Dormir, comer bem e brincar são atividades essenciais para o desenvolvimento das crianças e estão relacionadas diretamente ao aprendizado. O neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), apresentou os resultados de pesquisas feitas com animais e seres humanos que mostraram que a escola precisa dar mais importância a esses fatores.
A palestra aconteceu no Simpósio Internacional sobre Ciência para Educação, que aconteceu em julho, no Rio de Janeiro. O encontro foi um evento satélite do Congresso Mundial do Cérebro (IBRO 2015), que teve como um dos organizadores o Acadêmico Roberto Lent e contou com o apoio do Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos que trabalha para ampliar as oportunidades de crianças e jovens por meio da educação.
Ribeiro explicou que as brincadeiras e os exercícios físicos têm uma forte relação com o processo de aquisição e manutenção da memória. Ainda assim, esse tipo de atividade é tratado com pouca significância pelas escolas que, quando precisam fazer mudanças em suas grades horárias, costumam descartar, primeiramente, essas aulas.
Já a alimentação deve estar relacionada ao ensino nas escolas, de forma a utilizar melhor a metacognição. Sabe-se, por exemplo, que uma dieta rica em gordura torna o aprendizado mais lento e que usar a comida em um sistema de recompensa pode gerar condutas desejáveis. “Se a criança come, ela aprende mais”, afirmou Ribeiro, ressaltando que o mais importante é o aluno compreender qual é o momento certo de se alimentar, de aprender e por que ele está ali: “As crianças têm que entender melhor por que elas estão na escola. Elas não sabem, acham que é porque os pais precisam trabalhar e estão lá apenas passando o tempo”.
Dormir para aprender
O neurocientista explicou uma série de testes, realizada por sua equipe, com 584 alunos de 10 a 15 anos de sete escolas de Natal, no Rio Grande do Norte. As turmas foram divididas em dois grupos, um que tirava uma soneca após a aula e outro que ficava em vigília. Depois, ambos eram testados em temas como matemática, geografia e ciências. Os testes eram surpresa, sendo aplicados alguns dias depois.
O grupo que cochilava após a aula tinha uma retenção de memória 10% maior, aproximadamente, que a do grupo que permanecia acordado. “A privação do sono prejudica o aprendizado”, apontou Ribeiro, acrescentando que as duas fases do sono, tanto a inicial quanto a REM (de movimento rápido dos olhos) estão relacionadas a esse processo.
Os pesquisadores observaram que dormir não aumenta a quantidade de aprendizado, mas parece aumentar a duração dele. “Outra constatação que fizemos foi que os alunos podem ter interpretado o sono como uma recompensa.”
O problema, afirmou Ribeiro, é que as escolas não costumam estar abertas a oferecer espaço em seus cotidianos para cochilos, por conta de seu formato baseado em um conteúdo intenso. “Os professores alegam: por que eu vou deixar meus alunos dormirem se eles vão aprender só 10% a mais? É muito pouco. Eu não sei responder a essa pergunta, mas acredito que um aprendizado de 10% a mais por dia pode significar muito em um ano.”
O pesquisador reforçou que o sono tem importância não apenas depois da aula, mas antes também. “Quando as crianças chegam à escola sem terem dormido na noite anterior, sabemos que elas não vão aprender.”
A escola dos sonhos
Sidarta Ribeiro comentou que, na escola dos seus sonhos, todas as necessidades dos alunos são atendidas. “Vamos recebê-los e dar a eles tudo que precisam – jogar capoeira, comer, dormir -, depois perguntamos: vocês estão felizes? Se a resposta for sim, então pronto, agora podemos ter uma aula.”
Ele também afirmou que, em um cenário ideal, seria estudada não apenas a curva média do aprendizado da turma, mas também o de cada indivíduo, com seus altos e baixos. “Assim, seriam identificados os momentos em que eles ocorrem para definirmos o seguinte: se em determinado ponto o aluno aprendeu mais, então pode comer um pouco ou dormir para consolidar aquele aprendizado.”
“As crianças falam quando têm que ir ao banheiro, não somos nós que decidimos”, continuou Ribeiro. “Então, por que temos que falar para ela quando ela deve comer ou dormir? Temos que ouvi-las mais.”