O biólogo Leonardo Holanda Travassos Corrêa nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro. Mais velho entre três irmãos, sendo um veterinário e outro advogado, o novo membro afiliado da ABC, eleito para o período de 2015-2019, já tinha interesse por essa disciplina desde criança.
“Em relação às matérias que eu mais gostava na época do colégio, em primeiro lugar vinha biologia; em segundo, biologia; e por último, biologia”, brinca Travassos. “Eu era realmente bom nessa disciplina. Nas outras, eu era apenas regular, talvez nem isso”, conta, divertindo-se.
Travassos tem boas recordações das idas quase diárias à praia das Flechas, localizada no mesmo bairro de sua casa, Ingá. “A rotina era dura: banho de sol na praia ou na praça do Ingá pela manhã e à tarde, escola”, relembra, com ironia.
Em 1980, o futuro cientista e a família se mudaram para outro bairro e, consequentemente,o menino foi matriculado em uma nova escola. Para Travassos, o Colégio Rui Barbosa era especial por ser perto de casa e por agregar uma pequena “fazenda”, onde cada turma tinha a sua própria casa e um espaço para brincar na horta e pomar.
Durante a infância, Travassos e seus irmãos passavam as férias jogando futebol e taco. Com frequência, os meninos tinham que capinar o terreno para jogar bola e, na maioria das vezes, essa tarefa se tornava uma grande aventura, pois cada um dava sua opinião sobre a melhor estratégia a ser usada.
A carreira científica
Travassos diz que seu interesse pela ciência surgiu durante a faculdade e que não teve ninguém como modelo. “Foi algo natural, como se fosse a única coisa a ser feita: seguir a carreira acadêmica”, revela.
Logo no segundo período do curso de ciências biológicas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Leonardo Travassos começou a iniciação científica em um projeto intitulado “Fisiopatologia da Leptospirose”, coordenado pelos professores Mauro Velho de Castro Faria e Patricia Burth.
Quando cursou a disciplina de microbiologia e imunologia, o biólogo sentiu que havia descoberto a área que gostaria de se aprofundar e desenvolver projetos de pesquisa.Após ser aceito no laboratório da professora Elizabeth de Andrade Marques, Travassos passou a trabalhar em um projeto cujo objetivo era a montagem de um esquema de identificação de Staphylococcous coagulase-negativa para uso em laboratórios de bacteriologia clínica. O projeto, que parecia simples, mostrou-se de grande potencial,o que foi confirmado pelos diversos prêmios e menções honrosas que recebeu em diferentes reuniões científicas no Brasil e no exterior.
Durante o mestrado em microbiologia na Uerj, ainda sob a orientação da professora Elizabeth, Travassos analisou diferenças fenotípicas e genotípicas em amostras de Stenotrophomonas maltophilia obtidas em diferentes hospitais da cidade do Rio de Janeiro. Quase ao final do curso, seu pai faleceu e, apesar da angústia, o biólogo conseguiu completar o curso a tempo.
O mestrado foi concluído, mas Travassos estava incerto sobre o que fazer. Foi quando a professora Maria Cristina Maciel Plotkowski lhe ofereceu uma bolsa de doutorado-sanduíche através do convênio Capes-Cofecub, na unidade Inserm U514, em Reims, na França.
Após seis meses, os resultados apontaram para caminhos distantes da cidade de Reims. Mais especificamente, para Paris, no Grupo de Imunidade Inata e Sinalização no Instituto Pasteur, chefiado pela doutora Dana Philpott. “Ela é, sem dúvidas, uma das pessoas que mais influenciaram a minha carreira. No Instituto Pasteur, conheci grandes pesquisadores, com os quais ainda hoje tenho contato”, afirma.
O trabalho de Travassos teve como foco o entendimento de como o nosso sistema imune detecta organismos invasores e quais armas são empregadas para a sua eliminação. Neste sentido, ele estudava as proteínas do hospedeiro que participam do reconhecimento desses invasores. “A pesquisa descreve um grupo de proteínas localizadas dentro das células, denominadas Nod (nucleotide and oligomerization domain). Nossos estudos contribuíram para a identificação das proteínas Nod como detectores de uma porção específica da parede de bactérias que entram nas nossas células. Graças ao conhecimento adquirido durante minha passagem pelo laboratório da doutora Dana Philpott, publicamos o primeiro artigo sobre o tema no Brasil”, acrescenta.
Em 2006, o cientista voltou a trabalhar com Dana Philpott, desta vez como pós doutorando no Departamento de Imunologia da Universidade de Toronto, no Canadá.
De 2006 a 2010, o biólogo dedicou-se a entender como células eucarióticas de mamíferos detectam e destroem os microrganismos que conseguem penetrar dentro das células humanas. Atualmente, o grupo de Travassos busca compreender os mecanismos através dos quais estímulos inflamatórios levam à formação de agregados de proteínas no interior das células e o papel destes agregados na sobrevida da célula.
“O conhecimento desses mecanismos é importante, por exemplo, na área das doenças neurodegenerativas, que tem como base a agregação de algumas proteínas – entre elas, a mesma encontrada nos agregados que estamos estudando”, explica.
Atualmente, Travassos é professor adjunto do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ. Para ele, a ciência o encanta por possibilitar a construção do conhecimento com a colaboração de pessoas de formações diferentes.
“É extremamente gratificante podermos formular uma hipótese, testá-la e, eventualmente, comprovar sua validade”, diz. Ele também considera que a formação de recursos humanos é uma faceta muito interessante nessa carreira. “Passar adiante, não só o conhecimento que nos foi entregue por nossos professores e orientadores,mas também nossa experiência sobre situações vividas e perceber a confiança que os alunos depositam é uma sensação muito boa.”
Entrando na ABC
“Esse título é motivo de muita honra e orgulho para mim”, afirma Travassos, sobre ser nomeado membro afiliado da ABC. O biólogo teve a oportunidade de participar de alguns eventos na Academia e conta que, como membro, pretende representar,juntamente com outros jovens pesquisadores, as instituições das quais faz parte. Travassos acredita que sua atribuição como membro afiliado seja a de aproximar a ABC dos estudantes ainda iniciantes na carreira acadêmica.