Leia artigo da presidente da SBPC e Acadêmica Helena Nader publicada no Correio Braziliense, em 27/11, sobre o Fórum Mundial de Ciência:
A complexidade crescente de grandes desafios para a humanidade requer que a comunidade científica internacional assuma novos papéis, pois cada vez mais o mundo é moldado pela ciência e tecnologia, que devem ser considerados e assumidos como legado comum da humanidade. A assertiva aparentemente utópica, em um mundo desigual, consta da Declaração de Budapeste do Fórum Mundial de Ciência de 2011, sobre o tema Uma Nova Era para a Ciência Global. O evento bienal que reúne academias e sociedades científicas de todo o planeta acontece neste ano no Rio de Janeiro, entre os dias 24 e 27 de novembro, e carrega o ineditismo de ser realizado pela primeira vez fora da cidade de Budapeste.
O tema deste 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC), Ciência para o Desenvolvimento Sustentável Global, resulta de uma extensa agenda de debates, trabalhos e propostas apresentados durante os encontros anteriores, que tiveram origem na Conferência Mundial de Ciência, organizada pela Unesco em Budapeste no ano de 1999. No último Fórum, em 2011, os participantes debateram e deliberaram sobre temas considerados cruciais para determinar o futuro da humanidade e o papel da ciência. Entre eles destacamos a questão da ética na pesquisa e na inovação, a necessidade de ampliar e fortalecer o diálogo com a sociedade sobre as implicações morais e éticas da ciência e da tecnologia, e a elaboração de políticas nacionais e internacionais que facilitem a equidade e a participação nos avanços da ciência e tecnologia.
Não é pouca coisa. Tanto que o tema central do evento que acontece no Rio propõe um foco de todas essas questões amalgamadas no problema específico do desenvolvimento sustentável global, presente hoje, ainda que em graus díspares, nas agendas de empreendimentos sociais, econômicos e políticos de todos os países.
O fato de o Brasil ser escolhido para realizar pela primeira vez o FMC fora da Hungria significa que nossa ciência atingiu maturidade, significa credibilidade dos cientistas brasileiros. Estamos nos preparando há mais de um ano. Com o intuito de reverberar o evento, o Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), coordenador local do Fórum, em parceria com as principais organizações brasileiras representativas da ciência e tecnologia, realizaram sete encontros preparatórios em algumas das principais cidades do país – o primeiro deles em agosto do ano passado, em São Paulo – para promover ampla discussão nacional sobre o tema central do FMC. O resultado dos encontros preparatórios foi consolidado em um documento apresentado durante o Fórum.
A SBPC participou da organização desses encontros e integra o comitê organizador do FMC, juntamente com a Unesco, o International Council for Science (ICSU), a American Association for the Advancement of Science (AAAS), a The World Academy of Sciences (TWAS), a European Academies Science Advisory Council (EASAC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), organizadora local do evento no Rio.
O FMC é também uma oportunidade para mostrar o avanço da ciência feita no Brasil. Nossa produção científica cresceu muito nas últimas décadas e hoje somos responsáveis por 2,7% do total mundial, o que nos coloca na 14ª posição. Nossa ciência e tecnologia são ainda recentes, se comparadas aos países mais desenvolvidos, mas temos polos de excelência em todo o país. Nos destacamos em setores como a indústria aeronáutica, tecnologias para a exploração do petróleo, produção do etanol, e avanços importantes nas ciências agrárias, doenças tropicais, medicina e odontologia, por exemplo.
Contudo, apesar da colocação entre as oito maiores economias do mundo, o Brasil é o quarto país com maior desigualdade da América Latina. Se o Brasil quiser ocupar um lugar de destaque na economia mundial e deixar de ser um país que vende commodities, terá que investir pesado em educação e ciência.
O Fórum Mundial de Ciência do Rio de Janeiro aborda desde questões elementares, como o abastecimento de água e esgoto para as populações, até discussões mais específicas, como o uso renovável das florestas. O que esperamos é que esse encontro notável de cientistas, representantes de organizações internacionais, academias, legisladores, e meios de comunicação, apresente propostas de soluções concretas para os desafios urgentes que a humanidade está enfrentando em todo o planeta.”