Em conferência sobre água, energia e serviços ambientais, o Acadêmico Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirmou que a energia eólica poderia suprir a necessidade energética do Brasil inteiro. Esse potencial se deve ao fato de termos um litoral com ventos constantes, o que é favorável ao desenvolvimento dessa matriz energética. A palestra aconteceu durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada de 12 a 18 de julho, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O biólogo acrescentou, no entanto, que, ainda assim, seriam necessárias outras fontes de energia, para evitar que o país dependesse exclusivamente da energia eólica, o que não seria prudente. Fearnside, norte-americano que estuda problemas ambientais na Amazônia desde 1974, falou também sobre os impactos das hidrelétricas nessa região. “Estamos exportando energia para os outros países, mas os impactos ficam no Brasil e, principalmente, na Amazônia. Quem paga são os ribeirinhos e indígenas. Esse é o caminho sensato para desenvolver o país?”, questionou.
Entre os aspectos negativos das hidrelétricas, Fearnside destacou as enormes perdas de transmissão, de cerca de 20% – na Argentina, são apenas 8%. “E isso porque estamos falando da transmissão de Itaipu, no Paraná, para São Paulo. Haverá ainda mais perda das hidrelétricas novas da Amazônia, como Belo Monte, para o sudeste.”
O pesquisador lembrou, ainda, que, em janeiro de 2013, foram revelados dados sobre as doações de campanhas eleitorais e as quatro maiores eram oriundas, justamente, das grandes empreiteiras que estão construindo hidrelétricas na Amazônia. “Fora os esquemas de propina na construção de Belo Monte sendo revelados recentemente.”
Um dos maiores impactos da construção de hidrelétricas na região, segundo Fearnside, é em relação às espécies de peixes. Essas usinas alteram os trajetos naturais de migração desses animais, o que acaba afetando, inclusive, o sustento das populações ribeirinhas, que dependem da pesca. As barragens do Rio Madeira, por exemplo, afetaram mais de 2 mil famílias.
Segundo o Acadêmico, os dispositivos de transmissão, espécies de rios artificiais construídos com a intenção de direcionar o trajeto dos peixes e solucionar o problema, são ineficazes, porque o instinto desses animais é seguir pelo rio principal. Ele informou que, contra Belo Monte, já há 20 processos na Justiça por parte dos índios, que não foram consultados.
Um dos principais impactos de Belo Monte acontece em Altamira. “Por causa da construção da usina, na época da água alta do Rio Xingu, a inundação vai expulsar mais ou menos um quarto da cidade, gerando caos social. Com iisso, o aluguel está quatro, cinco vezes mais caro – não só por causa da quantidade de gente que foi trabalhar lá, mas também por conta das pessoas precisando deixar suas casas.”
Fearnside contou o caso do Complexo Hidrelétrico do Tapajós, que deve gerar um enorme impacto sobre terras indígenas, com o alagamento de grandes reservas. Segundo o palestrante, a raiz do problema está na lei 8.437, de 1992. O dispositivo permite a suspensão da execução de liminar nas ações movidas contra o Poder Público em caso de “grave lesão à economia pública”. “Ou seja, usando esse argumento de evitar lesão à economia pública, qualquer ação pode ser revertida”, disse o biólogo, informando que essa prerrogativa já foi usada 12 vezes no caso de Tapajós.
Ele destacou, ainda, que as hidrelétricas têm grandes impactos ambientais, gerando forte emissão de gases de efeito estufa. Para piorar a situação, os projetos de crédito de carbono para a região amazônica são bastante permissivos. “São Paulo, a maior cidade do país, é responsável por 10% do carbono emitido por toda a população brasileira. Esses projetos estão permitindo a emissão de uma São Paulo para cada barragem do Rio Madeira”, alertou Fearnside.