Nada de bonecas. Brincar de pique-esconde, subir em árvores, andar de bicicleta, desenhar de mapas de tesouros. A infância tranquila de Fabíola Mara Ribeiro em Santa Juliana, pequena cidade do interior de Minas Gerais, sem trânsito nem violência, foi compartilhada com um irmão mais velho e uma irmã mais nova. O pai trabalhava no próprio sítio e a mãe era professora primária.
Na adolescência era fã dos esportes, praticava todos que podia – o que mantém até hoje. E adorava estudar. Na escola pública em que cursou todo o ensino básico, Fabíola gostava mais de biologia e química. Na família, ninguém trabalhava nessa área e ela foi a primeira a entrar para o ensino superior. Fiel às suas disciplinas prediletas, sua escolha foi pelo curso de farmácia. Passar no vestibular, no entanto, foi uma etapa difícil, visto que sua escola era fraca e ela não tinha boa base. Estudou sozinha por um bom tempo, mas não passou da primeira vez. Entrou então para um cursinho pré-vestibular e em quatro meses conseguiu entrar para o curso que queria, na Universidade Federal de ouro Preto (UFOP).
Despertar para pesquisa só se deu no mestrado
Enquanto cursava a graduação, Fabíola ainda não pensava em fazer pesquisa, mas integrava o grupo PET-Farmácia, realizando uma série de atividades extracurriculares envolvendo extensão e ensino. No final do curso decidiu continuar a estudar e fez a prova de mestrado no departamento de Bioquímica e Imunologia de Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde hoje é professora. Sua orientadora, professora Vânia Ferreira Prado, teve grande influência em sua carreira e foi quem guiou os primeiros passos de sua carreira científica. Seu co-orientador, Marco Antonio Máximo Prado, lhe ensinou muito sobre neurociência.
Fez então um doutorado sanduíche, com um estágio na University of Western Ontario, sob a supervisão do Prof. Stephen Ferguson. Para Fabíola, este foi um período extremamente proveitoso, sendo que voltou a trabalhar com o Prof. Ferguson durante o pós-doutorado, alguns anos depois. “E viajar é um dos meus grandes prazeres. Quando viajamos, temos a oportunidade de conhecer novas culturas e melhorar nosso entendimento em relação ao outro”, avalia a pesquisadora.
Terapias para doenças neurodegenerativas
Sua atividade de pesquisa visa a melhor compreensão da doença de Huntington, bem como o desenvolvimento de terapias para o tratamento da mesma. Essa é uma doença neurodegenerativa, assim como a doença de Alzheimer. Em ambas ocorre morte de neurônios, o que gera os vários sintomas apresentados pelos pacientes, tais como a perda de memória e, no caso da doença de Huntington, a perda do controle dos movimentos.
Quase metade da população acima do 80 anos de idade apresenta algum tipo de doença neurodegenerativa. Atualmente ainda não existem drogas capazes de modificar o curso dessas doenças. Portanto, novas terapias devem ser desenvolvidas com urgência, visando oferecer uma melhor qualidade de vida a esses pacientes. “No meu laboratório, almejamos entender melhor esses processos de morte neuronal e buscar drogas neuroprotetoras. Eu e meu grupo de pesquisa acreditamos que o entendimento dessas vias desencadeadoras de morte neuronal irá propiciar uma grande contribuição à ciência a ao desenvolvimento de terapias para tratar doenças neurodegenerativas”, entusiasma-se Fabíola.
Contribuir é o desafio
Fabíola faz ciência por amor e idealismo. O que a move é o prazer de contribuir para o conhecimento científico e para a formação de futuros cientistas, além de acreditar que conduzir pesquisas de forma ética e de acordo com as normas pode contribuir muito para melhorar a qualidade de vida no planeta.
E esse seu empenho vêm tendo reconhecimento, como a eleição para membro afiliado da ABC. “É uma grande honra, visto que a ABC é uma instituição altamente respeitada no Brasil e no mundo. A troca de informações com os demais membros, notáveis cientistas brasileiros, irá contribuir em muito para o desenvolvimento dos meus projetos de pesquisa. Pretendo contribuir com novas ideias para os vários programas da ABC e estimular a formação de novos neurocientistas no país.”