A relação entre luz e inovação foi tema de conferência do Acadêmico Carlos Aragão, na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em São Carlos, de 12 a 18 de julho. Representando o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), onde é diretor de Inovação e Tecnologia, o físico falou sobre importantes invenções tecnológicas possibilitadas pela luz. A palestra fez parte das atividades do Ano Internacional da Luz, iniciativa proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Exemplos abrangentes
Luz, explicou Aragão, é radiação eletromagnética. O nome, no entanto, é usado de uma forma mais ampla. Entre as inovações decorrentes dela, inclui-se a fibra ótica, que permite a conexão pela internet. Outro exemplo é a lâmpada elétrica. “Não foi algo trivial; foram vários experimentos feitos até que se fez com que uma corrente elétrica passasse por um fio metálico, fazendo com que os elétrons se chocassem.” Essa tecnologia se desenvolveu até chegar às lâmpadas LED, mais econômicas e com mais durabilidade. Hoje, já temos também as lâmpadas OLED, ainda mais econômicas e duráveis que a LED, além de flexíveis.
Outros exemplos de inovações possibilitadas pela luz são o cinema e a fotografia, além da descoberta do laser, que faz um uso interessante de fótons, descritos por Aragão como um “fluxo de pequenos pacotinhos de energia”, descarregados em cima de um material. Outra tecnologia são os cristais líquidos (LCD), que permitem imagens cada vez mais bem definidas.
“Para nós, a luz fornece uma maneira de conhecer o que está ao seu redor”, afirmou Aragão. “O olho recebe essa radiação eletromagnética e já tem todo o sistema de decodificação do que está entrando e transforma em imagens. Tudo que se fez com a luz foi uma tentativa de reproduzir esse processo natural – usar a radiação para inferir informações sobre aquele objeto.” Mais exemplos dessa reprodução são a tomografia e a ressonância magnética, em que a radiação eletromagnética incide sobre um objeto e capta uma imagem.
A luz também tem um papel crucial na radiação síncrotron em que, a partir do espalhamento ou da refração, é possível, por exemplo, estudar moléculas para a produção de fármacos. O Brasil tem um laboratório destinado a essa tecnologia: o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
“Ou seja, a partir da luz, foi possível obter uma série de inovações, que mudaram a nossa maneira de viver e de se comunicar”, destacou o físico. Ele lembrou que inovação é todo novo produto, processo ou serviço que é disponibilizado para a sociedade e, principalmente, usado por ela. É algo que tem um valor para a sociedade, não só econômico. A inovação, então, promove uma mudança nas relações econômicas e na maneira da sociedade funcionar.
O desafio brasileiro
No caso do Brasil, ressaltou Aragão, temos um desafio em relação à inovação. Hoje, o país é responsável por 2,7% de tudo que se produz de ciência no mundo; é o 13º em produção científica. O Brasil também aumentou a sua capacidade de formar mestres e doutores – atualmente, são titulados em torno de 40 mil mestres e 13 mil doutores por ano. “Logo teremos cerca de 200 mil pesquisadores, é uma quantidade boa, mas em números absolutos da população, ainda há muito a avançar.”
No ranking do Global Innovation Index, o país está em 61º lugar. Somos o 30º em exportação de bens manufaturados, apesar de sermos a 7ª economia do mundo. Apenas 1,2% do PIB são investidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), sendo a média dos países membros da OCDE igual a 2,4%.
Para superar esse desafio, apontou o Acadêmico, é preciso criar um ecossistema de inovação, promover a cooperação entre laboratórios de pesquisa de primeira classe e as companhias nacionais e combater comportamentos conservadores, porque inovar consiste em assumir riscos. Há casos brasileiros de sucesso, como a Petrobras, que é referência em prospecção em águas profundas e tem muitas parcerias com universidades. O Proálcool, criado em 1985, é outro exemplo, pois foi responsável por misturar gasolina ao bioetanol, um combustível menos poluente. “Hoje, a produção de etanol é equiparável à de gasolina no país.”
O Inmetro e a inovação
Carlos Aragão explicou que a metrologia é uma ciência de medição de suas aplicações e avaliação das incertezas, e tem tudo a ver com inovação. Ele informou que 5% do PIB dos países industrializados estão ligados à metrologia, um índice bastante alto, e 80% do comércio global é ligado a padrões, normas ou regulamentos (OCDE).
O Inmetro tem varias competências, como metrologia legal (ligado ao poder de polícia; fiscaliza, por exemplo, se os produtos sendo vendidos cumprem as normas), avaliação da conformidade, acreditação (rastreabilidade), relações internacionais (quase inerente a esse tipo de atividade) e metrologia científica e industrial. Também atua em áreas de fronteira: nanotecnologia, ciências da vida e saúde, biocombustíveis, ciências forenses, energia e meio ambiente e materiais de referência certificados (MRC).
As ciências forenses, por exemplo, envolvem atividades como a identificação de ossos e de resíduos de pólvora em disparos de arma de fogo. Já a área de energia e meio ambiente busca novos materiais para células solares e a utilização de óleos vegetais para biocombustível.
Aragão ressaltou que a Diretoria de Inovação e Tecnologia (DITEC) do Inmetro tem o papel de implantar uma política de inovação tecnológica e propriedade intelectual, fundamentais para a consolidação das atividades de pesquisa. “A DITEC tenta usar a expertise e infraestrutura que o Inmetro tem para atacar os desafios tecnológicos para o setor produtivo, provendo soluções inovadoras.”
Ele citou algumas iniciativas interessantes do instituto para fomentar a inovação. Um deles é o Programa Empresa Visitante, que oferece P&D e serviços de interesse da empresa para que ela fique melhor aparelhada e, assim, possa se diferenciar no mercado. O Inmetro também promove parcerias e estudos e criou uma incubadora de projetos, além de um grande parque tecnológico na sede, em Xerém, no estado do Rio de Janeiro.