Em artigo publicado no início de junho no blog “trade secrets”, da Nature Biotechnology, o Acadêmico Luiz Antonio Barreto de Castro faz uma reflexão sobre os investimentos públicos e privadas em ciência, tecnologia e inovação no Brasil e os compara com o exterior. Ele chama a atenção para o fato de que o Brasil destinou cerca de US$ 25 bilhões em investimentos públicos e privados para ciência e tecnologia, no ano de 2013, mas deveria investir até duas vezes mais que esse valor.
Nos Estados Unidos, segundo o pesquisador, os investimentos chegam a ser 16 vezes maiores quando comparados ao Brasil. Barreto ressalta, no entanto, que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos é apenas oito vezes maior do que o do Brasil. Quando compara-se o PIB do Brasil e do Canadá, que seria aproximados, segundo o acadêmico, percebe-se que o Canadá investe 10 vezes mais em ciência e tecnologia do que o Brasil.
Para Barreto de Castro, o setor privado brasileiro deveria investir em ciência e tecnologia duas vezes mais do que o setor público. “Uma realidade que se observa na maioria dos países desenvolvidos”, diz ele. “Por que o setor privado está tão atrasado no Brasil?”, questiona o pesquisador. Para o acadêmico, o país precisaria de um
programa público de incentivo à inovação pela iniciativa privada, assim como os Estados Unidos têm com o SBIR – Small Business Innovation Research grants. O programa investe anualmente US$5 bilhões, embora o capital de risco do setor privado nos EUA seja de US$ 40 bilhões por ano.
Barreto de Castro ressalta que a crise política no Brasil tem piorado a crise econômica. Uma crise que, segundo ele, pode vir a ser a pior da nossa história. O acadêmico apresenta um panorama dos últimos escândalos desencadeados com a Operação Lava a Jato da Polícia Federal, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o, provável, impeachment de Michel Temer. Ele enfatiza ainda os esforços conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para reduzir a corrupção no Brasil.
O pesquisador afirma que nesse contexto bastante tenso, os recursos públicos esperados para investimento em ciência e tecnologia são da ordem de US$ 13,5 bilhões. Para Barreto de Castro, o setor privado poderia contribuir para a ciência e a tecnologia, “em vez de alimentar a corrupção”. Segundo ele, o único setor que tem recebido investimentos privados é a agricultura, que tem se mantido em bons momentos. “O Brasil conseguiu dobrar a sua produção de grãos em 20 anos”, ressalta.
O acadêmico dá destaque ainda para a triste situação vivida pela ciência do Rio de Janeiro, a segunda maior economia do país. Com a crise, os programas públicos reduziram seus investimentos e salários e bolsas de estudo a estudantes e pesquisadores não têm sido pagos com regularidade. A consequência dessa situação, segundo aponta Castro, é a fuga de cérebros do Brasil.
Para o cientista, a maioria da população brasileira ainda não entende a importância da ciência e da tecnologia. Segundo ele, a sociedade não compreende que a ciência e a tecnologia são capazes de melhorar a longevidade dos brasileiros, que pode chegar aos 75 anos. A falta de visão quanto à importância da ciência e da tecnologia também acomete os políticos. “Cortar investimentos em ciência e tecnologia é como comer sementes, em vez de plantá-las”, ressalta o acadêmico. Para ele, com investimentos em ciência e tecnologia inferiores a 1,5% do PIB no Brasil, a economia global não vai se beneficiar desses cortes.
A íntegra do artigo em inglês está disponível aqui.