Leia o artigo do Acadêmico Isaac Roitman publicado no boletim Pensar a Educação em Pauta, informativo semanal da UFMG, que discorre sobre a educação de crianças com altas habilidades (superdotação).
“Howard Gardner define talento por um arranjo complexo de aptidões ou inteligências, habilidades instruídas e conhecimento, disposições de atitudes de motivações que predispõem um indivíduo a sucessos em uma ocupação, vocação, profissão, arte, ou negócio. O talento é uma dimensão importante para o desenvolvimento científico e tecnológico, para a cultura e artes, para o novo modelo econômico competitivo e para outras atividades humanas. Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 4% das crianças e jovens apresentam altas habilidades (superdotação) que pode ser geral ou específica.
Em muitos países, notadamente nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Holanda a abordagem para os estudantes com altas habilidades tem sido estudada. Nos Estados Unidos, por exemplo, há pelo menos, dez periódicos voltados exclusivamente para a publicação de artigos ligadas às questões da superdotação.
No Brasil podemos destacar alguns marcos históricos para a construção de políticas públicas nessa área: 1. Criação do Instituto Pestalozzi (1945); 2. Criação do Centro Nacional de Educação Especial – CENESP (1973); 3. Criação da Associação Brasileira de Superdotados (1978); 4. Criação em Lavras do Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talentos – CEDET (1993); 5.. Criação no âmbito da CAPES do Programa Especial de Treinamento – PET nas Universidades brasileiras (1979). 6. A Implementação de programas ligados às Secretarias de Educação – Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Pará e Rio Grande do Sul (década de 90). Entretanto, apesar de termos especialistas qualificados nessa área, as ações e instrumentos são ainda incipientes.
A educação formal no Brasil é feita com um tratamento homogêneo dos estudantes, apesar de ser reconhecida uma diversidade bastante grande nos estudantes de todos os níveis. Os estudantes com altas habilidades (talentosos,superdotados, gifted students), apresentam um potencial acima da média para o desenvolvimento de seu aprendizado. Por várias razões um estudante talentoso não consegue atingir o seu potencial. Muitas vezes esses estudantes não são identificados e geralmente apresentam problemas de comportamento escolar. Os especialistas no campo da educação de talentos apontam que a identificação precoce do talento é importante. Existem evidências que mostram que estudantes talentosos que não são identificados precocemente podem ficar desencantados e desiludidos com a escola, se incluindo em um patamar baixo de desempenho na avaliação, apresentando problemas comportamentais, sociais e psicológicos. De maneira geral as escolas não apresentam recursos e não tem um corpo docente adequadamente preparado para prover os desafios acadêmicos, sociais e emocionais para proporcionar o aprendizado apropriado do estudante talentoso.
Para avançarmos é preciso que na família, e, sobretudo, nas escolas se identifiquem as crianças e jovens talentosos. Em seguida é proporcionar oportunidades educacionais no ambiente universitário. O jovem identificado teria um Professor universitário que atuaria como um tutor que estabeleceria um programa específico que poderia incluir: 1. Exercícios e tarefas; 2. Frequentar disciplinas; 3. Frequentar reuniões científicas e culturais, conferências, congressos, feiras de ciências; 4. Frequentar cursos especiais e estágios de curta duração; 5. Estimular a participação em Programas, tais como: Iniciação Científica Junior (CNPq), Programa de Vocação Científica (Fiocruz), Programa Ciência, Arte e Magia (UFBA). Em adição seria importante promover e estimular a aceleração do programa escolar que é assegurada pelo Artigo 59 da Lei de Diretrizes e Base da Educação (lei 9.394).
Para os talentos identificados no segmento social de baixa renda, serão concedidas bolsas e outros recursos para o pleno desenvolvimento das potencialidades desses jovens.
No contexto atual, grande parte do desenvolvimento de nossos talentos se perdem, principalmente nos segmentos mais pobres da população. Essa perda não é só na dimensão pessoal. Quem perde é toda a sociedade. Será importante o estabelecimento de diretrizes e ações que redundarão em um menor desperdício de talentos e de potencial humano, como vem ocorrendo em consequência das possibilidades limitadas oferecidas ao desenvolvimento da inteligência, da criatividade e do talento.”
Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.