Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil possui hoje seis engenheiros para cada grupo de 100 mil habitantes. O número é baixo se comparado a países com o Japão e Estados Unidos onde a proporção é de 25 para 100 mil, valor considerado bom pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Mas não é só o número de profissionais que importa, também é necessário observar a qualidade dos engenheiros formados no Brasil. Esse foi o tema abordado pelo Acadêmico Edson Watanabe, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), em sua palestra “Como fortalecer o processo de pesquisa em educação em engenharia no Brasil?” na 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Porto Seguro (BA).
“Eu não sou da área de educação, sou só preocupado com a formação de engenheiros”, começou Watanabe. Ele divide os profissionais de engenharia em três categorias: aqueles que aplicam conhecimentos consolidados; os engenheiros cientistas, que fazem artigos acadêmicos e os engenheiro de pesquisa e desenvolvimento, que levam a inovação às indústrias. Para o Acadêmico, o Brasil precisa de mais engenheiros do terceiro tipo.
Historicamente, segundo Watanabe, engenheiros não costumavam fazer pós-graduação no Brasil. O Acadêmico apontou que esse número começou a mudar nos últimos trinta anos, quando mais profissionais passaram a fazer doutorado. “Se o engenheiro é bom, ele pode se desenvolver por conta própria a partir da pesquisa, mas os cursos não oferecem iniciação à pesquisa e desenvolvimento”, opinou Watanabe, que não critica a formação de engenheiros cientistas no Brasil, mas pensa que é necessário se investir mais em formação voltada para inovação.
Inovação
Quando foi fundado, em 1985, o Ministério de Ciência e Tecnologia não tinha o terceiro elemento, inovação, que seria acrescentado em 2008, assim como a constituição não possuía essa palavra, acrescentada em 2015 por Emenda Constitucional. Porém, apesar da palavra figurar entre os assuntos ligados às ciências, Watanabe afirma que não há um significado estabelecido de inovação, mas arrisca a sua definição: para ele, são boas ideias, patentes e conceitos que não acabam em si, mas são desenvolvidos e podem ser aceitos pela indústria. Como exemplo de engenheiro com perfil inovador o pesquisador citou Akio Morita, fundador da Sony, que criou aparelhos amplamente usados no mundo todo décadas atrás, como rádios de pilha para bolso, walkman e discman.
Contexto
Embora critique a postura passiva dos engenheiros brasileiros que se dedicam à pesquisa, os quais, na opinião de Watanabe, “realizam a pesquisa e acham que alguém vai fazer o resto”, ele afirma que o contexto social pode favorecer ou retrair o incentivo dos empreendedores. “Quando a economia melhora, a autoestima dos alunos também melhora”, afirma o pesquisador. “É preciso aumentar a ética e desburocratizar o processo para que se invista mais em projetos de longo prazo”, resume.
Mais vivência
Para Leandro Tessler, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que falta para os engenheiros brasileiros é mais vivência, ou “soft skills”. Segundo ele, os alunos vêm de uma zona de conforto e acabaram de sair da escola sendo os melhores da turma, estando acostumados com essa rotina de sala de aula. Nesse aspecto, segundo Tessler, o programa Ciência sem Fronteiras foi positivo, pois possibilitou que alunos conhecessem universidades com estruturas diferentes, que oferecem disciplinas com apenas 15 horas por semestre em sala de aula, por exemplo, e mais atividades fora de sala, possibilitando “contato com o mundo e com problemas reais”. Um exemplo de como isso pode ser negativo veio com o comentário sobre a ciclovia construída no Rio de Janeiro e derrubada por uma onda durante uma ressaca marítima, matando duas pessoas: “É claro que a ciclovia Tim Maia foi construída com cálculos rigorosos, mas o engenheiro desconsiderou fatores externos”, disse Tessler.

Para o pesquisador, é necessária também uma avaliação dos docentes para que a formação dos alunos seja melhor. “Nós somos os verdadeiros inimigos neste caso, precisamos buscar alternativas de ensino que proporcionem essa vivência aos alunos e nos tirem da nossa zona de conforto.”