O interesse de Paulo Gustavo Homem Passos pela área de zoologia remonta à sua infância. O biólogo, nascido em Volta Redonda, é o filho primogênito de Paulo Gustavo Roxo Passos e de Maria Helena Homem Passos. Por sua dedicação à pesquisa e excelência na área de ciências biológicas, foi eleito membro afiliado para o período de 2015-2019.

Seu pai era médico e, quando assumiu um cargo na fábrica de celulose localizada na divisa dos estados do Amapá e Pará (Projeto Jarí), o futuro cientista teve um contato mais estreito com a natureza. “Eu tinha dez anos quando, de uma hora para outra, saí de um universo totalmente urbanizado para viver em um local onde os limites entre a floresta amazônica e a civilização se restringiam às fronteiras do quintal da minha casa.Como era esperado, para um garoto desta idade, fiquei admirado com a diversidade de espécies de fauna e flora da região”, rememora.
Depois dos momentos de encanto com o novo lar, Passos começou a colecionar sistematicamente os animais que encontrava pelas redondezas. “De pássaros a aranhas,o quintal da minha casa era um verdadeiro zoológico. No início eu me interessei por reunir diferentes grupos, mas os animais venenosos sempre exerceram maior fascínio sobre mim, principalmente as serpentes.”
Usando os limitados conhecimentos adquiridos no colégio e nos livros, o futuro cientista reuniu uma respeitável coleção de espécimes vivos e preservados em álcool. “Minha atividade ficou tão famosa que os vizinhos, quando encontravam qualquer animal, vivo ou morto, prontamente levavam à minha casa”, lembra.
Desde que vislumbrara tamanha diversidade de formas na Amazônia, o cientista ficou determinado a trabalhar com zoologia e, assim, prestou vestibular para o curso de ciências biológicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Formação acadêmica
No segundo semestre de 1996, Passos ingressava na graduação. Seu interesse específico por sistemática foi despertado no terceiro semestre do curso durante a disciplina de Zoologia II, então ministrada pela professora Ana Claudia Brasil. “O enfoque usado na aula me fascinou pela objetividade e senso lógico. Passei a ler deforma compulsiva todos os livros que conseguia sobre o tema. Então decidi trabalhar com sistemática de serpentes”, conta.
Buscando iniciar uma linha de pesquisa dentro da área de sistemática de serpentes,Passos procurou o professor Ronaldo Fernandes no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para pedir um estágio de iniciação científica. “A IC foi um marco definitivo para minha formação acadêmica; me influenciou diretamente na opção de carreira e linhas de pesquisas a serem seguidas no futuro”, revela.
No estágio no laboratório do Museu Nacional – onde está abrigada a mais antiga coleção herpetológica do Brasil -, Passos identificava e catalogava serpentes.
“Quando ingressei no estágio, a coleção de répteis mais tradicional do país abrigavaapenas cerca de 6 mil espécimes devidamente catalogados, com grande parte de material do acervo encerrado em estantes aguardando triagem. Durante o período de estágio, fui responsável pela identificação de mais de 2 mil espécimes. Essa experiência foi muito importante para o aperfeiçoamento dos meus conhecimentos sobre taxonomia e morfologia de serpentes, e também sobre curadoria de coleções e nomenclatura zoológica”, conta.
Entre fevereiro de 2001 e fevereiro de 2003, o pesquisador cursou o mestrado em zoologia no Museu Nacional/UFRJ, onde emendou o doutorado. Sua tese visava a solucionar os problemas sistemáticos “do maior e mais complexo gênero” entre as serpentes. Para executá-la, Passos precisou fazer inúmeras viagens a países da América do Sul, em razão da ampla área de distribuição de seu objeto de estudo.
“Em todas estas visitas, tive a preocupação de analisar o material de meu interesse, auxiliar a identificação de material das referidas coleções e também de colaborar com os pesquisadores locais, promovendo um intercâmbio de conhecimento e uma linha de contato efetivo e duradouro entre as instituições. Essa proximidade resultou em vários convênios institucionais com troca de material biológico, fluxo de material humano e publicações em colaboração”, descreve.

Atuação profissional
Em março de 2008, o cientista prestou concurso e foi aprovado em primeiro lugar para o cargo de professor adjunto visitante do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional/UFRJ. Passos também foi pesquisador científico do Instituto Butantan entre junho de 2010 e maio de 2011, onde auxiliou no processo de recuperação do acervo e na captação de recursos externos para a recuperação da coleção científica e transição para o recém-criado Laboratório Especial de Coleções Zoológicas.
Atualmente, ele é professor adjunto e curador da coleção de répteis do Museu Nacional/UFRJ. Em 2011, o membro afiliado recebeu o prêmio Joseph Slowinski for Excelence in Snake Systematics, concedido pelo Centro de Herpertologia Norte-Americana. É editor de área (Serpentes do Novo Mundo) do periódico Zootaxa desde 2013.

Pesquisa
A principal linha de pesquisa do membro afiliado está relacionada à taxonomia, sistemática e evolução de répteis neotropicais, a partir de uma abordagem morfológica empregada com rigor estatístico e pautada na integração de distintos sistemas de caracteres (e.g., fenotípicos e genotípicos). “Os objetivos diretos deste enfoque são fornecer subsídios bem embasados para o inventário e conservação da diversidade neotropical de répteis, propor hipóteses de relacionamento filogenético em diferentes níveis hierárquicos e investigar processos causais que possam explicar a variabilidade morfológica, diversidade taxonômica e os padrões biogeográficos observados na região neotropical”, explica.

A importância da curadoria de coleções científicas
Para Passos, as coleções científicas são importantes por viabilizar e balizar as pesquisas desenvolvidas em praticamente todos os grandes ramos da biologia comparada, além de fornecerem subsídios para a definição de políticas e estratégias públicas voltadas à conservação e gestão da biodiversidade nacional. As coleções biológicas representam, ainda, repositórios documentais (espaço temporais) da diversidade da biota (micro-organismos, plantas e animais).
“O conhecimento da diversidade biológica no país detentor da maior megadiversidade do planeta é crucial para o crescimento econômico sustentável e melhoria das condições socioambientais da população brasileira”, afirma o pesquisador. Além disso, ele completa, a curadoria de coleções científicas constitui uma das atribuições mais importantes dos docentes do Museu Nacional, por exemplo, pois eles documentam e gerenciam parte da biodiversidade nacional, além de formarem recursos humanos qualificados em taxonomia.

Um ser eclético
Além do interesse pela zoologia, Passos tem outros gostos, como ler sobre arte fantástica; ver filmes do gênero cult, fantasia e documentário; assistir a séries literárias adaptadas para a televisão, como “Songs of Ice
and Fire”; ler sobre filosofia, história da ciência, literatura em prosa e ouvir blues, rock e heavy metal. Seu time do coração é o Botafogo.

Entrando na ABC
Para Passos, é uma satisfação muito grande ser membro afiliado da ABC e “um estímulo ainda maior a contribuir significativamente para o avanço e melhor divulgação da ciência no nosso país”. Dessa forma, o cientista pretende externar para os colegas e para a sociedade a importância estratégica de conhecer melhor a diversidade biológica do país.