A descoberta de novos fármacos, que são os princípios ativos dos medicamentos, é o objetivo constante da farmacêutica Carolina Horta. Há quatro anos, a pesquisadora focou sua busca em terapias mais eficazes para o tratamento da Leishmaniose, uma doença causada por protozoários que atinge cerca de 12 milhões de pessoas em todo o mundo, com 2 milhões de novos casos a cada ano, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). “É uma doença que afeta, principalmente, indivíduos de baixa condição socioeconômica e geograficamente marginalizados, e está presente em cerca de 90 países”, diz.
Além destes dados preocupantes, a Leishmaniose é considerada uma doença tropical negligenciada, principalmente pelo desinteresse das indústrias farmacêuticas em promover pesquisas na área. A Leishmaniose visceral, forma mais grave da doença, acomete vários órgãos, podendo levar à morte. Segundo a Dra. Carolina, os poucos medicamentos utilizados para o tratamento, descobertos há mais de 50 anos, não são adequados, pois causam muitos efeitos colaterais, não atuam contra algumas formas da doença e alguns ainda têm alto custo. “Por isso, é urgente a descoberta de fármacos mais eficazes, seguros e com preços acessíveis para estes pacientes”, explica.
Foram esses fatores que motivaram o desenvolvimento do estudo, que já identificou moléculas bastante promissoras. Três compostos foram, inclusive, mais potentes em experimentos in vitro que o medicamento padrão utilizado atualmente. “Neste momento, estamos na fase de otimização dessas moléculas, ou seja, tentamos aperfeiçoar algumas propriedades importantes para que elas se tornem um medicamento, como as propriedades farmacocinéticas e toxicidade. Em seguida, testaremos os compostos em modelos animais para avaliarmos a eficácia, segurança e mecanismo de ação\”, conta. A pesquisa também busca desenvolver os chamados fármacos multi-alvo, princípios mais inovadores por atuarem em mais de um alvo, evitando o desenvolvimento de resistência ao medicamento e tornando a terapia mais eficaz.
Caçula em uma família com cinco mulheres, Carolina nasceu em Formosa, interior de Goiás, e desde cedo se dedicou aos estudos. A paixão pela Química Medicinal começou logo após a graduação na Universidade Federal de Goiás (UFG), quando decidiu cursar o mestrado na Universidade de São Paulo (USP) com uma orientadora especialista na área que, ao ver seu excelente desempenho, a indicou para o doutorado direto, antes mesmo do término do mestrado. Hoje, com apenas 31 anos, Carolina acumula uma vasta bagagem acadêmica, incluindo um doutorado-sanduíche na University of New Mexico, em Albuquerque (EUA).
Além da dedicação à pesquisa, desde 2010, a cientista compartilha seu conhecimento com alunos de graduação e pós-graduação, orienta estudantes de mestrado e doutorado e coordena o LabMol – Laboratório de Planejamento de Fármacos e Modelagem Molecular. Para ela, o prêmio também é um incentivo para as jovens seguirem a carreira científica. “A premiação estimula não só a produção científica nacional, mas também jovens doutoras que estão iniciando suas carreiras em instituições de pesquisa brasileiras”, afirma, acrescentando que foi reconhecida pelo jornal O Popular, o veículo maior visibilidade de Goiás, como a primeira goiana a conquistar o Para Mulheres na Ciência.
Casada há quatro anos também com um químico e pesquisador, Carolina aproveita suas raras horas de folga com seus animais de estimação e a corrida de rua, que pratica de três a quatro vezes por semana. “Apesar da nossa rotina ser muito intensa, tentamos conciliar o lazer e aproveitamos as viagens a trabalho para esticar um pouquinho, ficando alguns dias a mais para passear e conhecer novos lugares”, diz. Mesmo com pouco tempo, a pesquisadora promete dedicação exclusiva ao seu futuro projeto: “Estamos planejando um filho para o ano que vem”, conta.