As lembranças de Vanessa Testoni da época de escola são prazerosas, mas não são fáceis. Ela recorda que, embora sua matéria preferida sempre tenha sido matemática e, posteriormente física também, se esforçava por horas para resolver todos os exercícios passados pelos professores. Ainda assim, a paixão pelas áreas era clara.

Assim, a escolha de uma profissão que envolvesse essas disciplinas parecia óbvia. O que não era óbvio, no entanto, era que curso específico fazer. Decidiu prestar vestibular para engenharia elétrica e ciências da computação no intuito de, ao descobrir mais sobre cada curso, eleger um preferido e deixar o segundo. Porém, a medida que aprendia, notou a forte complementação que uma dava à outra e decidiu seguir nos dois até o fim, com a graduação em ciência da computação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e de engenharia elétrica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Foi a sugestão de um professor de ciência da computação que instigou Vanessa a seguir para o mestrado. Mesmo já empregada em uma multinacional em Curitiba, decidiu pedir demissão e seguir para Campinas, onde sua pesquisa abordava a área de processamento de sinais. Seguiu para o doutorado também por sugestão do seu orientador de mestrado na Unicamp. Nessa época, acreditava que o mestrado servia apenas aos pesquisadores que pretendiam seguir carreira acadêmica na universidade e, como sua intenção era pesquisar para a indústria, não via como uma boa alternativa. Ainda assim, seu orientador explicou as diversas vantagens que um doutorado lhe traria – o que, de fato, aconteceu. Testoni recebeu a Microsoft Research PhD Fellowship em 2009 e trabalhou durante três anos com os pesquisadores da Microsoft Research, em Seattle. De lá seguiu para um pós-doutorado na Universidade da Califórnia, em San Diego, com bolsa de um projeto com a indústria. Em 2013, voltou ao Brasil, onde foi contratada pela Samsung Brasil.

A área de pesquisa de Vanessa envolve o estudo de processamento de sinais e telecomunicações, com foco em codificação de imagens e vídeo. A área tem uma grande variedade de aplicações que passam por entretenimento, segurança, medicina, educação e comunicações em geral. Tecnicamente, estão envolvidos temas como realidade virtual e aumentada, vídeo 3D/multiview e holografia, por exemplo. Seu trabalho foca nos aspectos de como comprimir, transmitir e armazenar muita informação da forma mais eficiente e eficaz possível, garantindo que o usuário final tenha uma boa experiência – levando em conta aspectos das redes de telecomunicações, tais como lentidão e perda de pacotes.

A fascinação de Vanessa pela ciência e especialmente pela engenharia se dá pela possibilidade de entender como as coisas que utilizamos usualmente funcionam. “Muitas das nossas tecnologias parecem mágicas. Na minha área, por exemplo, você não só estuda e entende como sua voz viaja do seu celular para um satélite no espaço e chega no outro lado do mundo em tempo real, mas também participa do desenvolvimento das tecnologias que tornam isso tudo possível e cada vez melhor”, diz ela.

Vanessa lembra sempre sobre a importância da divulgação científica de um modo geral e desse trabalho dentro do ambiente da indústria. Como membro afiliado da ABC para o período de 2016 a 2020, pretende contribuir ainda mais para esta atividade, já que entende que a área da engenharia e dos pesquisadores que direcionam seu trabalho para aplicação na indústria ainda é uma parcela menor dentro da comunidade científica. “Empreendedorismo é super importante e está crescendo muito no Brasil. Doutorado nas áreas de engenharia, por outro lado, prepara uma pessoa antes de tudo para inovar e eu já vejo vários colegas doutores abrindo suas empresas nas agências de inovação e incubadoras das suas próprias universidades. Gostaria de ver isso acontecendo mais no Brasil! E quem melhor e mais bem treinado do que doutores para inovar?”, defende ela.

Além da defesa da área de inovação, Vanessa divide seu tempo também como voluntária do grupo Women in Engineering (IEEE WIE), fundado por ela na Unicamp, em 2010. Sendo as mulheres ainda uma minoria dentro da ciência e, principalmente, da engenharia, o grupo busca, por meio de palestras, reuniões e projetos de extensão, trazer profissionais da área para ter contato com meninas e mulheres em diferentes níveis de graduação. “A ideia é mostrar a elas todas as possibilidades das disciplinas chamadas STEM [Science, Technology, Engineering and Mathematics] e fazer com que cada vez mais mulheres ocupem também este espaço, ainda majoritariamente masculino.”