Professor e diretor do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Nupem-UFRJ) campus Macaé, Rodrigo Nunes da Fonseca foi atraído para o universo da pesquisa por meio do Programa de Vocação Científica da Fiocruz, um convênio com o Colégio Pedro II. Foi dentro do laboratório que ele encontrou sua segunda casa. Hoje, Rodrigo estuda a vida dos insetos causadores de doença, como o vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti, às pragas agrícolas, como o besouro da farinha.

Mas seu interesse vai muito além do comum. Rodrigo conta que tem um olhar direcionado para o estudo da biologia evolutiva desses animaizinhos, tendo interesse em entender como os genes e o ambiente se modificaram ao longo do tempo. Esta nova área da ciência é chamada de biologia evolutiva do desenvolvimento (Evo-Devo) e engloba conhecimentos bastante diversos como evolução, embriologia, paleontologia e biologia molecular, dentre outras áreas. O objetivo é entender quanto os genes e o ambiente influenciaram um ao outro, de modo a alcançarmos essa extensa diversidade morfológica existente atualmente entre os artrópodes”, diz Rodrigo. Os artrópodes são animais com várias pernas e um esqueleto externo rígido, como os carrapatos, as aranhas, os escorpiões, os besouros, as borboletas, as moscas. “Dentre as perguntas que buscamos responder atualmente estão: Como a fêmea do inseto prepara os seus ovos para se desenvolverem no processo chamado de ovogênese? Como o processo de ovogênese influencia o que vem logo após, a embriogênese, após a junção do ovócito e do espermatozóide? Como as diferentes vias de sinalização moleculares que atuam durante a embriogênese atuam na padronização dos eixos embrionários e das camadas germinativas em artrópodes?”, esclarece Rodrigo.

Segundo o especialista, no Brasil existem menos de dez grupos de pesquisa na área, enquanto que em outros países centenas ou milhares. “Temos nos associado a Sociedades da área e atuo atualmente como representante na Sociedade Pan-Americana de Evo-Devo“, diz ele, que é um cientista atento às mudanças de paradigma. Para o pesquisador, é preciso que ciência e cientistas não se prendam muito às técnicas e tenha consciência que, em breve, elas certamente estarão obsoletas.

“O que sabemos hoje é totalmente diferente do que se sabia quando entrei na graduação, por exemplo. Lembro-me que fique meses para tentar clonar a sequência de DNA de um gene de esponja. Clonava-se um gene, comparava-se a sequência dele com o de outras espécies e publicava-se um artigo. Hoje é tudo bem diferente. Temos centenas de genomas sequenciados dos diversos filos do reino animal. Só de artrópodes teremos mais de 5 mil genomas brevemente. É preciso estar preparado para as mudanças”, afirma.

Como membro da ABC, Rodrigo também buscará gerar mudanças. Segundo ele, seu principal objetivo é dar continuidade à missão que tem se dedicado nos últimos anos: levantar a bandeira da interiorização da ciência no Brasil. “Desde 2009 atuo como professor e atualmente como diretor do Nupem. Escolhi migrar para o interior a partir de uma entrevista que li com o professor Francisco de Assis Esteves. Nela, ele relatava a importância da ousadia e da inovação no processo de interiorização da UFRJ. Vivenciei essa realidade na Alemanha com a formação de diversos institutos de Pesquisa como Max Planck Institute em cidades menores. Um grande projeto para o Brasil seria investir grande quantidade de recursos em novos institutos de pesquisa, misturando pesquisadores jovens e experientes com foco em questões regionais”, ressalta Rodrigo.