A hipertensão, doença que afeta a vasculatura, é um problema comum para grande parte da população. Embora exista uma variedade de medicamentos disponíveis para seu tratamento, estima-se que apenas um terço dos pacientes consiga manter o nível de pressão arterial dentro dos limites da normalidade. As terapias mais avançadas envolvem a administração de inibidores do sistema angiotensina II, um peptídeo que o organismo produz naturalmente capaz de interagir no vaso sanguíneo e regular a vasculatura. O estudo da farmacêutica Fernanda Giachini investiga a fundo o comportamento dos vasos sanguíneos para compreender como os fatores anti-inflamatórios poderiam potencializar os tratamentos já existentes, oferecendo uma esperança para os pacientes que convivem com os males relacionados à pressão alta.

A cientista busca mostrar um novo papel para a interleucina-10 (IL-10) – uma citocina que é conhecida por induzir a produção de anticorpos para combater uma inflamação. Ela pretende verificar se a Interleucina-10 confere proteção vascular frente à hipertensão. A ação dessa citocina se dá pela modulação de um sistema de proteínas vasculares, que fazem com que a contração dos vasos aumente e o relaxamento diminua. “Este processo é fundamental para favorecer o fluxo sanguíneo para todo o organismo. O que acontece na hipertensão é que o vaso perde a capacidade fisiológica de acomodar as mudanças da pressão sanguínea, acarretando lesões em muitos órgãos”, explica.

Este processo de contração e relaxamento é regulado, em partes, pela angiotensina II, mas durante a hipertensão, a mesma encontra-se aumentada. O objetivo deste projeto é fazer com que a interleucina-10 possa reequilibrar as ações da angiotensina II, diminuindo a pressão arterial e contribuindo para uma melhora da vasculatura. Com o aumento dos níveis da interleucina-10, espera-se que ocorra uma sinergia com terapias farmacológicas já existentes, provocando uma melhora terapêutica e redução dos efeitos adversos. “Pretendemos potencializar o tratamento, focando nas pessoas que não respondem a terapias comuns. Quando não controlada, a hipertensão pode danificar os órgãos e causar outras doenças relacionadas, que são potencialmente fatais”, alerta.

Foi esta obstinação que levou Fernanda a seguir a carreira científica. Quando ingressou no curso de farmácia, em Barra do Garças, em 2000, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), percebeu que não seria fácil, pois era um curso novo e pouco reconhecido. Porém, o incentivo de uma professora de graduação a fez decidir dar continuidade aos estudos na Universidade de São Paulo (USP), onde fez mestrado e doutorado em farmacologia (2004 a 2010). Para seguir os passos da sua orientadora de doutorado, cursou em período-sanduíche na Georgia Health Sciences University, nos Estados Unidos, onde também concluiu o pós-doutorado (2010 a 2011). Após cinco anos, decidiu voltar para o país, incentivada pelo momento atual positivo da ciência brasileira e pela saudade da família.

Com 30 anos, Fernanda vive um momento especial: a maternidade. Em licença há quatro meses, a pesquisadora revela estar em uma fase de descobertas, embora não consiga deixar a ciência de lado. “O coração de cientista não para de pulsar. Quando o Théo tinha apenas dois meses, eu já conseguia me reunir com meus alunos para falar sobre a pesquisa. Apesar da correria no dia a dia, faço Pilates, gosto muito de ler e, principalmente, de estar com a família e os amigos. Para mim, é uma válvula de escape e foi por isso que decidimos voltar ao Brasil. E para dar conta de tudo, conto com o apoio incondicional do meu marido”, conta.