A infância de Fabrício Baccaro foi repleta de personagens, cenários e ambientes que o incentivaram em sua carreira como pesquisador. Hoje, o paranaense foi eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) – Regional Norte para o período 2015-2019.
Nascido em Londrina (PR), Baccaro começou a frequentar muito cedo o ambiente acadêmico, pois acompanhava a mãe à Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde ela cursava artes plásticas. Enquanto a mãe assistia as aulas, Baccaro, ainda criança, se divertia desbravando o campus da universidade. “Talvez por esse motivo tenha sempre me sentido em casa durante minha graduação na UEL”, recorda.
Depois de formada, sua mãe montou um atelier em casa, o que era um deleite para o garoto de apenas cinco anos, que chegava a deixar os brinquedos de lado para pintar, modelar e desenhar com as alunas da mãe. A música também entrou na vida de Baccaro nessa época. Começou a tocar violino aos seis anos, encantado com a música erudita, mas parou com 16 para se dedicar ao contrabaixo – quando descobriu outros estilos como jazz, blues e rock.
Na mesma época, seus pais compraram uma enciclopédia universal, o que incentivou o filho a aprender a ler. Também deram a ele diversos kits infantis de laboratório, com os quais o futuro cientista realizou suas primeiras experiências com insetos no atelier de sua mãe.
Com o avô materno, cuja marcenaria ficava ao lado de sua casa, Baccaro adquiriu noções de elétrica, física, engenharia e também se lembra de lições de ética e de zelo pela profissão.
Na universidade, seu primeiro curso foi de administração de empresas, acreditando na possibilidade de assumir os negócios da família. Se dedicou ao curso e conseguiu seus primeiros empregos na área, embora sentisse que aquela não era sua vocação.
Quando se formou, Baccaro prestou vestibular para biologia e passou. Conhecia alunos do curso por frequentar acampamentos e encontros de trekking e mountain bike. Logo no início da faculdade sentiu que aquela era sua área de interesse e decidiu ser pesquisador.
Do escritório para o laboratório
Como já era graduado, Fabrício Baccaro não pode concorrer à bolsa de iniciação científica, mas desde o primeiro ano fez estágios como voluntário. Um deles foi no Laboratório de Entomologia da UEL.
Sua função no estágio era ajudar no cuidado diário das larvas de mosquito e nos bioensaios com o bioinseticida que o laboratório estava desenvolvendo. Em troca de seu trabalho voluntário, o orientador – professor José Lopes – apoiou um projeto seu que consistia em investigar a estratificação vertical de espécies imaturas de mosquitos. O projeto demorou seis meses para apresentar resultados e a maioria deles foi publicada em anais de congressos – uma experiência importante para seu aprendizado.
Trabalho de formiga
Para acompanhar uma colega, viajou a São Paulo onde estudou a taxonomia das formigas e ficou encantado por estes organismos. Após a graduação, mudou-se para Manaus para fazer mestrado em entomologia no Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (Inpa). Conta que seu orientador, professor José Wellington de Morais, o deixou à vontade para desenvolver seu próprio projeto e, por causa disso, considera que esse foi seu período de maior amadurecimento profissional. “Além de desenvolver a pesquisa, tive que aprender como organizar uma campanha de coleta e a resolver todos os trâmites burocráticos”, recorda Baccaro. “E aprofundei meus conhecimentos na minha área”. No doutorado, Baccaro continuou trabalhando com ecologia de formigas, orientado pelo professor Bill Magnusson.
Atualmente sua pesquisa busca entender como a grande diversidade de organismos da floresta amazônica está distribuída em diferentes escalas geográficas. Junto com seus alunos de graduação e mestrado, investigam como a profundidade do lençol freático modifica a dinâmica de diversos organismos (formigas, cupins, morcegos, roedores, fungos etc.) e como esse gradiente hídrico modifica os traços funcionais dessas espécies. “É muito importante poder prever mudanças na distribuição, abundância e composição das espécies frente as variações no lençol freático, uma vez que a água está se tornando um recurso cada vez mais escasso”, explica.
Para Baccaro, o exercício da ciência exige humildade para reconhecer as conquistas de outros cientistas e liberdade para criticar o trabalho alheio e aprender com as críticas, sempre buscando o avanço da pesquisa. “Sem esse processo de retroalimentação, a qualidade do conhecimento científico seria comprometida seriamente”, afirma.
Baccaro considera o título da ABC motivo de orgulho e responsabilidade. “A Academia promove eventos de alta qualidade que colocam cientistas do Brasil e do exterior em contato, estimulando parcerias e pesquisas em conjunto”, ressalta o novo Acadêmico. Pelo visto, disposto a assumir o desafio.