Sexto painel do evento contou com mediação do professor Baosheng Yang e palestra do especialista do Banco Mundial, Francisco Marmolejo
Nos últimos anos, aumentou o investimento no ensino superior nos países emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (os BRICS, na sigla em inglês). Porém, essas nações ainda enfrentam dificuldades para oferecer uma educação terciária igualitária e de qualidade para toda a população.
Segundo o Francisco Marmolejo, especialista em educação superior do Banco Mundial (BID), essas dificuldades não são apenas estruturais. A dificuldade dos governos de compreenderem a importância dos investimentos a longo prazo em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é um dos maiores problemas enfrentados pelo ensino superior nos países em desenvolvimento.
Esse foi o tema do sexto painel de debate do evento “Higher Education Policies in Developing Countries” (Políticas do Ensino Superior nos Países em Desenvolvimento), promovido pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), nos dias 21 e 22 de setembro.
Investimentos em educação colaboram com o controle de natalidade
Segundo Marmolejo (foto ao lado), cursar o ensino superior é o principal fator de mobilidade social atualmente. “Globalmente, as habilidades individuais estão sendo mais valorizadas em relação às atividades em grupo”, relatou.
Outro aspecto levantado pelo palestrante é que, em famílias com membros que fizeram faculdade, a taxa de educação é elevada nas gerações seguintes.
Um exemplo disso é a diminuição na taxa de natalidade brasileira após a década de 1960, com a vinda de famílias para os centros urbanos e a ampliação do acesso da população ao ensino superior o que, consequentemente, trouxe um maior esclarecimento sobre orçamento doméstico e métodos contraceptivos.
Em 1950, o Brasil era o oitavo país mais populoso do mundo, em 2000 era o quinto. China e Índia, também considerados emergentes, já encabeçavam a lista em primeiro e segundo lugar, respectivamente, na década de 1950.
No caso da China, que aumentou seu investimento em pesquisa científica de U$ 39 bilhões em 2002 para U$ 102 bilhões em 2007, já se verifica uma diminuição considerável na taxa demográfica. Já a Índia, membro dos BRICS com menor número de cientistas por milhão de habitantes, tende a ser o país mais populoso do mundo até 2050.
Faculdade e Universidade: dois conceitos distintos
Mas “curso superior” é o mesmo que “curso universitário”?
Marmolejo mostra que não. Para ele, há uma trajetória muito limitada entre o ensino técnico, priorizando o mercado de trabalho, e um curso que valorize a vocação do aluno e possa prepará-lo para a produção de conhecimento na área. “O controle de qualidade e de garantias de resultados nos centros acadêmicos é muito frágil e há uma notável discrepância no acesso ao ensino superior”, afirmou. No Brasil, segundo o IBGE, apenas 7,9% da população têm acesso à universidade. Entre os jovens brasileiros da classe social mais pobre, 3% fizeram faculdade.
Embora reconheça que, nos últimos anos, o investimento em educação nos BRICS cresceu, Marmolejo considera o orçamento das universidades insuficiente e as decisões sobre como aplicar esse dinheiro “imprecisas e infundadas”. “O crescimento em infraestrutura não significa melhora na qualidade de ensino”, alertou o especialista. “Um cenário menos trágico não significa que ele é positivo”, brincou.
Momento propício para mudanças
Para que o país invista em educação, é preciso que haja um público interessado em retribuir essa aplicação e, na opinião de Marmolejo, este é o momento certo para os BRICS ampliarem o orçamento das universidades.
“Em 1998”, lembrou, “as populações dos países subdesenvolvidos cresciam em relação aos desenvolvidos. Até 2050, esse cenário será oposto”, afirmou.
Para ilustrar este cenário, Marmolejo usou o exemplo da Itália, cuja população idosa é maior do que a infantil e a adulta, o que obrigou o país a fechar escolas e universidades. O mesmo ocorreu no Japão e em Porto Rico.
“Se não compreendermos os problemas da educação superior neste momento, quem pagará por isso no futuro?”, questionou o palestrante, sugerindo a diminuição da população jovem e adulta no Brasil nos próximos anos.
“Os universitários estão entrando no mercado de trabalho? Não. E quem é o responsável? O estado? A faculdade? Os indivíduos? “, continuou. “Não há resposta certa para isso.”
Para Marmolejo, antes de se pensar em investimentos e demandas para as universidades, deve acontecer uma reformulação geral na forma como o governo e as instituições particulares veem a produção de conhecimento.
“As universidades competem por recursos limitados e oferecem impactos pouco evidentes para a sociedade”, afirmou. “Mas injetar recursos públicos no ensino superior buscando resultados ambiciosos é inteligente?”, indagou. “O ensino superior é um bem, mas não é privado, nem estatal, pois os seus resultados não são apenas financeiros”, finalizou.