Sala de testes de termômetros no Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Rio de Janeiro (Ipem-RJ)
Alarmada com a penúria no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a comunidade científica alerta para o risco de prejuízos à confiabilidade dos produtos brasileiros e à competitividade das nossas exportações. A crise no instituto levou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) a enviarem, no mês passado, uma carta conjunta ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), ao qual o instituto é subordinado. Na carta, endereçada ao então ministro, Armando Monteiro, os cientistas apontam, ainda, preocupação com a reestruturação interna que está sendo realizada na instituição desde o fim de 2015, com o afastamento de técnicos.
O presidente da ABC, Luiz Davidovich, disse que os cortes no orçamento levaram a uma redução brutal das atividades de pesquisa e desenvolvimento em metrologia. Na carta enviada ao ministério, as entidades destacam que o Inmetro tem, por exemplo, o laboratório de microscopia eletrônica mais moderno do Hemisfério Sul. Esse laboratório permite investigar a composição de um material para saber se está de acordo com os padrões internacionais.
– Essas certificações internacionais são uma vitrine para o produto brasileiro, dando confiança sobre a sua qualidade – destaca Davidovich. – Muitas pessoas só lembram do taxímetro e de brinquedos quando se fala do Inmetro. Mas ele é um instituto de vital importância para o país. Os investimentos, de cerca de R$ 120 milhões nos últimos dez anos em equipamentos altamente sofisticados, levaram o Inmetro a atingir patamares de excelência igual a outros institutos internacionais de metrologia. E os padrões da metrologia são muito sofisticados e exigidos no comércio internacional.
Sem pagar luz e telefone
A presidente da SBPC, Helena Nader, disse que as mudanças internas poderiam resultar em perda da qualidade dos trabalhos desenvolvidos pelo Inmetro:
– Tenho recebido várias informações de desmonte de áreas que estaria acontecendo no Inmetro.
A carta das entidades cita demissões “injustificadas” de técnicos qualificados. O presidente do Inmetro, Luís Fernando Panelli Cesar, afirma que as mudanças internas visam a dar um “choque de gestão” e a buscar resultados positivos, apesar da falta de recursos. Segundo Panelli Cesar, duas diretorias do instituto foram unificadas. Em outra diretoria, houve uma substituição, mas o novo diretor é do quadro do Inmetro.
– Nossos problemas orçamentários são brutais. Estamos com problemas de manutenção nos prédios, alguns com infiltrações, problemas em aparelhos de ar condicionado. Aparelhos quebram e, muitas vezes, não há recursos para consertar. Estamos com pagamentos no exterior atrasados, e há três meses sem pagar as contas de água, luz e telefone. Estamos agonizando, literalmente. O estrangulamento do orçamento é muito forte. Temos que nos concentrar nas atividades fins do Inmetro, as pesquisas continuam em todas as áreas, mas é preciso fazer uma acomodação. O consumo seguro, justo e equilibrado depende da atuação do Inmetro – diz Panelli Cesar.