O deputado Alex Canziani (PTB-PR) deve apresentar, nos próximos dias, um projeto de lei para instituir no calendário oficial do país o Biênio da Matemática 2017-2018. Nesses dois anos, o Brasil sediará a Olimpíada Internacional da Matemática (2017) e o Congresso Internacional de Matemáticos (2018).
Parlamentares e matemáticos ressaltam a importância da disciplina para o desenvolvimento do país (Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)
“Se a Câmara e o Senado aprovarem o biênio, nós temos que aproveitar para fazer uma série de outros eventos para popularizar cada vez mais a Matemática, para criar a cultura da Matemática no nosso País”, afirmou o parlamentar nesta quarta-feira (15), após coordenar debate com matemáticos acerca da importância da disciplina para o País. O evento foi promovido pela Frente Parlamentar da Educação, em parceria com a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
“A Matemática é de fundamental aplicação na vida das pessoas. Se o Brasil hoje busca trilhar um caminho na educação da melhor qualidade, não há como falar de educação sem falar de Matemática”, acredita Canziani.
A opinião foi compartilhada pelos matemáticos Marcelo Viana, Artur Ávila e Yuan Jinyun, que participaram do debate.
Formação humana
Segundo o Acadêmico Marcelo Viana, que é presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), a disciplina não só contribui para a produtividade de um país, mas também é componente da formação do ser humano. “É uma condição de cidadania, de realização individual. Ter formação matemática é como ter um sexto sentido, é ver coisas que mais ninguém vê”, afirmou.
Também para o pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e primeiro ganhador da Medalha Fields na América Latina, o Acadêmico Artur Ávila, a formação em Matemática garante ao indivíduo melhores formas de interagir na sociedade.
“Um cidadão despreparado matematicamente vai ser bombardeado, até no Facebook. A Matemática permite às pessoas perceber que certos tipos de informação não fazem sentido, que estatisticamente aquilo não faz sentido”, disse Ávila.
Sem contar que às vezes as descobertas na Matemática levam a aplicações em outros setores. “Os matemáticos que estão se divertindo descobrem coisas que são fundamentais e serão aplicadas na vida prática, por exemplo, o tempo que se deve ficar dentro de um aparelho de tomografia computadorizada”, observou ainda o pesquisador.
Para Ávila, o que faz uma criança se interessar por matemática não é o PIB (Alex Ferreira / Câmara dos Deputados)
Ensino
Apesar da importância da matemática, os debatedores avaliaram que o Brasil não está estimulando adequadamente o interesse pela disciplina em crianças e jovens. “O que vai fazer uma criança se interessar por matemática não é o PIB [Produto Interno Bruto] do País, mas o prazer que se tem na atividade”, avaliou Artur Ávila.
A forma como a disciplina é ensinada e, portanto, a formação do professor são pontos que contam na hora de garantir esse interesse. “Os professores não sabem o que ensinar, são inseguros”, afirmou Marcelo Viana. Para ele, o Brasil deve estimular o aperfeiçoamento do professor. Ele defendeu, inclusive, remunerações diferenciadas para valorizar os docentes mais esforçados.
Por outro lado, o chinês Yuan Jinyun, que é diretor do Instituto de Matemática Industrial (IMI) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), observou que o governo chinês tem políticas para incentivar pessoas formadas em Matemática a trabalhar em diversas áreas.
Já o deputado Alex Canziani acredita que uma forma de estimular o interesse pela disciplina é estender a abrangência da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, promovida pelo governo federal em parceria com a SBM e o Impa, também para as escolas particulares. “Nós temos que dar oportunidade também aos alunos das escolas privadas.”
Além da competição nas escolas públicas, o Brasil também realiza a Olimpíada Brasileira de Matemática, organizada pela SBM e aberta a alunos de instituições públicas e particulares.