Vanderlan Bolzani, vice-presidente da SBPC; Luiz Davidovich, presidente da ABC; Gilberto Kassab, ministro do MCTIC; Helena Nader, presidente da SBPC; Cláudia dÁvila Levy, secretária-geral da SBPC; e Jailson Bittencourt, secretário de projeto do Ministério

No dia 8 de junho, os principais representantes da comunidade científica brasileira se reuniram, em São Paulo, com Gilberto Kassab, que assumiu a pasta conjunta de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, criada a partir de Medida Provisória do presidente interino do Brasil, Michel Temer, para discutir as políticas de C,T&I no novo Ministério e, sobretudo, manifestar o repúdio à fusão das pastas. O encontro foi organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a pedido do ministro Kassab.

Diversas instituições brasileiras ligadas a ciência se manifestaram contra o novo Ministério por meio de artigos, cartas abertas e moções. Entre elas: Academia Brasileira de Ciências (ABC), SBPC, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Sociedade Brasileira de Física (SBF), Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Na audiência, representantes de outras instituições também estiveram presentes e puderam se manifestar.
“Estão se juntando atividades com práticas muito diferentes. E daí há uma preocupação”, disse Luiz Davidovich, presidente da ABC, na reunião. “E há uma preocupação, também, pela forma como isso foi feito. O MCTI não foi criado para satisfazer partidos políticos, como houve a criação de Ministérios recentemente. Ele tem mais de 30 anos e, antes de ele ser criado, foram 30 anos de luta. É um Ministério que surgiu pela necessidade de uma política de Estado no setor”, afirmou.
Davidovich disse, também, que a ciência brasileira subiu de patamar na década passada e pode considerar passos maiores. “Queremos ir adiante, não queremos apenas seguir a pauta internacional de pesquisa, mas, em várias áreas, queremos liderar essa pauta. Queremos pautar a ciência internacional. ”
Além de Davidovich, estiveram presentes na mesa da reunião os Acadêmicos Helena Nader, presidente da SBPC; Jailson Bittencourt, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento e Vanderlan Bolzani, vice-presidente da SBPC.
Kassab afirmou que a junção dos ministérios foi feita com o propósito de reduzir o número de pastas no governo federal, que de 39 caíram para 23 e, segundo o ministro, podem chegar a 18. De acordo com ele, o Ministério conjunto trará “eficiência” e “força política”, e não descartou buscar mais recursos para ciência e tecnologia (C&T).
Mas, para Davidovich, isso ainda não é o suficiente. Segundo o presidente da ABC, “é preciso mais do que um ministro decidido. Eu gostaria de ver as maiores autoridades do Brasil falando para a sociedade da importância da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento nacional. Isso está faltando no país”, criticou.
Helena Nader destacou, em sua fala, como a produção científica nacional cresceu de forma contínua nos últimos 31 anos – desde a criação do MCTI -, o que colocou o país na 13ª posição entre as nações com maior produção de conhecimento. “É nítido o impacto do crescimento da importância da ciência brasileira. E não são apenas números que aumentam, mas a qualidade, medida pelo incremento nas citações das pesquisas brasileiras”, comentou.
Nader falou, ainda, dos desafios que a CT&I nacional enfrenta, entre eles, o baixo desempenho em inovação, que exige uma relação mais próxima entre pesquisa, governo e empresas, e lembrou a luta pela derrubada dos vetos ao Marco Legal da CT&I: “Estamos todos aqui, representantes de instituições científicas, tecnológicas e de inovação, juntos por um Brasil que atinja aquilo que nós brasileiros queremos e por um Ministério da CT&I forte”.
Luiz Davidovich: “Com o financiamento atual, vamos retroceder para a época em que não havia inovação no país”

Após a reunião, a ABC conversou com Luiz Davidovich sobre sua avaliação em relação ao encontro. Segundo o presidente da Academia, o ministro se mostrou disposto a lutar pelas pautas reivindicadas pela comunidade científica, incluindo a recuperação dos recursos. “Criticamos a junção dos Ministérios e fizemos considerações sobre a urgência da recuperação do financiamento de C&T. O ministro disse que a fusão é parte de uma reforma administrativa. Colocou-se, também, à disposição para defender os recursos para a área.” Davidovich acrescentou que, na reunião, os representantes da comunidade científica mencionaram programas atuais, como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, que correm o sério risco de serem interrompidos ou desmanchados pela falta de financiamento. “Isso está ameaçando, por exemplo, a situação das start-ups, que não conseguem se manter e estão sendo compradas por empresas estrangeiras. ” Ele afirmou, também, que não podemos desperdiçar as oportunidades que o Brasil tem, principalmente por conta de sua enorme biodiversidade, potencial em biologia marinha, atividades espaciais e outras áreas. “Com cerca de 1,4% do PIB investidos em pesquisa e desenvolvimento, estamos jogando na retranca, enquanto outros países, como a China, jogam no ataque. ”
O presidente da ABC afirmou que é difícil prever o que está por vir, mas foi enfático ao dizer que uma perspectiva é certa, caso a situação financeira de C&T continue como está: “Vamos ter o desestímulo dos jovens que poderiam ser os cientistas de amanhã, evasão de cérebros do Brasil e iremos retroceder para a época em que não havia inovação no país. A ciência brasileira vai ser seriamente prejudicada.”
O vídeo com a íntegra da reunião pode ser assistido neste link.
Confira matéria do G1 com vídeo do Acadêmico Artur Avila opinando contra o fim do MCTI.
E veja aqui, também, o artigo publicado pelos Acadêmicos Edson Watanabe e Luiz Bevilacqua, no dia 5 de junho, contra a junção dos ministérios.