“Luz, ciência e ação” é o tema da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), o maior encontro científico da América Latina. Neste ano, o evento acontece em um polo da pesquisa no Brasil: a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo. A abertura reuniu cientistas de todo o país, entre eles muitos Acadêmicos, e incluiu uma novidade anunciada pelo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro: o lançamento de dois novos editais da Capes para a produção de biografias e pesquisas sobre insurreições populares. A secretária-geral da SBPC e membro titular da ABC, Regina Pekelmann Markus, deu início ao evento, saudando a todos os presentes.
Os Acadêmicos Jorge Guimarães e Glaucius Oliva, a esposa de Oliva, Cláudia Tofaneli, e o vice-presidente da ABC,
João Fernando Gomes de Oliveira, presentes na cerimônia de abertura
A mesa de abertura foi composta pela presidente da SBPC e Acadêmica, Helena Nader; pelo ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), Aldo Rebelo; pelo ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro; pelo secretário de Estado da Educação, Herman Jacobus Cornelis, que representou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; pelo reitor da UFSCar e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Targino de Araújo Filho; pelo prefeito de São Carlos, Paulo Altomani; pelo presidente do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), o Acadêmico Hernan Chaimovich; pelo presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luis Fernandes; pelo Almirante-de-Esquadra Sergio Roberto Fernandes dos Santos, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha do Brasil; pelo presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Luiz Gargioni; pelo diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Acadêmico Carlos Henrique de Brito Cruz; pelo presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), Newton Lima Neto; pelo presidente de honra da SBPC, o Acadêmico Sérgio Mascarenhas de Oliveira; pelo vice-reitor da UFSCar, Adilson de Oliveira; pelo deputado federal Sibá Machado (PT/AC); pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, pela secretária executiva do MCTI, Emilia Maria Silva Ribeiro; pelo secretário executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa; e pela presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Tamara Naiz.
Regina Pekelmann Markus, Sibá Machado, Jacob Palis, Luiz Cláudio Costa, Sergio Roberto Fernandes dos Santos, Newton Lima Neto, Sérgio Mascarenhas de Oliveira, Targino de Araujo Filho, Renato Janine Ribeiro, Herman Jacobus Cornelis, Helena Nader, Aldo Rebelo, Paulo Altomani, Hernan Chaimovich, Carlos Henrique de Brito Cruz, Adilson de Oliveira, Sergio Luiz Gargioni, Emilia Maria Silva Ribeiro e Tamara Naiz
Homenagens e críticas aos cortes de verbas
Regina Markus chamou o pesquisador José Antônio Aleixo, diretor da SBPC, para ler um texto em homenagem ao falecido Acadêmico Hildebrando Pereira da Silva, exaltando seus importantes feitos em Rondônia, na pesquisa sobre a malária e no combate à ditadura, em uma “trajetória longa, incansável e repleta de contribuições à ciência”. Em seguida, o filho de Hildebrando, Luiz Pereira da Silva, recebeu uma placa em homenagem ao pai.
Outro renomado cientista e Acadêmico recentemente falecido, Leopoldo De Meis, também foi homenageado, pela pesquisadora Claudia dAvila Levy. “Foi um cientista completo, que estimulou que pessoas leigas tomassem gosto pela ciência”, afirmou. A Acadêmica Vivian Rumjanek, viúva do Acadêmico, recebeu a placa em homenagem a De Meis. Também foi feita uma homenagem a Mario Tolentino, um importante educador de ciências de São Carlos, por Antonio Carlos Martins Camargo.
O vice-reitor da UFSCar, Adilson de Oliveira, lembrou a bem sucedida 66ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Rio Branco, no Acre, e comemorou o fato de a edição atual acontecer na UFSCar. “Foram muitos esforços e tenho certeza de que, assim como a Universidade Federal do Acre, sairemos transformados dessa experiência. Hoje, São Carlos está pintada com a imagem de luz.”
O prefeito de São Carlos, Paulo Altomani, saudou todos os visitantes da cidade, “capital da tecnologia”, ali presentes, e agradeceu os Acadêmicos Sérgio Mascarenhas e Yvonne Primerano Mascarenhas, cientistas fortemente reconhecidos em São Carlos, “por tratar os estudantes da USP como seus filhos”. Ele afirmou que a 67ª Reunião Anual é o resultado da união de pessoas empreendedoras e prestou homenagens aos ministros de CT&I e da Educação, ao reitor da UFSCar e ao secretário de Educação do Estado de São Paulo.
Regina Pekelmann também deu espaço para que um representante de um grupo de manifestantes – Rogério Marzola, diretor da Fasubra Sindical – discursasse. Ele criticou os cortes de verbas da ciência e tecnologia. “Devemos lutar de fato por uma educação e pesquisa inclusivas, que nos permitam ver a diversidade de gênero e racial que existem no país. Temos uma greve, iniciada em 18 de maio, que visa a valorizar os trabalhadores da educação, por isso viemos fazer esse momento de reflexão dentro da SBPC.”
Em seguida, o ministro Aldo Rebelo e o presidente do CNPq, Hernan Chaimovich, entregaram o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica ao presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Ernani Gadelha. A instituição, que tem fortes iniciativas de divulgação científica, foi a vencedora da 35ª edição do prêmio.
Aldo Rebelo, Paulo Gadelha e Hernan Chaimovich
O secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Herman Jacobus Cornelis, ressaltou o papel da Fapesp no financiamento das pesquisas, e enfatizou a importância de mudanças na educação básica. “É essencial entender que o ensino médio deve preparar o jovem para que ele dê continuidade ao grande avanço do país em ciência e tecnologia.”
A presidente da ANPG, Tamara Naiz, comemorou o aniversário da entidade, fundada dentro de uma Reunião Anual da SBPC, e lembrou que o ex-ministro de CT&I Marco Antônio Raupp, presente na abertura, afirmou que “a ANPG é a SBPC de amanhã”. Ela defendeu mais investimentos na educação, ciência e tecnologia no país e se manifestou contra os cortes de verba nessas áreas.
O reitor da UFSCar, Targino de Araújo Filho, lembrou a vitória do deputado federal Sibá Machado, na última semana, com a aprovação na Câmara da criação do Código Nacional de Ciência e Tecnologia. Ele disse ser marcante realizar a 67ª Reunião Anual em um momento de comemoração dos 45 anos da UFSCar. Destacou, ainda, ser importante lidar com os cortes de verba decorrentes do ajuste fiscal para garantir a manutenção dos programas estruturantes, de modo que, superada a crise, continue se buscando implementar as metas do Plano Nacional de Educação e o desenvolvimento social. “Lembro, também, que temos uma novidade no encontro deste ano: A SBPC Inovação, já que estamos em um polo de tecnologia.”
Novos editais da Capes
O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, anunciou dois novos editais de ciências humanas que a Capes vai lançar nos próximos dias. O primeiro será na área de biografias: “O Brasil ainda carece de biografias de qualidade de seus personagens históricos. Esse edital pretende incentivar nas pós-graduações a produção de biografias. Será aplicado a partir do ano que vem”. O outro edital será sobre as insurreições. “A história do Brasil ainda não documentou tanto quanto deve as insurreições populares. Revoltas nos anos 50 e 60 no Tocantins, por exemplo, não foram cobertas. Temos que estudar as revoltas populares e recuperar o teor de conflitividade na sociedade brasileira.”
O ministro de CT&I, Aldo Rebelo, apontou que o mundo se depara com desafios que as ciências precisam responder, como a urgência de alimentar populações subnutridas em um contexto de aumento da escassez. “Vemos a retomada de ódios históricos, nacionalismos intolerantes, xenofobia, mas temos também nossos próprios desafios. Nossa política de ciência, tecnologia e inovação tem que estar voltada para dotar nosso país de autonomia e emancipá-lo cientificamente, para não nos tornarmos uma colônia científica e de pesquisadores, dirigidos pelos interesses ou necessidades que não sejam os nossos.”
Rebelo informou que bolsas de graduação e alguns programas podem deixar de ser financiados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) por não terem vínculo direto com o seu propósito, o que é um apelo comunidade científica, e seus recursos viriam de outras fontes. Em relação aos 50% restantes do Fundo Social do Pré-Sal (a primeira parte foi destinada à educação e saúde), afirmou: “A presidente Dilma Rousseff me garantiu que dará prioridade à ciência e pesquisa na quota restante. Ela me pediu que preparasse um estudo com apoio da SBPC e ABC para fundamentar uma participação maior da ciência e da pesquisa nesses recursos”.
Mais recursos para ciência e pesquisa
Helena Nader destacou a ligação do tema da reunião deste ano com o Ano Internacional da Luz. Comentou, também, que a novidade da ultima reunião, o Dia da Família na Ciência, será repetida nesta edição. Ela criticou os recentes cortes de verbas na educação e ciência, afirmando que os impactos negativos de investimentos deficientes nesses setores só serão percebidos em longo prazo. “A produção científica vem crescendo em número, mas a irregularidade de recursos poderá levar, em pouco tempo, à sua estagnação e atingirá, sobretudo, os jovens pesquisadores ainda em fase de afirmação recentemente contratados.”
Ela reconheceu o esforço do MCTI na busca de novas fontes de financiamento, inclusive no exterior, mas relembrou um tema mencionado previamente por Aldo Rebelo: “Há a urgência de retirar o financiamento de um programa digno, que é o Ciência sem Fronteiras, de um local errado, que é o FNDCT, que não foi desenhado para esse propósito”. Já em relação aos recursos provenientes da exploração do pré-sal, Helena reiterou a importância de destinar 10% do fundo a C&T e, sobre a educação, afirmou que os cortes não devem atingir programas estruturantes, como a pós-graduação. “Há uma grave situação no país que vai além do aspecto econômico, que é o conjunto de deficiências do nosso sistema educacional e científico. A fragilidade provoca danos profundos e de longo prazo não só na vida econômica, mas também na sociedade como um todo, especialmente nos cidadãos de baixa renda.”
A Acadêmica também agradeceu a reeleição para a presidência da SBPC e, emocionada, afirmou que continuará a luta para que a instituição se mantenha como a voz da ciência na sociedade.