O Acadêmico Renato Cotta e o novo projeto ao fundo. Crédito: Daniela Dacorso/O Globo

Professor da Coppe/UFRJ, Renato Cotta tem uma ligação muito particular com o tema da segurança aérea. O pesquisador, formado em Engenharia Mecânica, perdeu uma filha e o genro no voo AF 447 da Air France que, em 31 de maio de 2009, fazia o trajeto Rio/Paris e caiu no Oceano Atlântico. A bordo, além do casal que saía em lua de mel, outras 226 pessoas. Todas morreram. Uma das causas do acidente foi a falha dos sensores pitot, obstruídos por cristais de gelo em área de turbulência. A tripulação acabou sem saber a qual velocidade a aeronave voava.
– Fiquei quatro meses sem reação. Em 24 horas você passa do momento mais feliz da sua vida (o casamento da filha) ao mais trágico. O trabalho me salvou – contou ele.
Depois do luto, a virada. Hoje, exatos 5 anos depois do acidente, Cotta e sua equipe apresentam à comunidade científica o primeiro túnel de vento climático do Hemisfério Sul. Mirando a segurança dos voos e a qualidade de sensores de velocidade de aeronaves, os tais pitots, a Coppe/UFRJ projetou, por dois anos e meio, o equipamento que simula condições de voo extremas. No teste, as temperaturas atingem 20 graus negativos e velocidades equivalentes a um terço da do som. Já existem por aqui há tempos túneis de vento para testar a aerodinâmica de automóveis, mas este é o primeiro para aviões.
O equipamento pode testar a vulnerabilidade dos sensores de velocidade dos aviões comerciais, por exemplo, em contato com o gelo.
– Queremos melhorar a qualidade dos sensores, para que resistam às condições em que os aviões estão voando atualmente, a alturas cada vez maiores e com menos desvio das condições atmosféricas adversas por economia de combustível – afirmou Cotta.
O túnel pode ter efeito direto para empresas brasileiras que fabricam componentes de voo. É que, até então, a certificação dos sensores era feita nos EUA ou na Europa, a preços mais altos.
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Veja também a reportagem da GloboNews sobre o novo túnel.