacional, mais sintonizada com o resto do mundo, o que deverá trazer muito bons resultados não só para a própria USP como para todo o sistema de pesquisa paulista”, acrescentou.