Engenharia, neurociência, nanotecnologia, astronomia, física, química, paleontologia, matemática, ciências sociais, medicina. Os três dias de conferências da Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências deste ano, que acontece entre 4 e 6 de maio, estão marcados pela diversificação. Temas variados e participantes de peso, incluindo dois Prêmios Nobel, prometem debates ricos e interessantes para pessoas de todas as áreas.
A ABC entrevistou o coordenador da Reunião Magna, o Acadêmico Vivaldo Moura Neto, que falou sobre as novidades da nona edição do evento mais importante da Academia. O tema inédito, “O Valor da Ciência”, tem inspiração na obra do matemático, físico e filósofo Henri Poincaré, que viveu entre os séculos XIX e XX , e põe em discussão o valor intrínseco de atividade científica.
Nos próximos dias, a ABC publicará uma série de entrevistas com coordenadores de sessões e participantes da Reunião Magna 2015, que adiantarão os assuntos de suas apresentações e falarão sobre seus respectivos trabalhos e a relação deles com o tema do evento. Confira a seguir a entrevista com Vivaldo Moura Neto:
O tema da Reunião Magna de 2015, “O Valor da Ciência”, é bastante abrangente e pode ter várias interpretações. Quais delas estão relacionadas com a edição deste ano?
Vivaldo Moura Neto: A Reunião Magna deste ano abordará o Valor da Ciência na acepção de Henri Poincaré, um importante matemático, físico e filósofo francês dos séculos XIX e XX. A ideia, uma sugestão de Jacob Palis [presidente da ABC], é discutir assuntos ligados valor intrínseco da atividade científica, além de ressaltar o valor fundamental da ciência para o desenvolvimento socioeconômico de qualquer país e para a superação da crise brasileira. Há, portanto, dois lados deste tema, bem como Poincaré aponta: a ciência como um prazer intrínseco ao homem, que se alegra com o que faz como uma artista se alegra diante de sua obra, e o lado pelo qual a ciência pode ser “traduzida” e tornar-se uma aplicação útil ao desenvolvimento tecnológico e social.
A Reunião Magna de 2014 teve como foco a inovação e a integração entre a academia e as empresas. Já este ano, a programação parece estar mais voltada às diferentes áreas da ciência básica e o impacto de suas pesquisas. No atual cenário de uma importância cada vez maior das inovações tecnológicas, qual é o valor da pesquisa básica?
Vivaldo Moura Neto: A pesquisa dita básica, aquela que fazemos com um tema que nos desafia, intriga e que nos leva a buscar prazer no que fazemos, é de fato a essência do que descrevemos como inovação, tecnologia, aplicação. Poderemos ver estes elementos que norteiam a investigação científica que se faz nos laboratórios de todo o mundo de forma clara e com muito boa qualidade na Reunião Magna.
Veremos isso na fala de Michel Morange, professor da École Normal Supérieure, biologista com larga experiência, além de filósofo e “filho” da escola de François Jacob. Etienne Ghys, matemático já conhecido nosso [porque participou da Reunião Magna de 2014] e que tem sempre um ponto novo a apresentar, nos mostrará a beleza da matemática e da ciência. A colega Elisa Reis proporá um debate importante sobre as ciências sociais, e a mesa redonda sobre engenharia, que será conduzida por Sandoval Carneiro, discutirá a contribuição que a engenharia brasileira poderá nos dar neste momento em que precisamos partir do básico para o aplicado. Este é um binômio que pode refletir bem o pensamento central do prazer da ciência e seu grande valor para a sociedade.
Este binômio reflexivo será também ouvido nas conferências de Marcos Pimenta e Fernando Galembeck, trazendo-nos a nanotecnologia que eles sabem explorar tão bem com suas equipes. Já a premiada astrônoma Beatriz Barbuy falará sobre as lições que podemos tirar do céu através de sua ciência, que tem sido responsável por grandes e recentes descobertas. Alexander Kellner apresentará as contribuições da paleontologia para o conhecimento da história da Terra, tema que fascina a todos por estimular nossa curiosidade. Enfim, vamos lidar com o prazer intrínseco que o ser humano encontra em lidar com a ciência.
Nesta edição, teremos uma participação internacional forte, com palestras de dois Prêmios Nobel – um francês e uma israelense – assim como do matemático Étienne Ghys e do biólogo Michel Morange, ambos franceses. De que forma as experiências desses convidados podem contribuir para elevar o valor da ciência no Brasil?
Vivaldo Moura Neto: Jules Hoffmann, Prêmio Nobel de Medicina em 2011, nos abriu os olhos para a sinalização celular e o controle da vida celular, num trabalho sólido que continua sendo feito até hoje no campo das biologias. A professora Ada Yonath foi vencedora do Nobel de Química em 2009, com um espetacular trabalho demonstrando a ultraestrutura cristalográfica dos ribossomos, elementos celulares por onde passa o caminho da síntese de proteínas na célula. Seus trabalhos são inspiradores para nós.
Já a nossa sessão sobre o Valor da Ciência no Brasil será apresentado por alguém que tem uma visão amadurecida, rica e forte: Jorge Guimarães, que ocupou por 12 anos a presidência da Capes, fazendo crescer um invejável programa de pós-graduação no país, refletindo o potencial da ciência brasileira. É esta ciência feita no Brasil que deve ser solicitada para resolver os problemas que enfrentamos hoje e são essas soluções que nos levarão adiante.
Neste ano, teremos uma sessão especial dedicada ao Ano Internacional da Luz, uma iniciativa mundial da ONU que vai destacar a importância da luz e das tecnologias ópticas na vida dos cidadãos. O que podemos esperar dessa sessão?
Vivaldo Moura Neto: Será uma belíssima sessão, pois teremos o prazer e a honra de ouvir Moysés Nussenzveig, que sabe nos colocar “diante da luz” como ninguém. Sua conferência terá como moderador um dos nossos mais respeitados físicos, Luiz Davidovich. Inclusive, neste ano, procuramos vincular a cada conferência um moderador – alguém que dará um perfil do conferencista e que dirigirá a discussão a cada vez. Procuramos vincular nossos colegas Acadêmicos da melhor expressão nas áreas das conferências e, assim, teremos a participação de Jacob Palis, Carlos Aragão, Eliete Bouskela, Sandoval Carneiro, Luiz Eugênio Mello, Vitor Ferreira, Adalberto Fazzio, Belita Koiller, Helena Nader, Lucia Previato e Jerson Lima.