Nascida em uma João Pessoa ainda com ares de interior, Camila Alexandrina de Figueiredo cursou farmácia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). À época, a instituição era o local de trabalho de sua mãe, docente do curso de economia. O pai, também economista, atuava como empresário. Aos poucos, a carreira de Camila foi naturalmente rumando em direção à pesquisa científica. Hoje, seus estudos giram em torno das doenças alérgicas e da asma. E, a seu ver, essa escolha talvez venha do fato de sua avó paterna ter morrido graças a um problema asmático mal tratado e seu pai sofrer, durante toda a vida, com fortes crises de alergia. Tendo isso influenciado ou não a trajetória da pesquisadora, Camila agora tenta entender a ocorrência dessas patologias. Essa busca, que também passa pela melhoria da qualidade de vida de seus pacientes, já lhe rende grandes reconhecimentos. Um deles foi a eleição como membro afiliado da ABC em mandato que irá de 2014 a 2018.
Mãe de dois filhos e casada há 13 anos, a paraibana avalia a indicação como uma oportunidade única de crescimento pessoal e científico. Autodeclarando-se disponível para contribuir com a ABC com seu entusiasmo, conhecimento e motivação, ela diz que a interdisciplinaridade inerente às grandes descobertas é o que mais lhe encanta na ciência. “A interação de várias áreas do conhecimento, cada uma com sua expertise, pode ser uma importante estratégia para a concentração de esforços em torno de uma causa ou questão científica”, defende. Ainda assim, a biologia sempre foi o seu campo predileto. Mesmo antes de ser apresentada à genética durante o ensino médio, Camila adorava observar a natureza, principalmente os animais. Com as duas irmãs mais novas, era comum que visitassem tocas de coelho para acompanhar o nascimento dos filhotes.
Mas o espírito investigativo de Camila não cessou após a entrada no ensino superior. Ciente de seu gosto pela área de pesquisa, logo se tornou bolsista do Programa Especial de Treinamento, hoje chamado de Programa de Educação Tutorial (PET). De acordo com ela, foi lá que conheceu os três grandes alicerces da universidade: pesquisa, ensino e extensão. “No PET eu também entrei em contato com a imunoparasitologia, sob a orientação da professora Filomena Perrella Balestieri, durante uma atividade no Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF-UFPB)”, completa. Assim como Balestieri, a professora Márcia Piuvezam também exerceu grande influência na paixão da estudante pela imunologia. Tempos depois, durante a especialização, outros nomes importantes surgiriam.
Durante o mestrado cursado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, aprendeu muito com sua orientadora, Mary Luci de Souza Queiroz. Aproximadamente um ano mais tarde, participou com ela de um trabalho com resultados inéditos. Seu desempenho lhe rendeu um convite irrecusável: uma mudança de nível que a transferiria diretamente para o doutorado. Nesta ocasião, Camila ganhou uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e, logo em seguida, outra da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A experiência também incluiu uma viagem ao exterior e o estudo de células tronco-embrionárias e adultas. Parte complementar de seu projeto de pesquisa e formação acadêmica, o estágio na Universidade do Texas contou com a orientação da professora Rita Perlingeiro.
De volta ao Brasil, passou ao pós-doutorado. Sua ideia era, sob a supervisão da professora Neuza Neves, avaliar a relação entre infecções parasitárias e alergias. Para colocar em prática esse projeto, revezava-se entre os laboratórios de Patologia e Biointervenção da Fundação Oswaldo Cruz (LPBI-Fiocruz) e de Alergia e Acarologia da Universidade Federal da Bahia (LAA-UFBA). Cerca de um ano depois, em março de 2006, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) contemplou Camila com uma bolsa para o desenvolvimento – e posterior implementação – de estudos na área de imunomodulação no Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz, na Bahia.
Em 2007 veio a aprovação em um concurso público para professora adjunta da UFBA, onde viria a conhecer seu marido, também docente da instituição. Apaixonada por viagens, o ano de 2011 trouxe outra ida ao exterior: um estágio pós-doutoral na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Atualmente, Camila Figueiredo estuda os motivos pelos quais a ocorrência de doenças alérgicas vem aumentando no mundo, em especial na América Latina. Para isso, estuda como exposições ambientais, infecções e determinantes genéticos se relacionam a esse aumento. “Além disso, pesquiso a imunopatologia da asma em nosso país, que parece ser distinta em países desenvolvidos. Nós tentamos identificar alvos moleculares visando o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento de asma e alergias”, explica.