Uma das eleitas para a categoria de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências da Vice-Presidência Regional Rio de Janeiro para o período de 2016 a 2020 é a medica e neurocientista Fernanda Tovar Moll.

Nascida em Niterói e criada em um sítio em Campo Grade, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, durante a infância, Fernanda gostava de brincar no quintal com seus amigos e primos. As disciplinas de que mais gostava no colégio Nossa Senhora do Rosário, onde fez o ensino básico, eram matemática, física, química e biologia.

Filha de um pediatra e de uma professora, Fernanda conta que o interesse por ciências surgiu cedo, influenciada pelo ambiente doméstico. Seus irmãos, ambos mais novos, também cursaram o ensino superior: a irmã mais nova se formou em arquitetura e o irmão é pediatra como o pai.

Em 1990, interessada em pesquisa, ingressou na Escola Técnica Federal de Química do Rio de Janeiro. Prestou vestibular para medicina e passou na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Embora tivesse passado em outros vestibulares, optou pela UFRJ para investir em seu futuro na pesquisa. “Minha tentativa era, além do treinamento em assistência, ter oportunidades de ingressar na pesquisa básica ou na pesquisa clínica.”

No segundo período da faculdade, Fernanda teve oportunidade de ingressar no programa de iniciação científica (IC), que desenvolveu durante toda a graduação”, conta Fernanda. “A IC foi no Laboratório de Morfogênese Celular e era orientada pelos professores Vivaldo Moura Neto [membro titular da ABC] e José Garcia Abreu Jr.”

Durante o curso, Fernanda se interessou por pesquisa clínica, tendo desenvolvido projetos sob a orientação do professor Henrique Sérgio de Moraes Coelho, em hepatologia, nas áreas de biologia molecular, bioquímica e imagem radiológica.

Após a faculdade, ficou dividida entre se dedicar à pesquisa básica ou à clínica-anatômica. Nesta segunda seu interesse estava principalmente na área de diagnóstico por imagem, área pouco explorada cientificamente na época, segundo Fernanda. No ano 2000, começou a residência médica em radiologia na UFRJ e ingressou no mestrado em ciências morfológicas no Departamento de Anatomia da mesma universidade. “Vivaldo e Garcia foram fundamentais para que eu fizesse o mestrado e tentasse desenvolver estas duas atividades em paralelo. Em novembro de 2002 concluí o mestrado e, logo em seguida, a residência médica”, relata a nova Afiliada.

Tentando unir experiências clínicas e ciência básica, em 2003 Fernanda iniciou o doutorado no Programa de Ciências Morfológicas, no Laboratório de Neuroplasticidade, sob orientação do Acadêmico, Roberto Lent, quando desenvolveram um projeto de característica translacional, utilizando neuroimagem na investigação de evidências de neuroplasticidade em pacientes com má formação cerebral. “Em paralelo ao programa de doutorado, iniciei um pós-doutorado no NIH (National Institutes of Health), nos EUA, em 2004, no laboratório de neuroimagem do Departamento de Neuroimunologia e sob a coordenação do Dr. Henry McFarland”, recorda a Acadêmica. “Neste período trabalhamos com pesquisa clínica e neuroimagem avançada, em especial de técnicas mais sofisticadas de imagem que permitem investigar a conectividade estrutural do cérebro in vivo. Esta experiência foi fundamental para o meu amadurecimento científico e pessoal.”

Mapeando o cérebro

Atualmente, Fernanda é professora adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas e diretora da Unidade de Bioimagem de Pequenos Animais do Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem (Cenabio), ambos na UFRJ. É também co-fundadora e diretora científica da Unidade de Conectividade Cerebral do Instituto DOr de Pesquisa e Ensino (IDOR – Rede DOr). Elase dedica a identificar conexões e circuitos do cérebro por meio da captação de imagens por ressonância magnética, entendendo suas correlações, seu funcionamento, sua dinâmica e as alterações que podem ocorrer em casos de doenças. “Procuramos também entender como o cérebro se reorganiza e responde a estímulos internos ou externos, alterando seus circuitos e a plasticidade cerebral”, explica a cientista. “Entender a dinâmica destes circuitos e como eles estão alterados nas diversas doenças pode nos ajudar a entender melhor as próprias doenças e tentar novos tratamentos.”

Guiada por pistas

Como em toda a busca, em que o explorador precisa de guias, como bússolas ou mapas, que o ajudem a alcançar seu objetivo, o pesquisador também precisa encontrar os textos e experimentos que vão encurtar seu caminho para comprovar ou desconstruir determinada tese. Para Fernanda Tovar Moll, a descoberta é o grande estímulo para seguir na pesquisa. “Na minha área, especificamente, temos muito para conhecer. Na neurociência ainda temos muitos mistérios a serem desvendados sobre o funcionamento normal do cérebro e sobre suas alterações em diversas patologias”, diz Fernanda. “A possibilidade destes conhecimentos, de alguma maneira, auxiliarem no diagnóstico mais precoce e eficaz e na otimização de tratamentos para as diversas doenças também me motiva.

Na ABC, a pesquisadora ainda não sabe como será sua atuação, mas sabe o que busca com essa nova experiência. “Pretendo aprender e ajudar, seguindo os conselhos dos colegas da ABC, e interagir com as outras áreas, possivelmente promovendo esta interação multidisciplinar.”