O uso de laptops, tablets e videogames como ferramentas para o aprendizado foi o tema da terceira sessão do Simpósio Internacional sobre Ciência para Educação, realizado nos dias 5 e 6 de julho, no Rio de Janeiro. A sessão teve como mediador Antonio Roque, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). O evento fez parte do Congresso Mundial de Neurociência da Organização Internacional de Pesquisa do Cérebro (IBRO, na sigla em inglês).
Segundo o Acadêmico Roberto Lent, um dos organizadores do evento e fundador da Rede Nacional de Ciência para Educação (CpE), um dos principais objetivos do simpósio foi estabelecer o diálogo entre os pesquisadores que estudam temas relacionados à educação. O encontro também contou com o apoio do Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos que trabalha para ampliar as oportunidades de crianças e jovens por meio da educação.
Cada vez mais frequente dentro das salas de aula, as novas tecnologias permitem acesso rápido à informação e interação online. Com essa expansão, existe a necessidade de entender como elas podem ser aproveitadas para a melhoria do ensino em escolas e universidades.
Habilidades espaciais
O pesquisador David Uttal, da Universidade Northwestern (EUA), abriu a sessão explicando sobre o aprendizado espacial e as tecnologias. Segundo ele, habilidades espaciais dizem respeito à sua capacidade de entender problemas matemáticos – que envolvam espaços físicos, formas 2D e 3D – e para o uso de metáforas espaciais do dia a dia.
O pensamento e a representação espacial têm importância evolucionária para qualquer organismo vivo que se move. Entre os seres humanos, a inteligência espacial se manifesta de várias maneiras. Manipular e formar imagens mentalmente é uma habilidade espacial que engenheiros e designers dependem para sua profissão, por exemplo.
O estudo que Uttal desenvolveu juntamente com as pesquisadoras Megan Sauter e Nora Newcombe (Temple University, EUA) – esta última também palestrante do simpósio -, mostrou que habilidades espaciais são, na verdade, maleáveis. Pessoas de todas as idades podem melhorá-las por meio de treinamento.
Learning Design e a desigualdade no aprendizado
A pesquisadora Nancy Law, da Universidade de Hong Kong, falou sobre Learning Design e suas contribuições para a aprendizagem virtual. Learning Design é uma estrutura baseada na investigação para o desenvolvimento dos conteúdos de educação; uma prática de planejamento, sequenciamento e gerenciamento de atividades de aprendizagem. Por meio desse processo educacional, é possível descrever o cenário de aprendizado do aluno.
Em sua fala, Law destacou o projeto em que atualmente trabalha. “Desenvolvemos juntamente com professores de educação superior um curso online em que utilizamos Learning Design através de plataformas digitais. O feedback tanto dos alunos quanto dos próprios professores tem sido muito bom.”
O MOOC, do inglês Massive Open Online Course, é um curso aberto ofertado por meio de ambientes virtuais de aprendizagem. Esse recurso faz parte da pesquisa de Law, que considera o curso uma maneira “diferente e dinâmica” em termos de aprendizado.
“O curso é dividido em quatro partes. A primeira seção é uma introdução com os objetivos e com as orientações para usar as ferramentas disponíveis. As outras três são debates sobre os conteúdos da disciplina. O aprendizado do curso é baseado na participação do aluno nas discussões online”, explicou.
Para o pesquisador John Stamper, da Carnegie Mellon University (EUA), o MOOC é uma boa opção para um ensino mais dinâmico e igualitário. Stamper acredita que a sala tradicional ainda será o cenário principal das aulas por muitos anos e que o uso das tecnologias no aprendizado já é uma “realidade econômica”.
O cientista comentou sobre a Waldorf School, uma escola privada localizada no Vale do Silício, na Califórnia (EUA) – em que funcionários da Google, Apple e outras empresas líderes no setor de tecnologia e computação matriculam seus filhos – que educa os alunos longe de qualquer tipo de display. Segundo Stamper, alguns pais escolhem essa escola pois acreditam que as “telas” atrapalham o aprendizado. O computador deixa de ser apenas uma ferramenta e passa a “pensar” pelo aluno. No entanto, o pesquisador reconhece que em breve toda criança e jovem, sejam pobres ou ricos, serão forçados a depender de tecnologia.
“Infelizmente, a diferença financeira vai continuar criando uma desigualdade de aprendizado”, argumentou. “As crianças pobres até poderão ter seu próprio tablet, por exemplo, porém, as crianças ricas sempre terão os professores mais caros, uma melhor educação. Por isso temos que garantir que essas tecnologias sejam boas. Além disso, os professores devem estar preparados para criar conhecimentos por meio de diferentes plataformas e os alunos devem realmente entender essas ferramentas para ter um melhor aprendizado”, declarou.
O pesquisador também discorreu sobre o uso de “big data” na área educacional. “big data” é um termo utilizado para descrever grandes volumes de dados, algo que ganha cada vez mais relevância à medida que a sociedade se depara com um aumento no número de informações geradas a cada dia. O “big data” permite analisar qualquer tipo de informação digital, sendo importante para a tomada de decisões.
Stamper utiliza o “big data” para melhorar as tecnologias para o aprendizado, por meio de um “repositório de informações” – uma espécie de central contendo todo histórico de conhecimento de pessoas de dez estados dos Estados Unidos.
“Criamos um laboratório virtual para analisar melhor as diferentes dificuldades de aprendizado. Como uma espécie de repositório, temos acesso direto a qualquer dado”, revelou. “Trabalhamos em diversos campos, como línguas, matemática, ciências. Podemos analisar os dados e observar a curva de aprendizado e o tempo que cada pessoa leva para aprender determinado conteúdo. É difícil determinar as habilidades que cada aluno tem; e pela curva de aprendizado nós podemos observar quais alunos estão tendo dificuldades e quais estão com um melhor desempenho”.