O encerramento da Reunião Magna comemorativa do centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC) foi marcado por uma homenagem especial aos últimos quatro presidentes da instituição. Mauricio Matos Peixoto, que presidiu a Academia de 1981 a 1991, José Israel Vargas (1991 a 1993), Eduardo Moacyr Krieger (1993 a 2007) e Jacob Palis Junior (2007 a 2016) foram saudados pelos Acadêmicos Carlos Aragão e Debora Foguel e receberam placas em nome da ABC.

Carlos Aragão, Mauricio Peixoto, José Israel Vargas, Debora Foguel, Eduardo Krieger e Jacob Palis

A Reunião Magna aconteceu no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, de 4 a 6 de maio, e reuniu importantes nomes da ciência brasileira e internacional que falaram sobre temas diversos, como zika, segurança alimentar e novas tecnologias. A décima edição do evento mais importante da Academia celebrou os 100 anos da instituição e atraiu um grande número de pessoas para as suas sessões, sempre abertas ao público.

Os presidentes da ABC

Mauricio Matos Peixoto nasceu em 1921, em Fortaleza. Ingressou na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, onde se formou em engenharia civil, em 1943. De 1949 a 1951, visitou a Universidade de Chicago e, em 1957, a Universidade de Princeton, onde trabalhou com o célebre matemático russo Solomon Lefschetz. Lá, lançou as bases do famoso Teorema de Peixoto. Foi um pioneiro da moderna teoria de sistemas dinâmicos. “Peixoto é uma referência para todos os cientistas brasileiros, padrão metrológico de brilhantismo, dinamismo e integridade científica”, comentou Carlos Aragão.
Em 1953, juntamente com o Acadêmico Leopoldo Nachbin, fundou o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), onde trabalhou até se aposentar. Em 1979, foi presidente do CNPq por um ano. Foi também presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), de 1975 a 1977. Ingressou na ABC como membro em 1949. Em seu discurso de posse como presidente, em 1981, levantou o debate sobre a inclusão das ciências humanas na instituição, o que mais tarde acabaria se concretizando.
José Israel Vargas nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 1928. Ingressou na Faculdade de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1948, transferindo-se para a Universidade de São Paulo (USP) no segundo ano do curso. Completou o bacharelado em química na UFMG em 1952. Logo se ligou à física, campo em que sua formação se consolidou no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de 1953 a 1955. Fez o doutorado em ciências nucleares pela Faculdade de Física e Química da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em 1959.
Foi professor da UFMG e, em 1989, tornou-se Professor Emérito da instituição. Como físico, desenvolveu vários trabalhos versando sobre as aplicações da Correlação Angular Perturbada e do efeito Mösbauer ao estudo das transformações nucleares nos sólidos. Criou a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e foi ministro de Ciência e Tecnologia de 1992 a 1998. Nesse período, lançou a ideia dos Fundos Setoriais para apoiar a pesquisa no país, que teria um papel crucial na recuperação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Ingressou na ABC em 1975. Presidiu a Academia Mundial de Ciências (TWAS) em 1995.
Eduardo Moacyr Krieger nasceu em Cerro Largo, Rio Grande do Sul, em 1928. Médico formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, decidiu, logo cedo, dedicar-se à carreira de pesquisador, tornando-se professor da Universidade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, onde é Professor Emérito. Em 1985, assumiu posto de destaque no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, dirigindo uma equipe multidisciplinar na área de hipertensão e deixando contribuições importantes, tal como a descrição do método de desnervação sinoaórtica em roedores. Foi pioneiro no uso de ratos como modelos de estudo.
Em seu discurso de posse na ABC em 1993, Krieger ressaltou a importância da expansão da ciência, em especial da ciência básica, para gerar impacto sobre a educação. Como presidente, investiu na internacionalização da Academia, criando conexões com instituições congêneres no exterior como ICSU e TWAS e participando da criação do IAP, IAC e IAMP. Também atuou para que a sociedade e o governo percebessem a importância da ciência e de seu financiamento, aproximando a ABC dos ministros de C&T.
Jacob Palis nasceu em Uberaba, Minas Gerais, em 1940. Formado em engenharia pela Universidade do Brasil, atual UFRJ, acabou por se dedicar ao estudo da matemática, tornando-se pesquisador titular do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) em 1975, e sendo seu diretor entre 1993 e 2003. Sua especialidade é a área de sistemas dinâmicos. Como presidente da ABC, criou representações da Academia por todo o território nacional com as seis vice-presidências regionais. Também trouxe cientistas jovens de até 40 anos para a ABC na categoria membros afiliados, eleitos pelas vice-presidências regionais, o que amplia o escopo da ABC para jovens cientistas brilhantes de todo o país.
Palis se preocupou com o ingresso de mulheres cientistas na ABC, dando continuidade à parceria que criou o Prêmio LOréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência em 2006. Ainda na sua gestão, intensificou-se a figura do membro institucional, que pode ser uma empresa ou mesmo um instituto de pesquisa que contribua financeiramente com a ABC e realize atividades em parceria. Criou, ainda, o regulamento da ABC que remodelou os procedimentos internos do uso dos recursos, que dá a ABC segurança jurídica, e defendeu intensamente, junto à SBPC, o aumento do aporte de recursos para as atividades de CT&I.
Ciência como combustível

Debora Foguel, que apresentou as biografias de Krieger e Palis, fez um discurso bastante emocionado, em que afirmou que as discussões da Reunião Magna trouxeram esperança para este momento difícil do país. “Neste último dia do evento, descobrimos que o Brasil tem a matriz energética mais limpa do planeta, na sessão de energia, e vimos a pujança da agricultura brasileira, na sessão de segurança alimentar. Temos que amar o Brasil novamente. Não vamos desistir do país.”
O presidente da ABC recém-eleito, Luiz Davidovich, completou: “Vimos aqui nessas sessões o Brasil que funciona e o que a ciência já fez pelo país. Vimos a ciência básica na palestra do matemático Mikhail Lyubich e a ciência aplicada no combate a doenças emergentes, na sessão de saúde global. Esta ultima sessão simboliza a reverência que temos pela historia da ABC, um patrimônio da sociedade brasileira. Aprendemos com esses ex-presidentes a defesa da excelência, do mérito. Temos que manter esse compromisso já assumido anteriormente.”
Davidovich afirmou que a época de crise, mais que todas as outras, mostra a importância de ciência, tecnologia e inovação. Outros países, em meio à crise, apostam nessa área como meio de superar as dificuldades. “Se um avião entra em pane, jogam-se fora os pacotes, as malas, as cadeiras, mas não o motor nem o combustível que o alimenta. A ciência e a tecnologia são o motor e o combustível de um país.”

Os ex-presidentes da ABC com o presidente recém-eleito, Luiz Davidovich, no meio