A Academia Brasileira de Ciências (ABC) acredita que a aliança entre a comunidade científica e o empresariado seja fundamental para o crescimento econômico e da competitividade do país em um mundo globalizado. Para os cientistas, essa parceria gera novos postos de trabalho, enquanto para as empresas, agrega valor aos seus produtos e soluciona problemas na produção.

Por isso, a ABC promove os simpósios Academia Empresa por todo o país, nos quais são apresentados casos de sucesso de empresas que apostam na inteligência nacional, contratando doutores brasileiros e investindo em ciência, tecnologia e inovação. Sua primeira edição ocorreu em 2010, no Rio de Janeiro, e desde então vem sendo realizado em todas as regiões.

Nos dias 10 e 11 de outubro, a ABC e a Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) promoveram a quarta edição do simpósio no Rio de Janeiro, durante a terceira Feira de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorreu entre 10 e 12 de outubro, no Centro Cultural Ação da Cidadania.

Coordenador dessa edição, o Acadêmico Renato Machado Cotta concedeu a entrevista a seguir, relatando as razões para a realização do evento e abordando temas da inovação e da difusão dessa parceria entre universidades e empresas pelo estado do Rio. Cotta é professor titular da Escola Politécnica e da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe/UFRJ) e coordenador de Pesquisa e Pós-graduação do Centro de Tecnologia (CT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua ainda como membro do Comitê Executivo da Academia Brasileira de Ciências.

Notícias da ABC Esta é a quarta edição do simpósio Academia Empresa no Rio de Janeiro. Qual o objetivo de realizá-lo anualmente?

Renato Cotta: Esse evento já se tornou uma tradição dentro da ABC e é ótimo que isto aconteça, pois trata-se de um foro privilegiado para a interação entre universidades e empresas. Ele é diferente dos eventos que ocorrem nas universidades ou nas empresas, já que, ainda que tratem de ciência, tecnologia e inovação (C,T&I), mantêm a perspectiva de um ou outro setor. Com a realização dos simpósios Academia-Empresa por todo o país a ABC vem reunindo os dois setores para debaterem essa parceria e apresentarem casos bem sucedidos. Com isso, é possível que ambos os setores interajam e passem a saber o que um demanda e o que o outro tem a oferecer.

NABC Nesta e em outras edições do simpósio, os palestrantes, sejam eles cientistas ou empresários, costumam falar da cultura da inovação, ou melhor, da falta dessa cultura, como um obstáculo a ser superado para aumentar a interação entre os dois setores. Como estes simpósios ajudam a reverter esse quadro?

Cotta: Se inovar é fazer algo que ainda não foi feito, é preciso arriscar. E para arriscar com segurança a melhor opção para as empresas é trabalhar com as universidades. Neste sentido, ao escolher as empresas que convidaríamos para participar do evento no Rio houve a preocupação de que fossem selecionadas empresas que tem essa postura. As diferenças de porte, área e tempo de atividade das empresas determinam o grau de interação com as universidades, o que mostra ao público que sempre é possível estabelecer essa parceria, que ela é importante e que traz bons resultados. Os casos de sucesso exibidos pelas empresas estimulam as outras, enquanto as dificuldades relatadas permitem uma preparação melhor.

A cultura da inovação não pode estar somente nas empresas. É preciso que as universidades e os cientistas desenvolvam essa cultura. Por isso, trouxemos pesquisadores que são verdadeiros empreendedores de C,T&I e gestores de incubadoras para relatarem seus casos. São cientistas que ocupam cargos nas empresas, tanto como pesquisadores quanto como gestores de C,T&I. Temos certeza de que essa troca de experiências estimula nas empresas e nos cientistas que assistem ao simpósio a vontade de agir nesse sentido, ou seja, de inovar em sua empresa ou em sua carreira.

NABC: Nesta edição do simpósio, a parceria academia-empresa no interior do estado também foi debatida. Ao que se deve isso?

Cotta: Ao debater ciência, tecnologia e inovação no interior do estado do Rio de Janeiro, o que se faz é acompanhar o processo de interiorização das universidades. Houve um processo histórico de instalação de indústrias pelos eixos rodoviários intermunicipais e estaduais, resultante tanto de uma logística industrial quanto de incentivos governamentais. Mais recentemente ocorreu um processo de interiorização das universidades e, com isso, criou-se mais conhecimento nesses locais.

As empresas já instaladas nessa região perceberam esse potencial e a interação academia-empresa acontece, sendo exemplos disso o polo tecnológico do sul fluminense, o desenvolvimento industrial na região serrana, nos municípios de Campos e Macaé. Pesquisadores com uma formação desejável trabalham nas universidades dessas regiões e são uma oportunidade de enriquecimento de recursos humanos para empresas ali instaladas.