Energia sustentável e redução de riscos de desastres foram os dois temas debatidos por representantes do Escritório Regional para América Latina e Caribe do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU-ROLAC, na sigla em inglês), em sessão do Seminário Internacional Sociedade e Natureza. O evento foi realizado pela ABC nos dias 30 de setembro e 1º de outubro, e reuniu cientistas sociais e naturais de vários países em uma discussão intensa sobre soluções para problemas globais.
Em 2050, o dobro da demanda de energia
Décio Luiz Gazzoni, do Comitê de Direção para Energia Sustentável do ICSU-ROLAC, demonstrou a importância desse tema no contexto global do momento. Até 2050, a demanda de energia deve aumentar em 100%, e a energia sustentável – aquela gerada e fornecida de modo a atender as necessidades atuais sem comprometer as gerações futuras, através da utilização de fontes renováveis e limpas – pode ter um importante papel. Sua distribuição é mais democrática, ela gera menos impacto ao ambiente, reduz os riscos, utiliza a mesma infraestrutura e tem mais espaço para a inovação.
”Substituir as fontes de combustíveis atuais pelas renováveis gera economia de energia e maior eficiência”, afirmou Gazzoni, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). ”As pessoas estão ficando mais saudáveis, instruídas e vivendo mais, mas temos problemas sérios por conta do crescimento da população, como pobreza, crime e poluição. Precisamos pensar em como suprir alimento, água e outras necessidades de nove bilhões de pessoas, para o futuro.”
A atuação do ICSU-ROLAC
Por isso, ele vem atuando na preparação do Plano Científico do ICSU-ROLAC para Energia Sustentável, visto que esse tema está na linha de frente do desenvolvimento sustentável e aproveitando o reconhecimento que o Conselho já tem internacionalmente. O maior obstáculo da iniciativa, segundo Gazzoni, é a capacidade operacional limitada.
Ainda assim, os desafios, de um modo geral, são profundos – econômicos, políticos e sociais. Para enfrentá-los, são necessários investimentos em pesquisa & desenvolvimento (P&D) multidisciplinares, uma gestão do conhecimento eficaz, capacitação e captação de recursos. ”Temos que pensar em sistemas interconectados. Não será possível resolver os problemas se os temas forem analisados isoladamente.”
Para Gazzoni, a colaboração entre o ICSU, grupos de pesquisa e redes é essencial, bem como a participação de toda a sociedade civil, governos e mídias. Ele também ressaltou a importância de uma atuação com base na análise e avaliação das necessidades regionais. Para o desenvolvimento desse plano, é necessária, ainda, a participação das universidades e institutos de pesquisa de toda a América Latina e Caribe, promovendo, inclusive, o intercâmbio de estudantes e pesquisadores.
Compreensão da interação entre sociedade e natureza
Além da energia sustentável, outros três temas são considerados áreas prioritárias para a atuação do ICSU-ROLAC: biodiversidade, ensino de matemática e redução de risco de desastres. Este último também foi abordado no seminário. A presidente do Comitê de Direção do ICSU-ROLAC para essa área (que também trabalha em um Plano Científico), Barbara Carby, falou sobre o assunto no contexto da interação entre sociedade e natureza: ”Na minha opinião, para sermos bem sucedidos em reduzir os riscos de desastre, é preciso, primeiramente, entender o ser humano”.
Seu trabalho, explicou Carby, baseia-se na premissa de que risco é o resultado da interação no tempo e no espaço de eventos físicos e elementos expostos e vulneráveis dos sistemas sociais e ambientais. ”São interações complexas que exigem aplicação de conhecimentos e métodos das ciências sociais, naturais, básicas e aplicadas.”
O plano desenvolvido no âmbito do ICSU-ROLAC tem o objetivo de contribuir para o melhor entendimento dos efeitos do risco de desastres e promover pesquisa interdisciplinar para o benefício da sociedade. A mitigação (também chamada de redução de riscos), prevenção e a capacidade de resposta são efeitos secundários.
As áreas de pesquisa prioritárias são o mapeamento e a redução de riscos de desastres (RRD) em pequenas cidades e vilarejos, principalmente após o tsunami que aconteceu em 2004, no Oceano Índico. O plano também foca em redução de riscos em encostas e coleta e compartilhamento de dados de desastres naturais.
O comitê, que foi estabelecido em setembro de 2013, tem o objetivo de auxiliar na tomada de decisões mais adequadas e abrangentes no âmbito da RDD, desenvolvendo metodologias para a integração das ciências sociais e naturais. ”Queremos promover a transição entre pesquisa e ação”, ressaltou Carby. Diante disso, é preciso expandir a comunicação para incorporar de forma efetiva a ciência ao estudo dos riscos de desastres, além de encorajar a participação de toda a sociedade. Ela também criticou o fato de a pesquisa nessa área se concentrar nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. ”Talvez seja a preguiça de aprender novos idiomas. Temos que ir além da fronteira