Faleceu aos 93 anos o Acadêmico, biomédico e farmacêutico Nuno Alvares Pereira. Com relevantes estudos sobre a crioeplepsia e heparina, o cientista deixa um importante legado para a biomedicina do país. Confira a nota de pesar publicada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, onde o Acadêmico foi professor:

Nuno Alvares Pereira nasceu no Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1920. Filho do farmacêutico Bartolomeu Dias Gomes Pereira e de Laura Coelho Gomes Pereira, demostrou logo interesse pela atividade profissional do pai. Após concluir o Bacharelado em Ciências e Letras do Colégio Pedro II em 1939, ingressou na Faculdade de Farmácia e Odontologia do Estado do Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1942. Em seguida, ingressou no curso de Medicina da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Concomitante aos seus estudos médicos, começou a trabalhar na indústria farmacêutica. Foi contratado em 1944 como farmacêutico responsável do Laboratório Lutécia, posto no qual permaneceria até 1969. Nesta instituição conheceu o professor Haity Moussatché, um dos pioneiros no estudo da neurofisiologia no Brasil. Tornou-se discípulo e amigo de Moussatché, com o qual, pelos 25 anos seguintes em visitas sabatinas ao seu laboratório no Instituto Oswaldo Cruz, fez estudos pioneiros sobre a crioepilepsia e a heparina, além de estudarem a atividade biológica de alguns hormônios como o ACTH. Diplomado em Medicina em 1948, Nuno retornou às salas da Escola de Medicina e Cirurgia em 1951 como Professor da Cadeira de Farmacologia, dando assistência ao catedrático Paulo de Carvalho e posteriormente a Lauro Sollero, com o qual iniciou uma longa amizade de mútuo respeito e admiração.

Em 1957, sob a orientação de Moussatché e diante de uma banca que contava com Paulo de Carvalho, Lauro Sollero, Thales Martins e Mário Vianna Dias, apresentou sua tese de Livre-docência, com um trabalho sobre a farmacodinâmica dos salicilatos e seu mecanismo de ação neuroendócrina. Nesse mesmo ano, foi convidado a ingressar na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro para ministrar a nova disciplina, até então única no Brasil, de Farmacodinâmica para o curso de Farmácia. Em 1969, com a criação do Instituto de Ciências Biomédicas na UFRJ, transferiu-se da Faculdade de Farmácia para o Departamento de Farmacologia daquele Instituto, juntando-se a Sollero e seu grupo. Com a aposentadoria de Sollero na Escola de Medicina e Cirurgia (UNI-RIO) achou-se vaga a cadeira de Titular, para a qual Nuno concorreu em 1975, obtendo o título.

Em 1977 tornou-se Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas, cargo que exerceu até 1980 e o fez pedir aposentadoria na Escola de Medicina e Cirurgia. De 1980 a 1990, quando foi aposentado compulsoriamente por limite de idade, Nuno exerceu diversos cargos de direção na UFRJ, entre eles: a chefia do Departamento de Farmacologia por 2 ocasiões e a direção da Faculdade de Farmácia (1982/1986), além de ter sido Decano substituto do Centro de Ciências da Saúde. Com a aposentadoria, passou a dedicar-se quase que exclusivamente à pesquisa científica em farmacologia de produtos naturais, que já vinha sendo desenvolvida ao longo de sua permanência no departamento. Publicou mais de 100 trabalhos científicos, orientou mais de 20 teses, seja de mestrado ou doutorado, além de ter participado de mais de 100 bancas examinadoras de teses de mestrado, doutorado ou para cargo de professor.

Paralelamente à vida acadêmica, Nuno também sempre manifestou interesse pela defesa da classe farmacêutica e da profissão. Foi um dos criadores dos Conselhos Regionais e Federal, tendo sido presidente por três mandatos do Conselho Regional de Farmácia e também da Associação Brasileira de Farmacêuticos. Foi membro da Academia Nacional de Farmácia desde 1951, da Academia Brasileira de Farmácia Militar, além de ser membro fundador da Sociedade Brasileira para Progresso da Ciência e da Sociedade Brasileira de farmacologia e Terapêutica Experimental. Casado durante 60 anos com D. Juracy Nakamura Pereira, teve três filhos, quatro netos e três bisnetos