Neto de agricultores e filho mais velho de um mecânico e uma professora, Adriano Nunes Nesi sempre foi apaixonado pelo campo, mesmo vivendo na cidade. O novo membro afiliado da ABC, eleito para o período de 2015-2019, ainda muito jovem já se interessava pelo trabalho em meio à natureza, o que o levou à carreira de agrônomo.
Desde pequeno Nunes ajudava seu pai nos finais de semana com o cultivo de hortaliças em uma pequena propriedade em São Joaquim, em Santa Catarina. “Cresci vendo o entusiasmo e fascínio com que meu pai trabalhava com os próprios braços naquela terra. Assim, acabei me interessando pelo cultivo e produção de alimentos”, conta.
Como a maioria dos meninos, Nunes gostava de jogar futebol e andar de bicicleta. O futuro cientista também não perdia o programa Globo Rural, transmitido aos domingos pela manhã, e tudo o que aprendia tentava imediatamente pôr em prática.
Vida acadêmica
Antes mesmo de terminar o ensino médio, o futuro cientista já estava certo sobre o curso universitário para o qual prestaria vestibular. Nunes conta, no entanto, que o início da graduação em agronomia na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) foi desanimador. “As disciplinas do curso eram basicamente uma revisão do que eu havia aprendido no ensino médio. Assim, candidatei-me a uma bolsa de extensão oferecida na faculdade.”
Para o membro afiliado, a extensão foi uma excelente oportunidade para conhecer a realidade de um assentamento de agricultores. O projeto destinava-se à produção de mudas de espécies arbóreas que seriam posteriormente distribuídas entre os agricultores do município de Lebon Régis, em Santa Catarina.
Após alguns meses de trabalho, o agrônomo decidiu mudar da extensão para a pesquisa na área de fertilidade de solos. Entre 1996 e 1997, Nunes foi bolsista de iniciação científica, e sob a orientação dos professores Sandra Mara Vieira e Alexandre Macedo, do Departamento de Solos da Udesc, pesquisou os efeitos de diferentes níveis de adubação na produção de feijão e abóbora. Durante este período, dedicava o seu tempo livre aos experimentos de campo e às análises laboratoriais. “Esta primeira experiência no laboratório de fertilidade de solos foi muito positiva na minha formação e me motivou a continuar pesquisando”, afirma.
No final de 1997, Nunes concluiu o curso de agronomia sem estar certo sobre a área que seguiria. Como agrônomo proveniente de uma região onde a fruticultura tem grande importância econômica, devido ao grande número de cooperativas e empresas, optou por fazer mestrado em fruticultura de clima temperado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul.
No mesmo período em que escrevia a dissertação de mestrado – “Multiplicação e alongamento in vitro de microestacas de porta-enxertos de macieira, sob a orientação do pesquisador da Embrapa Gerson Renan de Luces Fortes – e aguardava o resultado das seleções para o doutorado, o cientista recebeu uma oferta de trabalho em uma empresa agrícola em Vacaria, no Rio Grande do Sul. Como em poucos meses nasceria seu primeiro filho, aceitou o emprego. “Foi uma excelente oportunidade para verificar as aplicações práticas de todo o conhecimento que havia adquirido na faculdade. Trabalhei algumas semanas em Vacaria e logo recebi a notícia de que havia sido selecionado para dois cursos de doutorado”, relata, orgulhoso.
A tradição e a qualidade do curso de fisiologia vegetal foram os fatores que motivaram Nunes a escolher a Universidade Federal de Viçosa (UFV) para fazer o doutorado. Sob a orientação do professor Marcelo Ehlers Loureiro, o cientista iniciou seu projeto de doutorado – uma continuação do trabalho do próprio orientador – que consistia no estudo dos papeis fisiológicos das diferentes isoformas da sintetase da sacarose (SuSy).
Na metade do segundo ano do doutorado, conseguiu uma bolsa sanduíche do convênio CNPq/DAAD para trabalhar no Instituto de Fisiologia Molecular de Plantas em Golm, na Alemanha. Em outubro de 2001, iniciou o curso de alemão em Bremen, no mesmo país. “Este foi um período difícil, pois, além da adaptação à cultura e ao idioma de outro país, tive que ficar seis meses distante da minha família”, conta.
Nunes considera que a experiência no exterior foi fundamental para sua carreira: “Além de ter trabalhado com cientistas renomados na área, como Lothar Willmitzer e Mark Stitt, tive também a excelente oportunidade de trabalhar com Alisdair Robert Fernie e Fernando Carrari, jovens e motivados pesquisadores”.
Em 2004, o agrônomo defendeu a tese de doutorado na UFV e recebeu uma bolsa de pós-doutoramento do CNPq por um curto período na mesma universidade. Depois, retornou à Alemanha para continuar o projeto do ciclo de Krebs no grupo do doutor Fernie, no Instituto Max-Planck. Permaneceu na instituição por mais seis anos, período em que publicou artigos como primeiro e segundo autor em revistas de alto índice de impacto na área de plantas.
A experiência e os conhecimentos herdados do pós-doutorado encorajaram o agrônomo a retornar ao Brasil e ingressar em atividades de docência e pesquisa. Em abril de 2010, prestou concurso e foi aprovado para a vaga de professor adjunto na área de fisiologia vegetal na Universidade Federal de Viçosa.
Além da experiência ímpar do pós-doutorado, Nunes observou que a colaboração entre grupos e pesquisadores da mesma área é fundamental para o avanço da pesquisa. Assim, trabalha ativamente em colaboração com grupos da Alemanha e de outros países.
O jovem cientista desenvolve pesquisa que tem o objetivo de identificar e caracterizar genes relacionados à regulação da fotossíntese, respiração e processos associados em plantas submetidas a condições de estresses como seca, alagamento e deficiência nutricional. “A pesquisa pode ser utilizada em trabalhos de melhoramento genético e por programas biotecnológicos para a obtenção de variedades de plantas resistentes e capazes de produzir mesmo quando cultivadas em condições desfavoráveis”, explica o novo membro afiliado.
Mas nem só de trabalho vive Nunes. Em seu tempo livre, o catarinense gosta de ler biografias, romances e clássicos. Durante as férias, sempre que pode, viaja com sua esposa Liza e seus filhos, Lucas e Pedro. “Normalmente, vamos para São Joaquim visitar nossos familiares. Viajamos sempre de carro, uma aventura de 1.600 quilômetros observando as belas paisagens ao longo do caminho”, revela.
Conhecimento que fascina
Para Nunes, sua profissão é encantadora, pois ele pode entender o envolvimento de diferentes células e tecidos na regulação de um processo fisiológico e como tudo se relaciona com a sobrevivência da planta. “O que me fascina é a busca contínua do entendimento dos processos fisiológicos que ocorrem em uma célula. Como são regulados em resposta a fatores ambientais? como as organelas têm o seu metabolismo alterado em resposta ao estresse?”
O agrônomo sente-se honrado em receber o título de membro afiliado da ABC e diz estar “muito ansioso” com a possibilidade de interagir com profissionais de alto nível e participar de debates sobre a ciência no Brasil. “Vou procurar contribuir e representar a Academia da melhor forma possível
“, afirma.
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