O diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro) e vice diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Serviço de Referência da Fiocruz Rondônia, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, foi homenageado na manhã de 2 de junho com a comenda Ordem do Mérito Marechal Rondon, no Palácio Presidente Vargas, em Porto Velho. O outorga é oferecida pelo Estado a pessoas que se destacaram em todas as áreas de nossa sociedade.
A solenidade contou com a participação de integrantes da Fiocruz Rondônia, Embrapa Rondônia, Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Fundação de Amparo à Pesquisa de Rondônia (Fapero) e outras instituições, que prestigiaram o ato em homenagem ao pesquisador.
O governador de Rondônia, Confúcio Moura, destacou a importância do trabalho de Luiz Hildebrando ao longo dos anos, em prol da saúde no Estado. “Ele veio para Rondônia e aqui promoveu sua pesquisa em silêncio, construindo uma estrutura e trazendo novas tecnologias contra doenças tropicais em nosso Estado. É atitude de justiça premiar o mais ilustre pesquisador em nosso Estado”, frisou.
Para Luiz Hildebrando (à esquerda na foto com o governador), receber tal honraria do Estado onde seu trabalho foi desenvolvido é motivo de honra e orgulho. “A ciência experimental não é obra individual de um sujeito esclarecido, mas sim de um trabalho coletivo. Aqueles que trabalham em ciência atuam com o objetivo de promover um núcleo de elaboração de novos conhecimentos através de pesquisas. Esse trabalho foi iniciado há muito tempo, com a criação do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia (Cepem), passando pelo Ipepatro e agora com a integração à Fiocruz, através do trabalho desenvolvido pela Fiocruz Rondônia”, destacou.
No ano passado, Luiz Hildebrando foi um dos vencedores do Prêmio da Fundação Conrado Wessel, um dos mais importantes na área de ciência no Brasil. A premiação será no próximo dia 9 de junho, em São Paulo.
Perfil do premiado
Formado em medicina em 1953 pela Universidade de São Paulo (FMUSP), Luiz Hildebrando viajou com Samuel Pessoa para a Paraíba em 1954, onde participou da organização do Laboratório de Parasitologia e do ensino da disciplina na nova Faculdade de Medicina de João Pessoa. Desenvolveu entre 1954 e 1956, com Pessoa, pesquisas sobre a epidemiologia da esquistossomose e da doença de Chagas. Convidado em 1956 para assistente da cadeira de parasitologia na FMUSP, voltou a São Paulo e integrou-se à famosa equipe que trabalhava com Samuel Pessoa. Desenvolveu com sucesso, entre 1956 e 1960, em colaboração com Ferreira Fernandes, pesquisas em quimioterapia da tripanosomiase americana, utilizando análogos de purina para inibir a biossíntese de salvação de purinas do parasita.
Depois de 1960, quando obteve a livre docência em parasitologia, viajou como bolsista do COnselho Nacional de Pesqusia e Desenvolvimento (CNPq) para Bruxelas, onde trabalhou com René Thomas em genética molecular do bacteriófago lambda. Em 1962/1963 trabalhou no Instituto Pasteur com François Jacob, que acabara de publicar com Jacques Monod o célebre modelo de regulação da expressão gênica em procariontes que lhes valeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1965.
Voltando ao Brasil em fins de 1963, organizou com o Acadêmico Erney Camargo o Laboratório de Genética de Protozoários na FMUSP e o primeiro Seminário Paulista sobre Biologia Molecular, reunindo pesquisadores de várias instituições locais. Militante de esquerda conhecido, foi preso após o golpe militar de 1º de abril de 1964 e depois processado e demitido da USP pelo Ato Institucional nº1.
Voltou a Paris e ao Instituto Pasteur e trabalhou com Harvey Eisen, com quem descreveu o gene CRO, responsável pela regulação da expressão do repressor do fago lambda. Com previsão de retorno ao Brasil, organizou um curso sobre genética molecular de bacteriófagos no Departamento de Bioquímica da USP em 1967 e em 1968 aceitou a posição de professor no Departamento de Genética da USP- Ribeirão Preto, com Warwick Kerr, voltando a trabalhar com genética de eucariontes unicelulares. Em 1969, entretanto, foi novamente demitido pelo Ato Institucional nº 5 e voltou a Paris, onde foi nomeado chefe do Laboratório de Diferenciação Celular, adotando o modelo de Dyctiostelium discoideum.
Em 1976, foi convidado por Jacques Monod, diretor do Instituto Pasteur, a organizar uma nova unidade de parasitologia, associando sua experiência em protozoologia médica com a nova formação em biologia molecular. Entre 1977 e 1996 trabalhou em malária, reunindo uma equipe brilhante de colaboradores, como Jurg Gysin, Arthur Scherf, Odile Mercereau, Gordon Langsley, Pierre Druilhe, François Trape e Christophe Rgierm, entre outros, que desenvolveram importantes estudos sobre a imunidade protetora de malária falciparum, definindo, isolando as respectivas moléculas recombinantes e estudando em modelo primata experimental e em voluntários humanos uma série de moléculas antigênicas, candidatas a vacina contra a malária, que até hoje permanecem como moléculas prioritárias para futuras vacinas.
Organizou igualmente a unidade de produção de primatas modelo para malária experimental em Cayenne e a Unidade de Terreno em Diemo, no Senegal, para estudo de malária humana. De volta ao Brasil, após sua aposentadoria no Pasteur, integrou com Mauro Tada o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia e organizou depois o Ipepatro Rondônia, que reúne atualmente alguns especialistas de renome e várias dezenas de jovens pesquisadores, formados nos programas de pós-graduação da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
Hildebrando é pesquisador honorário da Fiocruz, coordenador da Pós-graduação em Biologia Experimental da UNIR, conselheiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC) e do Conselho Superior do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). É membro do Comitê Gestor do Instituto de Pesquisa Translacional em Saúde e Ambiente da Região Amazônica (InPeTAm) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colabora com várias universidades do país e do exterior.