No dia 24 de fevereiro, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal Fluminense (Coppe/UFRJ), dirigido pelo Acadêmico Edson Watanabe, promoveu o seminário “Combate ao Aedes Aegypti e ameaças do vírus Zika”, reunindo em seu auditório pesquisadores das áreas de saúde e engenharia. O evento reuniu os professores Roberto Medronho, diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ; Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica; Leda Castilho, do Programa de Engenharia Química da Coppe e membro afiliado da ABC de 2009 a 2013; Adilson Xavier, do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe; e Delson Braz, do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe. O debate foi mediado pelo diretor de Relações Institucionais da Coppe, o Acadêmico Luiz Pinguelli Rosa.
O professor Roberto Medronho fez um breve relato sobre a atuação do vírus Zika desde que foi detectado e isolado pela primeira vez, em Uganda, África, em 1947. Seis décadas mais tarde, só haviam sido registrados casos na África e no Sudeste asiático. Segundo Medronho, embora conhecido o vírus Zika foi tratado como uma das chamadas doenças negligenciadas. “São patologias prevalentes em condições de pobreza como dengue, doença de Chagas, malária, leishmaniose, do tipo que não desperta o interesse dos grandes laboratórios”, afirmou.
Mas o panorama mudou, pois o tráfego humano crescente não movimenta apenas pessoas, mas também vírus, bactérias e vetores. “Com o aquecimento global, uma faixa maior do globo terrestre passa a ter clima propício a vetores, como o mosquito Aedes aegypti. Com isso, as doenças negligenciadas começaram a chegar aos países mais desenvolvidos”, ressaltou Medronho.
A professora Leda Castilho destacou o rápido avanço da epidemia, que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificar a situação como emergência de saúde mundial.
“O vírus foi detectado no Brasil pela 1ª vez em abril de 2015, e agora já tem a sua presença notificada em quase todo o território nacional. Desde 2007, já foram comprovados casos de zika em 46 países, 34 só de 2015 a 2016, sendo 26 destes no continente americano. Um aumento na incidência de desordens neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré, simultaneamente ao surto de vírus Zika, já foi reportado em seis países”, destacou.

Sem “bala mágica” contra o mosquito
O professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, alertou que não há saída simples e milagrosa para acabar com epidemias. “Nos anos 70, achava-se que o DDT (sigla para o pesticida diclorodifeniltricloroetano) era uma bala mágica para combater os insetos vetores de doenças infecciosas. Isso não se mostrou verdadeiro. As mutações genéticas e a seleção natural das espécies mais resistentes tornaram inócuos tanto o DDT quanto outros inseticidas posteriores, como os organofosforados”, afirmou.
Segundo Pedro, é importante associar métodos novos com o tradicional controle de focos, evitando o desenvolvimento das larvas e a proliferação de mosquitos. “O controle mecânico low tech ainda é muito importante, como nos mostra a experiência bem-sucedida de países como Cingapura, onde o controle é feito casa a casa. E essa importância aumenta à medida que o controle químico perde eficácia”, enfatizou.
Alguns métodos de combate ao vetor foram apresentados pelos professores Adilson Xavier e Delson Braz, dos programas de Engenharia de Sistemas e Computação e de Engenharia Nuclear da Coppe . Xavier
defendeu o uso de sistemas de informação e logística para o zoneamento das cidades em base cartográfica. “O combate ao vetor é uma guerra, então precisamos ter um mapa desse cenário de guerra”,
defendeu o professor, que aplicou com sucesso um modelo de zoneamento no município de Sobral (CE).
Delson Braz, por sua vez, falou sobre possíveis usos da energia nuclear- sem risco para a saúde humana – no controle de infestação de produtos por parasitas e insetos, e aventou a possibilidade de tornar estéreis por meio do uso de radiação os mosquitos vetores de doenças infecciosas, como a dengue e a zika.
Os palestrantes enfatizaram a necessidade de que as campanhas de conscientização sejam muito mais constantes e incisivas. No entanto, o professor Medronho ponderou que, embora 2/3 dos focos de infestação pelo mosquito Aedes aegypti estejam em residências, os macrofocos estão em logradouros públicos. “É preciso ampliar e otimizar políticas públicas para aumentar a cobertura e melhorar a regularidade no abastecimento de água e coleta de lixo. Cerca de 90% das larvas e pupas existentes em macrofocos estão relacionadas a essa carência”, alertou.

UFRJ cria Núcleo Zika Vírus
Em dezembro de 2015, a UFRJ constituiu um grupo, denominado Núcleo Zika Virus, que integra professores das áreas de saúde e engenharia. São eles: Davis Ferreira, do Instituto de Microbiologia, Edmilson Migowsky, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Leda Castilho, do Programa de Engenharia Química da Coppe, Monica Ferreira, do Instituto de Química e Roberto Medronho, da Faculdade de Medicina.
Trata-se do primeiro núcleo do Polo de Inovação em Saúde da UFRJ, uma iniciativa que conta com apoio do Parque Tecnológico da UFRJ, da Rio Negócios (agência de promoção de investimentos da Prefeitura Municipal) e da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) e tem como objetivo unir universidade e empresas no desenvolvimento de produtos e soluções inovadoras para problemas de saúde pública.