Novos membros da ABC são empossados em cerimônia na Escola Naval

Mais uma tradicional cerimônia realizada na Escola Naval, no Rio de Janeiro, marcou a posse dos novos membros titulares e correspondentes da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no dia 5 de maio. O evento reuniu autoridades e muitos representantes da comunidade científica, além de contar com uma novidade: o retorno da entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com apoio da Fundação Conrado Wessel, que passa a acontecer simultaneamente à diplomação dos Acadêmicos.

Estavam presentes à mesa o governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando de Souza Pezão; o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo; o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro; o presidente da ABC, Jacob Palis; o presidente do CNPq, o Acadêmico Hernan Chaimovich; a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Acadêmica Helena Nader; o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel (FCW), o Acadêmico Américo Fialdini Júnior; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luis Manuel Rabelo Fernandes; o diretor-presidente da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Augusto Raupp; e o comandante da Marinha do Brasil, Almirante-de-Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira.

O governador, que precisou deixar a solenidade mais cedo por conta de outros compromissos agendados, declarou ser um “prazer imenso” participar do evento e afirmou que, apesar das dificuldades econômicas pelas quais passam o Estado e o País, é preciso esforço para ampliar as conquistas e cumprir as dívidas do governo com a população.

Pezão disse, ainda, que educação e cultura são prioridades. “Temos que colocar o Estado ombro a ombro com a ciência. No ano que vem, celebraremos os 100 anos da ABC, que receberá um palácio belíssimo como sede; parabéns a Jacob Palis pelo prédio. O Palácio da Ciência mais bonito será esse do Rio de Janeiro. Vamos entregá-lo pronto em dezembro.” Após a sua saída, o Governo do Estado foi representado pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio, Gustavo Tutuca.

Prêmio Almirante Álvaro Alberto reconhece trabalho de educadora

Em seguida, foi entregue o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, que visa a destacar e estimular cientistas brasileiros com relevantes contribuições à ciência, tecnologia e inovação. Instituído em 1981, o prêmio contempla, em sistema de rodízio, uma área do conhecimento por ano: Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes – esta última foi a categoria da edição 2015. A laureada foi a educadora da Magda Becker Soares, que criou o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Magda comemorou o fato de ser a terceira mulher entre os 44 premiados e a primeira da área de educação. “Posso me orgulhar por ampliar o reconhecimento das mulheres como colaboradoras da ciência e educação no Brasil, que sempre considerei minhas incumbências.” Ela citou Saramago ao dizer que “tudo no mundo está dando respostas. O que demora é o tempo das perguntas”. “As 500 mil notas zero na redação do Enem, por exemplo, são uma mensagem de que, mesmo depois de 12 anos na escola, esses alunos não são capazes de produzir um texto. Os pesquisadores têm que entender essa resposta.”

Américo Fialdini ressaltou que a entrega do prêmio se articular novamente com a posse da Academia tem um significado: “A cerimônia no Rio de Janeiro, junto à ABC, tem outro brilho”. O presidente da FCW ainda homenageou o Acadêmico Jorge Guimarães, que deixa a presidência da Capes após 11 anos, afirmando que ele é “um orgulho para o país”. O Almirante-de-Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira celebrou o fato de a premiação acontecer pela primeira vez na Escola Naval, a instituição de ensino superior mais antiga do país, e lembrou que o Almirante Álvaro Alberto, que ingressou ali em 1906, foi presidente da ABC em três períodos. Hernan Chaimovich disse ser emblemático que o CNPq tenha homenageado uma educadora e enfatizou: “Em Magda, temos um exemplo não só a ser admirado, mas estendido. Posso garantir que, na minha gestão no CNPq, esse cenário relativo às mulheres vai mudar”.

Na cerimônia, também foram agraciados com o título de Pesquisador Emérito do CNPq os Acadêmicos Isaac Roitman, Maurício Peixoto e Otávio Velho, entre outros. Quatro instituições receberam Menção Especial de Agradecimento: o Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb), o Fundo Newton, a Fundação Bill & Melinda Gates e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A posse dos novos Acadêmicos

Antes da diplomação dos novos membros da ABC, foram entregues por Jacob Palis os diplomas de membros institucionais à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), representada por sua presidente, Maria Zaira Turchi; e à BG Brasil, pela pessoa de seu presidente, Nelson Silva.

A categoria de membro institucional foi criada pela ABC em 1999, e é destinada a instituições com destacado interesse no desenvolvimento da ciência brasileira. Como forma de retorno à contribuição financeira feita pelos membros institucionais, a ABC se dispõe a realizar eventos abordando temas de i
nteresse em comum. Atualmente, a Academia conta com 12 membros institucionais: BG Brasil; Fapeam; Fapeg; Fapemig; Faperj; Fundação Conrado Wessel; Impa; Inmetro; Itaú; Petrobras; Vale; e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A Fapeg atua no fomento à pesquisa científica, tecnológica e de inovação, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico e cultural de Goiás. Já a BG Brasil é uma companhia de petróleo e gás filiada a multinacional britânica, atuante em mais de 20 países. Seu principal negócio é a exploração, extração de gás natural e de petróleo, mas também produz gás natural liquefeito.

Em seguida, os Acadêmicos Débora Foguel e Jailson Bittencourt de Andrade apresentaram os novos membros titulares e correspondentes, que foram ao palco receber seus diplomas. Entre os correspondentes, está Chunli Bai (foto à esquerda), o presidente da Academia de Ciências da China, o principal órgão do sistema de C&T do país. Bai também é presidente da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS).

O Acadêmico Elibio Rech fez uma saudação aos colegas empossados, destacando que os membros da ABC se reúnem para dedicar sua atenção a altos valores em comum: os assuntos científicos. “A Academia é membro constante do diálogo de inovação entre o governo, setores produtivos e comunidade científica brasileira”, disse Rech. “Disponibiliza recomendações baseadas em evidências científicas, relacionadas aos avanços da política de ciência e tecnologia e derivados impactos social e econômico para o país.” Ele concluiu afirmando que os novos Acadêmicos têm, hoje, a oportunidade para alcançar a unidade sistemática do desenvolvimento cientifico e tecnológico e intensificar a inserção do pais na bioeconomia mundial.

O professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Hilário Nascimento Saldiva falou em nome dos empossados, e contou o sentimento de orgulho ao receber uma carta assinada por Jacob Palis informando que foi eleito para fazer parte da ABC. “É como um prêmio, mas está longe de ser um cemitério de dinossauros. Temos que prezar pela convergência e complementaridade dos saberes na Academia.” Ele lembrou a paixão dos cientistas pelo seu ofício. “Todos nós já nos perguntamos o que faríamos um dia depois de ganhar na loteria, e a resposta seria: a mesma coisa.” Saldiva acrescentou: “Vamos tentar fazer com que o Brasil tempere com ciência todas as políticas, pois isso significa colocar a dignidade humana como uma prioridade”.

Jacob Palis comemorou a “fase de muito entusiasmo” que a ABC atravessa. Ele lembrou do centenário que será celebrado em 2016 e do progresso da Academia. “Temos atividades em todo o país, dividido por regiões. Continuamos com o programa de membros afiliados, jovens cientistas eleitos nessas regiões por Acadêmicos de lá e, certamente, muitos desses jovens se tornarão membros titulares no futuro”. Entre os membros empossados em 2015, inclui-se o matemático Eduardo Teixeira, o terceiro membro afiliado a se tornar titular.

Palis também lembrou que a presença de mulheres na Academia Brasileira de Ciências, de cerca de 14%, ainda é baixa, mas é maior que a de Academias de outros países, como Estados Unidos, França e Inglaterra. Também ressaltou que seus grupos de estudo produzem uma série de estudos de temas importantes para a sociedade brasileira, como a Amazônia, a educação em todos os segmentos, os recursos hídricos, o Código Florestal, as doenças negligenciadas e outros.

O ministro Renato Janine Ribeiro destacou a importância da nova aliança entre pesquisa de ponta e a educação, além do investimento na alfabetização. “A ABC é uma casa de inteligência e esperamos que esse ano rumo ao centenário seja de muitas realizações na educação, sobretudo a educação básica.”

Aldo Rebelo, ministro de C,T&I, lamentou o contraste existente no Brasil, um país de virtudes civilizatórias, mas de desequilíbrios. “O país dessa instituição centenária ainda tem pessoas que não conhecem matemática, não sabem contar, não têm luz elétrica”, afirmou Rebelo. “A ciência permite melhorar a qualidade de vida, mas também pode criar desigualdades. Temos o desafio de fazer o Ministério reunir os recursos para, por meio da pesquisa, nos tornarmos um país mais desenvolvido democraticamente. A noite de hoje me dá esperanças de que é possível.”

Confira a lista dos novos membros titulares e correspondentes da ABC: