Eles são bons nisso
adalberto_val_edit-2.jpgNum dos capítulos recentes da novela global, um dos personagens, ao se referir à patroa viciada em jogos que sempre dá explicações estapafúrdias ao marido sobre seus atos inacreditáveis, diz “ela é muito boa nisso” referindo-se à tamanha capacidade dela de fazer-se acreditar perante o marido. A expressão “ela é muito boa nisso” chamou-me atenção. Seja “ela muito boa nisso”, seja o marido dela um aceita-tudo, a situação guarda uma forte relação como nosso cotidiano. Será que os nossos dirigentes são bons em construir explicações convincentes ou será que nossa sociedade aceita passivamente as explicações fornecidas a cada dia para cada fato perturbador? Qualquer que seja a nossa resposta a essa questão, penso que precisamos “despertar”, se quisermos mudar e construir uma nação mais justa, na qual os impostos, oriundos do trabalho do povo desta nação, sejam utilizados para construir uma sociedade mais inclusiva, com menos desequilíbrios sociais.
Vemos nos quatro cantos do país o enorme desastre em que se encontra o atendimento às pessoas que precisam de atenção médica, por exemplo. Isso inclui desde recém-nascidos mantidos em caixas de papelão, devido à “falta” de berços térmicos adequados, até pessoas com doenças muito graves, espalhadas por corredores sem manutenção. Pior, em muitos casos, a desatenção acaba ampliando a contaminação de outras pessoas que procuram atenção médica.
Os recursos que deveriam ser direcionados a essa atividade simplesmente desaparecem em algum buraco negro, em malas e mochilas, espalhados no mundo.
Detectado o desaparecimento e identificados os responsáveis, inventa-se um conjunto de explicações em todos os níveis, a começar pelos implicados que dizem que nunca fizeram nada e que a história é inventada, e terminando, em alguma instância, com a explicação de que as provas não são substanciais ou não foram incluídas antecipadamente no processo. Todos “eles e elas são bons nisso”, isto é, nas explicações, ainda que em muitos casos as explicações estejam repletas de contradições. De nosso lado, aceitamos e convivemos as explicações. Como consequência, o dia-a-dia se deteriora, mais malas aparecem (ou desaparecem!) e a saúde continua agonizando.
O exemplo da saúde é emblemático e seguem-se a este, outras atividades que requerem a ação do estado e encontram-se em igual situação de falência. Boa parte dos reveses não será recuperado, como é o caso da Educação e da Ciência e Tecnologia. Um ano com ações equivocadas na educação tem efeitos longínquos, amplos e diversos, em todas as áreas do conhecimento, mas é a educação básica, fundamental, que mais faz sofrer a sociedade. Na Ciência e Tecnologia, perdemos a posição e o respeito conquistados, laboratórios são desarticulados, a capacitação em nível de pós-graduação sofre atrasos diversos por falta de recursos para os experimentos, estações experimentais de grande porte são paralisadas e a proteção de nossos principais predicados, como a biodiversidade, a Amazônia, o mar territorial, que se faz por meio do conhecimento, definha.
Tenho absoluta certeza que médicos, educadores e cientistas podem ser muitos bons no que fazem e retomar e corrigir rumos. Para isso é preciso que todos os dirigentes sejam “muito bons no que fazem” considerando apenas os interesses sociais da nação brasileira.