Um médico fascinado por filosofia e teologia. Helton da Costa Santiago é um cientista que percebe no universo uma organização e uma coerência que transcende a matéria e avalia que o método científico não explora essa questão. Na sua área de pesquisa, acha incrível como o sistema imunológico é capaz de montar uma resposta pró-inflamatória para combater uma infecção e como o próprio sistema imune tem uma miríade de formas de se autorregular. A criação da memória imunológica também o deixa maravilhado.
E esse encantamento com a perfeição do mundo que o cerca começou de pequeno, no quintal da casa no interior de Minas Gerais, onde passava horas observando formigas e minhocas. Mais velho de quatro irmãos, Helton sempre foi conectado com a natureza. O pai era técnico de circulação de trens da Vale do Rio Doce, a mãe era professora primária e incentivavam os filhos para o estudo: todos os quatro tem hoje nível superior.
Ser cientista: um sonho distante
O menino sempre teve interesse por ciência, era muito curioso e gostava de saber como as coisas funcionavam. Mas como vivia no interior, nunca havia conhecido um cientista. Escolheu fazer medicina por que achava que era o mais próximo de “ser cientista” que iria chegar.
Durante a graduação, Helton começou a fazer iniciação científica (IC) ainda no primeiro período e os bons resultados que teve – inclusive publicando um trabalho como primeiro autor no periódico “Infection and Immunity” – o estimularam a continuar na pesquisa e decidir por fazer mestrado e doutorado. Seu mentor na IC, o professor Milton Adriano Pelli de Oliveira, foi uma das grandes influências para que Santiago seguisse na pesquisa. Depois vieram os exemplos da professora Leda Quercia Vieira e do Acadêmico Ricardo Gazzinelli, que consolidaram sua formação na pós-graduação, assim como a influência do Acadêmico Mauro Martins Teixeira. E assim, o menino sonhador do interior tornou-se um cientista.
Durante o doutoramento em bioquímica e imunologia, passou um curto período no National Institutes of Health (NIH), onde foi orientado pelo Prof. Alan Sher. “Foi um período de grande crescimento científico para mim”. Quando estava terminando o doutorado, surgiu a dúvida: continuar na pesquisa ou atuar na clínica médica. Uma conversa com o Acadêmico Rodrigo Corrêa-Oliveira o convenceu a integrar um grupo que estava testando uma vacina para ancilostomídeos em humanos. “Achei a oportunidade muito interessante e ingressei num estágio de pós-doutorado na George Washington University, onde fui treinado para conduzir ensaios clínicos.” Infelizmente, na fase 1 ocorreram graves reações alérgicas em pacientes previamente infectados e o ensaio clínico foi paralisado. Mas esse episódio despertou o interesse de Santiago pela Hipótese da Higiene, que foi seu tema de estudo então, de volta ao NIH, onde trabalhou com o Dr. Thomas Nutman.
Foco na resposta imunológica
Professor adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Helton Santiago vem desenvolvendo pesquisas em duas áreas principais: imunologia da infecção pela dengue e Hipótese da Higiene. “Ao estudar como o corpo humano responde ao vírus da dengue, temos procurado entender como o sistema imunológico combate o vírus e mantém seu pleno funcionamento sem entrar em colapso”, relata. Ele e seu grupo de pesquisa acreditam que quando o sistema imune sai do controle, o paciente desenvolve dengue hemorrágica. A busca por uma compreensão mais adequada dos mecanismos de resistência ao vírus e da regulação da resposta imunológica poderá trazer novas terapias e novos métodos diagnósticos para a dengue.
Sua outra linha de pesquisa, a Hipótese da Higiene, trata da influência que infecções têm no desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas. “Temos estudado especialmente como os helmintos [vermes] modulam a resposta imunológica, podendo trazer alívio a doenças como artrite reumatóide, diabetes, asma, inflamação intestinal e obesidade.” Nessa linha, Santiago tem grande prazer na descoberta de processos e mecanismos biológicos relevantes para a fisiologia do homem. “E me encanta a precisão dos sistemas biológicos de resistência a infecções, ver como as células atuam coordenadamente para manter a homeostasia do hospedeiro”, declara o pesquisador.
Contribuindo com excelência
Ser membro da ABC significa para Santiago um importante reconhecimento da comunidade científica à sua trajetória até o momento e um grande incentivo para continuar a buscar a excelência na pesquisa que desenvolve. “Pretendo contribuir com a ABC fazendo ciência de boa qualidade e promovendo a Academia, além de corresponder às demandas da ABC: fui convidado a participar como editor dos Anais da Academia Brasileira de Ciência e vou exercer essa função com muita honra, dando o meu melhor.”