A Amazônia é uma área estratégica para o Brasil, correspondendo a 49% do território nacional. No entanto, segundo o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Luiz Davidovich (à direita na foto), sua importância não se reflete nas políticas públicas para a região. Ele ressaltou o valor que à ABC dá à Amazônia, tendo inclusive criado um Grupo de Estudos dedicado ao tema, cuja primeira publicação, em 2008, foi utilizada como referência para o desenvolvimento de algumas políticas de interesse regional.

“Temos que destacar essa pauta como fundamental na política de CT&I no Brasil”, reforçou, lembrando que o Livro Azul, documento fundamental originado na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4ª CNCTI), coordenada por ele em 2010, tem um capítulo inteiro dedicado à região amazônica. Davidovich conclamou os membros afiliados a abraçarem essa causa, que a ABC vem apoiando fortemente.

O vice-presidente regional Roberto DallAgnol (à esquerda na foto) justificou a ausência no evento do Acadêmico José Oswaldo de Siqueira, diretor científico, e apresentou o Instituto Tecnológico Vale para o Desenvolvimento Sustentável (ITV DS), falando da sua importância para a pesquisa na Amazônia. Ressaltou que criar institutos de pesquisa em nosso país e, em particular, na região amazônica é difícil e, portanto, a simples criação do instituto já se reveste de grande relevância, sendo esta inclusive uma das metas proposta no documento da ABC divulgado em 2008.

“Se for considerado que o ITV DS nasce com financiamento de uma grande empresa da área mineral e que se busca promover urgentemente a pesquisa no setor privado em nosso país, sua importância para a região, grande produtora de minérios, fica ainda mais evidente”, destacou DallAgnol. O ITV DS está no momento com 30 pesquisadores permanentes e em torno de 60 bolsistas com doutorado e mestrado atuando de modo multidisciplinar em áreas como sócio-economia, meteorologia e mudanças climáticas, computação aplicada, recuperação de áreas degradadas, biodiversidade e serviços ambientais, genômica ambiental e geologia ambiental e recursos hídricos. Possui um curso de mestrado profissional em “Uso sustentável de recursos naturais em regiões tropicais”, reconhecido pela CAPES, atualmente em processo de seleção de sua quinta turma.

Homenagem a Acadêmico falecido

Foi feita, então, uma homenagem ao neurocientista da Universidade Federal do Pará (UFPA) Luiz Carlos de Lima Silveira, falecido precocemente no mês de julho, vítima de um câncer, aos 63 anos. A incumbência foi atribuída ao novo membro afiliado da ABC Givago da Silva Souza, que foi seu aluno na área de neurociência e biologia molecular, no Núcleo de Medicina Tropical da UFPA.

Além de sua trajetória como Acadêmico e pesquisador atuante na UFPA, Luiz Carlos de Lima Silveira foi diretor do ITV e contribuiu muito para a sua consolidação.

Filho de um juiz, passou seus primeiros anos em Marajó, sem frequentar escola. Já em Belém, entrou na educação formal, na 1ª série, sem ser alfabetizado. No Colégio Salesiano Nossa Sra. do Carmo fez amigos que perduraram por toda a sua vida.

Sua formação acadêmica abarcou a graduação em medicina na UFPA, mestrado e doutorado em biofísica no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ) e a criação do Laboratório de Neurofisiologia Eduardo Oswaldo Cruz, seu orientador e parceiro de pesquisa.

Cristovam Wanderley Picanço Diniz, Eduardo Oswaldo Cruz e Luiz Carlos de Lima Silveira na sala de experimentos eletrofisiológicos do Laboratório de Neurobiologia (IBCCF, UFRJ, 1978)

Na volta a Belém, já professor, coordenou diversos projetos de pesquisa fomentados por agências nacionais e outros com colaborações internacionais. Sua produção cientifica foi muito profícua. A terceira fase, de 2008 a 2016, é a mais rica, quando passou a atuar no Núcleo de Medicina Tropical e a produzir na área de ciências da saúde.

Fundou e dirigiu importantes laboratórios de pesquisa na UFPA e foi diretor científico do Instituto Tecnológico Vale para o Desenvolvimento Sustentável. Foi assessor científico de agências de fomento federais e estaduais e membro de diversas entidades de sua área de atuação. Entre os inúmeros prêmios e distinções recebidas por Silveira estão o título de membro titular da ABC (2014), a Medalha Neurociências Brasil da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC, 2014), a Medalha de Honra ao Mérito Acadêmico do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA (2014); a Ordem Nacional do Mérito Científico, no grau de Comendador, do Ministério da Ciência e Tecnologia (2005) e o título de Membro Honorário do Colégio Colombiano de Neurociências (COLNE).

Givago destacou um trecho do Memorial de Silveira, que considerou representativo da vida do homenageado: “Declaro aqui minha saudade permanente dos meus pais, da minha primeira esposa Ana Júlia, dos meus filhos Natália e Vladimir, e da minha atual esposa Regina Izabel. Sempre tive saudade, pois sempre estive mais ausente do que presente. Não consegui corrigir esse comportamento, culpo terras distantes, invisíveis e inalcançáveis, e continuo sem saber que horizonte tão distante é esse que me atrai para o que eu não sei e afasta-me dos que me são caros.”

DallAgnol encerrou a cerimônia: “Fica aqui marcada nossa gratidão ao brilhante cientista e à pessoa que foi o colega e amigo Luiz Carlos de Lima Silveira.”

Programação extensa

Em seguida, o presidente da ABC apresentou uma palestra sobre a situação da CT&I no Brasil e perspectivas futuras.

O evento foi composto ainda por apresentações de líderes de alguns dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia da região, redes de pesquisa de excelência recomendadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). Embora tenham sido aprovados no papel, no entanto, os recursos financeiros prometidos para o encaminhamento do trabalho não têm sido honrados.

Às apresentações, seguiu-se uma mesa-redonda sobre a atual situação de CT&I no Brasil e seus reflexos na região amazônica. A mesa foi coordenada pelo presidente da ABC, Luiz Davidovich, e contou com a participação do reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Tecnológica do Pará e da Sustainable Development Solutions Network (SDSN – Amazônia).

Finalmente, foi realizada a cerimônia de posse nos novos membros afiliados eleitos para o período 2016-2020, que apresentaram suas li
nhas de pesquisa. Conheça os jovens pesquisadores de excelência que passam a fazer parte dos quadros da ABC pelos próximos cinco anos.

De Peixe-Boi para a ABC
Anderson Herculano teve uma infância difícil no interior do Pará. Hoje, o biólogo estuda como a química do cérebro controla o comportamento associado ao transtorno da ansiedade e síndrome do pânico.

Cada vez mais conectados
Eduardo Coelho Cerqueira ganhou o primeiro computador aos 13 anos e, desde então, soube que seguiria pela carreira da computação. Com dois pós-doutorados na área, ele estuda a distribuição de aplicação multimídia e internet das coisas.

Luz, cores, visão
Givago da Silva Souza faz pesquisa no campo da neurociência visual, mas, na graduação, cursou fisioterapia e ciências biológicas ao mesmo tempo e ainda não pensava em seguir a carreira acadêmica.

Um estudioso dos genes responsáveis pela regeneração de membros
A genética não apenas foi responsável pelo interesse de Igor Schneider pela ciência, já que seus pais também são biólogos e membros da ABC, como também é seu objeto de estudo atualmente.