Uma técnica inovadora e já em fase de testes com animais é a mais nova esperança dos pacientes com câncer em todo o mundo. Encabeçada pelo cientista egípcio radicado nos Estados Unidos Mostafa Amil El-Sayed, o tratamento combina o uso de nanopartículas de ouro com luz infravermelha. O cientista esteve no Brasil especialmente para a Reunião Magna da ABC, quando contou detalhes do procedimento que promete não só destruir células cancerígenas, como também impedir a metástase.
A conferência foi apresentada na manhã de 10 de maio, no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. Apontado pela Thomson-Reuters como um dos principais químicos da última década, El Sayed recebeu a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos. Além de atuar como professor da Universidade de Ciências Químicas e Bioquímicas da Georgia Tech (EUA), ele é pesquisador do Centro de Câncer de Atlanta (EUA). É em parceria com dois professores egípcios que o cientista e sua equipe têm realizado os estudos que usam a nanotecnologia para combater o câncer.
Contextualizando o problema, El-Sayed relatou que um quarto das mortes de pessoas no mundo são causadas por câncer. O que mais mata é o cãncer de pulmão, seguido pelos de próstata, no caso de homens, e de mama, entre as mulheres.
Por meio de uma linguagem simples e didática, o pesquisador de 84 anos explicou a técnica que criou. Primeiramente, nanopartículas de ouro ou prata, o ouroplasmonic ou prataplasmonic, são injetados no órgão acometido pela doença; em seguida, aplica-se uma luz infravermelha na região e, então, o metal se converte em calor e há a eliminação das células lesionadas. “A técnica impede a migração das células cancerígenas, impossibilitando, assim, a metástase e interrompendo o ciclo de fatalidade”, disse El-Sayed.
De acordo com o cientista, as nanopartículas de ouro ou de prata quando aplicadas não escapam do local original. Isso ocorre por causa de suas nanopropriedades. “As nanopartículas esféricas são as de melhor absorção. Quando injetamos a solução com nanopartículas de ouro até a região cancerígena, essas partículas penetram no nódulo e absorvem a luz infravermelha que é emitida externamente. Ao absorverem a luz, as nanopartículas aquecem e derretem todas as células ao redor, células estas que são cancerígenas”, explicou ele.
Em alguns dias, as células cancerígenas desaparecem. “É uma técnica barata e que impede a migração do câncer para o restante do corpo. Isso porque, como são pesadas, as nanopartículas impedem que as células se movam para outras regiões. Além disso, observamos que não há reincidência de câncer no local que passou pelo tratamento”, afirmou El-Sayed, citando dados de um triste estatística: “Uma em cada quatro pessoas acometidas por câncer morrem em decorrência de metástase. Com essa técnica, podemos acabar com esse quadro”, disse.
Para o cientista, a nanotecnologia abriu um novo mundo para a física, a química e a biologia. “Quanto menor for uma partícula, novas propriedades ela apresenta. O ouro se torna muito poderoso na nanoescala, torna-se muito superior. Ao invés de brilhar, ele absorve a luz. Cada material pode nos fornecer muitos outros materiais. Cada um com formatos e formas que se transformam e pode nos presentear com propriedades úteis para iniciar tratamentos novos a nível industrial. A nanotecnologia pode gerar, inclusive, mais pesquisas que melhorem as condições de vida em todos os países”, ressaltou o pesquisador de Atlanta.
Apesar de toda a esperança que envolve a descoberta, é preciso também pesar os riscos. Quando se fala no uso de o ouro e prata, qual é a segurança que se tem de não haver uma intoxicação? Segundo El-Sayed, os riscos são nulos. O cientista contou que testes foram realizados para mensurar a toxicidade do excesso de ouro e prata na corrente sanguínea e, principalmente, em órgãos como baço e fígado. “Em dois anos e meio de testes com camundongos, observou-se que os tamanhos do fígado e do baço não se alteram. Dessa forma, o tratamento não mata”, afirmou El Sayed.
Para atestar a aplicabilidade da técnica em humanos, o pesquisador e sua equipe dos EUA, bem como os cientistas do Egito, trataram animais de médio porte, como gatos e cachorros. Os testes revelaram uma outra vantagem da técnica: a ausência de efeitos colaterais. “O animal com câncer de mama, um felino, por exemplo, mesmo sendo tratado pôde continuar amamentando seus filhotes. Além de curar as células cancerígenas, sem efeitos colaterais, não há reincidência do câncer e nem metástase”, concluiu El-Sayed, deixando a plateia bastante otimista. Segundo o pesquisador, muito em breve a técnica começará a ser testada em humanos.