São mais de 17 mil quilômetros de distância, mas, na paleontologia, o Brasil e a China estão mais próximos do que se imagina. Há onze anos, o pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Acadêmico, Alexander Kellner, e o novo membro correspondente Xiaolin Wang, diplomado no dia 6 de maio, trabalham juntos investigando répteis voadores que um dia habitaram as duas regiões.
Xiaolin Wang e Alexander Kellner
Professor do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia (IVPP, na sigla em inglês) da Academia Chinesa de Ciências, Wang participou de escavações responsáveis por encontrar fósseis de pterossauros em Liaoning, no nordeste da China, desde 1997. Foram achados diversos esqueletos, alguns completos, de 125 milhões de anos, e em grande quantidade, incluindo partes de tecido mole fossilizado. “São datados do Cretáceo Inferior e apresentam uma condição de preservação diferenciada”, relata Kellner.
Os dois pesquisadores explicaram ao NABC que alguns dos fósseis encontrados são muito similares às formas achadas no Brasil. “Foi daí que nasceu a colaboração”, diz o paleontólogo brasileiro. O grupo de estudos começou com Wang, Kellner e o também Acadêmico Diogenes Campos, e hoje conta com uma dezena de participantes. “Estudamos especialmente, mas não exclusivamente, répteis voadores”, informa o cientista chinês.
“Xiaoling encontrou o primeiro ovo de pterossauro. A partir dele, a gente soube que esses animais, estudados há mais de 200 anos, eram ovíparos”, revela Kellner. Em 2004, Wang e um colega publicaram um artigo na revista Nature, confirmando pela primeira vez que os pterossauros botavam ovos.
A cooperação nascida entre os pesquisadores chineses e brasileiros também já possibilitou a publicação de diversos trabalhos, inclusive sobre a descoberta do menor pterossauro do mundo, com abertura alar (de uma ponta a outra das asas) de 26 cm, também achado na China.
Outra descoberta dos pesquisadores, também em Liaoning, foram os pterossauros de um novo grupo denominado Wukongopteridae, que reúne características dos répteis voadores mais basais e dos mais derivados. “São mais antigos, do período Jurássico, encontrados em rochas de 155 milhões de anos”, relata Wang. O achado de 2006 foi publicado nos Anais da ABC em 2009.
Além desses, Wang destaca o Sinopteros, que representa o grupo dos tapejarídeos primeiramente encontrados no Brasil e que foi, posteriormente, achado na China. Já o Liaoningopterus, outro achado de Wang, pertence ao grupo dos anhanguerídeos, primeiramente encontrado no Brasil por Diogenes Campos e Alexander Kellner.
“Não é esperado que essa semelhança com a China exista”, afirma Kellner. “É comum haver similaridade de faunas extintas em relação à África, pois no passado os continentes da África e da América do Sul estavam unidos. Explicar essa semelhança é uma história a ser contada.”
“A participação brasileira nessa colaboração é essencial”, ressalta Wang. Para o membro correspondente da ABC, a troca de informações entre os dois lados é muito importante. Nas próximas semanas, o grupo deve anunciar mais uma nova descoberta. “Mas ainda não podemos revelar nada”, avisa Kellner.
Conheça também outro membro correspondente, o engenheiro mecânico turco Sadik Kakaç, eleito em 2013, que veio para o Rio de Janeiro especialmente para participar da Reunião Magna e estreitar o vínculo com a ABC. Clique aqui para ler a matéria.