No dia 26 de agosto deste ano, a ABC promoveu – em parceria com a Associação de Genebra e com o apoio da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) – um simpósio que reuniu, além de representantes do governo, cientistas de ponta e profissionais da indústria de seguros. A intenção do evento era discutir, a partir da visão desses diferentes atores, os desafios e oportunidades para o setor no que se refere às mudanças climáticas e desastres naturais no Brasil. Compuseram a mesa de encerramento o Acadêmico Carlos Nobre, secretário nacional de Política de P&D do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e Richard Murray, assessor especial e chefe do Projeto de Regimes de Responsabilidade da Associação de Genebra.

Richard Murray

Na opinião de Murray, pontos extremamente significativos foram levantados. O ex-estrategista da Swiss Re ainda ressaltou que as discussões eram de interesse não só da indústria de seguros, mas também da sociedade como um todo. “Nós devemos declarar vitória”, declarou. Antes de abrir o debate para que os demais presentes compartilhassem suas próprias avaliações, ele lembrou que a Associação de Genebra sempre esteve interessada em encontrar possíveis lacunas no entendimento de algum dado, assunto ou campo de pesquisa. “Como resultado desse simpósio, eu espero que nós tentemos enumerar quais são essas lacunas, que podem estar nos âmbitos político, econômico ou até mesmo no treinamento da própria Defesa Civil”, justificou.

Nobre ateve suas considerações a um ponto diferente. Segundo ele, a sociedade brasileira não costuma debater assuntos relativos à repartição de perdas: “Trata-se de uma questão complexa, pois o cidadão às vezes se sente desprovido do poder de reivindicar seus direitos no sistema judicial contra o governo.” Ele também opinou, baseando-se no exemplo da cidade de São Paulo, que o país ainda não atribui responsabilidades objetivas ao poder público. Lá, os alagamentos e enchentes estão cada vez mais frequentes, ocasionando uma enorme perda econômica. Outra consequência é o aumento no preço das apólices, documento pelo qual o segurado repassa à seguradora a responsabilidade sobre os riscos prescritos no contrato. “A responsabilidade é do Estado, mas isso não é algo culturalmente importante no Brasil”, explicou.

Voltando ao caso da capital paulista, o Acadêmico contou que, em agosto de 1989, a cidade enfrentou uma chuva de 120mm. De acordo com ele, o operador do sistema responsável por jogar água do rio Pinheiros ao Tietê reverteu esse fluxo e, passando a jogar a água do Tietê no rio Pinheiros, causou uma grande inundação. “Isso é uma responsabilidade objetiva do Estado. Ainda mais naquele tempo em que o sistema era todo público, pois ainda não era operado por concessionárias”, relembrou. Indo além, ele afirmou que, segundo esse raciocínio todas as pessoas que tiveram perda total de seus veículos poderiam ter processado o governo. “E com toda a razão, porque o que aconteceu ali foi um erro de operação.” Apesar dessa impotência dos cidadãos frente ao poder público, Nobre diz acreditar que a questão ainda vai se colocar em debate com maior veemência, uma vez que o sistema econômico começa a demonstrar enorme sensibilidade. “São gastos, por ano, cerca de R$750 milhões só em função das inundações em São Paulo. É lógico que, em algum momento, as pessoas vão começar a questionar a repartição sobre essas perdas.”

Por fim, o palestrante afirmou ter aprendido muito sobre a indústria de seguros e reiterou a importância do espaço concedido pela ABC à junção de conhecimento e política, dois pontos de extrema importância. Para ele, é a partir dessa confluência que se pode avançar. “Do ponto de vista do MCTI, existe a percepção de que inovação não é só o novo conhecimento, é também achar soluções viáveis para os problemas da sociedade. É um posicionamento em relação a todas as intempéries climáticas ou não climáticas”, explicou. Nobre ainda defendeu que um ministério deve trabalhar próximo a todos os setores da sociedade. Nesse sentido, citou a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e concluiu: “Parcerias publico-privadas são muito importantes para o MCTI nesse momento.”