Leia o artigo do Acadêmico Isaac Roitman publicado no boletim Pensar a Educação em Pauta, informativo semanal da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Mina Gerais (UFMG), que discorre sobre os problemas do ensino de ciências na educação básica do Brasil.
“O ensino de ciências na educação básica do Brasil carece de qualidade devido a múltiplos fatores: 1. Formação deficiente dos professores e ausência de meios e estímulos em sua atualização; 2. Material pedagógico desatualizado; 3. Ausência de laboratórios; 4. O não reconhecimento social da função do Professor representado pelos baixos salários.
A preocupação com a educação científica é antiga. Na década de 60 sob a liderança de Isaias Raw foi implantada a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino da Ciência (FUNBEC). Ela produzia laboratórios portáteis de física, química e biologia e lançou a coleção Cientistas que consistiu em 50 kits contendo a biografia de cientistas e um manual de instrução e material para a realização de experimentos. A FUNBEC foi extinta na década de 70.
Mais recentemente várias sociedades científicas – Sociedade Brasileira de Física, Sociedade Brasileira de Química, Sociedade Brasileira de Genética – introduziram programas para a melhoria da qualidade do ensino de ciências. A Associação Brasileira de em Ensino de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Ensino de Biologia reúnem centenas de professores do ensino fundamental, médio e superior para discutir problemas, apresentarem trabalhos e atualizarem informações. Feiras de ciências, clubes de ciência, museus, olímpiadas e a introdução da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia representam avanços na educação e na divulgação científica estabelecendo pontes com um público mais amplo.
Com a expansão dos programas de pós-graduação e delineamento de uma área específica de pesquisa – Ensino de Ciências -, as organizações acadêmicas assumiram a responsabilidade de investigar e procurar fatores e situações que melhorassem os processos de ensino-aprendizagem. Alguns programas foram introduzidos para estimular a vocação de científicas no ensino médio. Um desses programas e que alcanço grande sucesso e que foi implantado há mais de duas décadas foi o Programa de Vocações Científicas na Fundação Oswaldo Cruz. Recentemente (2003) foi introduzido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o Programa de Iniciação Científica Junior que permite que o estudante do ensino básico – fundamental e médio – possa frequentar um ambiente de pesquisa, desenvolvendo um projeto sob a orientação de um pesquisador. Esse programa foi inspirado no Programa de Iniciação Científica para estudantes universitários, que foi introduzido pelo CNPq desde a sua fundação na década de 50 do século passado. Atualmente cerca de 100.000 estudantes participam do programa sendo que metade com bolsas do CNPq, das Fundações Estaduais de Apoio à Pesquisa ou institucionais. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) que conta com a participação de cerca de 250 instituições representa a base do Sistema de Pós-Graduação do País. Essa experiência única no planeta é um capital que precisa ser continuamente aperfeiçoado, principalmente pela atuação eficiente dos comitês externos que são convocados para os processos de seleção e avaliação.
Outras iniciativas merecem destaque. Uma delas foi à criação da Revista Ciências para as Crianças, que representa um admirável instrumento para o incentivo das crianças na ciência. Essa publicação é um fruto da Revista Ciência Hoje que tem desempenhado um papel importante na divulgação científica. Outros programas merecem ser mencionados como o 1. ABC na Educação Científica: Mão na Massa, conduzido por várias instituições por iniciativa da Academia Brasileira de Ciências; 2. Ciência, Arte e Magia, conduzido na Universidade Federal da Bahia que estimula as crianças a partir dos seis anos. 3. Centros de Educação Científica (Natal, Macaiba /RGN e Serrinha (BA). Esse programa conduzido pelo Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, proporciona um ensino de ciências para estudantes do ensino público; 4. Programa Jovens Talentos para a Ciência, lançado pela CAPES que tem como objetivo inserir o e estudante universitário nas atividades científicas; 5. Programa “Aventuras na Ciência” com a participação da USP, UFRJ e UNICAMP e coordenado por Herch Moysés Nussensweig. Esse projeto produz kits com instruções que os jovens podem levar para suas casas para realizarem os experimentos por gosto e não por obrigação, como acontece no caso dos deveres escolares.
Os desafios do século XXI passam pela formação de Professores que além de serem bem preparados para o ensino da ciência sejam valorizados. Em adição o ambiente escolar deve ser repensado. As salas de aula deverão ser reduzidas ou extintas. No lugar delas deverão ser disponibilizados espaços lúdicos equipados com todas as facilidades para que o estudante por si só tenha acesso ao conhecimento.”
Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da UnB e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.