No último dia do Simpósio Internacional sobre Zika, pesquisadores discutiram quais são as perspectivas e desafios relacionados ao problema da epidemia no Brasil, para os próximos anos. O evento foi realizado em novembro pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro.

No entanto, uma alternativa parece ser eficaz. Estudos comprovaram que a bactéria Wolbachia, quando presente no mosquito Aedes aegypti, é capaz de reduzir a transmissão do vírus zika. Pesquisadores fizeram um teste no Rio de Janeiro e soltaram mosquitos com Wolbachia em Tubiacanga, na Ilha do Governador, e em Jurujuba, Niterói, por 24 semanas ininterruptas – 8 mil mosquitos por semana, entre 2015 e 2016. A ideia foi substituir a população de mosquitos que transmite os três vírus por outra que não transmita mais.
As solturas acabaram e, hoje, a frequência dos substitutos é de 90%, o que significa que não foram necessárias novas solturas. Juntas, essas áreas têm cerca de mil casas e 4 mil pessoas. “Em Tubiacanga, costuma ter de dez a 13 casos de infecção nos períodos epidêmicos, mas no ano passado tivemos dois.” A ideia é que, em 24 meses, essa estratégia contemple 2,5 milhões de pessoas no Rio e Niterói, principalmente nos bairros em torno da Baia de Guanabara, que concentram mais mosquitos.
“A Wolbachia é encontrada em 70% dos insetos, mas não no Aedes aegypti“, explicou Freitas. “É a única estratégia que parece sustentável a longo prazo, mas precisa de um input inicial. Além disso, por vezes esquecemos quem está na ponta do iceberg, que é o agente de saúde. Sabemos o cientifiquês, mas não sabemos passar isso para os agentes de campo. Eles não fazem a menor ideia de por que a Wolbachia é a melhor saída. São mal remunerados, desmotivados, mas contamos com eles para fazer o trabalho.”
Além disso, Freitas ressaltou a importância de incentivar a própria população a fazer o controle de criadouros de mosquitos. “Não existe bala mágica. No Rio, um mosquito do Aedes aegypti pode nascer a cada 15 dias, então precisaríamos de agentes para visitar todas as casas a cada a cada duas semanas. Isso não é viável. Para acontecer, seriam necessários 115 vezes mais agentes do que há hoje. Então é preciso mobilizar as pessoas para que trabalhem mais dentro de seus próprios limites, gastem dez minutos por semana para checar os criadouros de sua residência.”


Ele falou, ainda, sobre a dificuldade de se pesquisar o assunto no Brasil, por conta da falta de financiamento e demora nas importações. “Ciência é uma atividade internacional, mas a legislação considera vírus um objeto nacional. Não conseguimos trabalhar de forma adequada com chicungunha por causa das leis.”