A República Dominicana foi sede, de 16 a 20 de julho de 2013, da última Assembleia Geral da Rede InterAmericana de Academias de Ciências (IANAS). Além de debater os avanços alcançados em cada programa idealizado pela organização, o encontro elegeu seus próximos co-presidentes, um novo Comitê Executivo e ainda designou o Brasil como país sede da assembleia a ser realizada em 2016.

As temáticas debatidas

Antecedendo a Assembleia Geral, foi realizada uma conferência científica que reuniu renomados pesquisadores em torno da discussão de temas como a vulnerabilidade sísmica na América Latina, os impactos provenientes das mudanças climáticas – riscos, desastres e perspectivas, passando ainda pelo aumento do nível do mar -as ameaças ao ecossistema e à biodiversidade e a questão dos furacões. Houve também uma sessão em que o Acadêmico Carlos Joly, professor titular do Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB/Unicamp), discutiu, a partir da experiência do Programa Biota, como traduzir o conhecimento científico em políticas públicas de conservação e uso sustentável da biodiversidade.

De acordo com o assessor técnico da ABC e ex-secretário executivo da IANAS Marcos Cortesão, a preocupação da reunião foi levantar um debate que tivesse, como foco principal, o Caribe. “Nesse sentido, foram organizadas conferências relativas a temáticas de interesse específico dessa região”, explicou. Vice-presidente da ABC, o representante oficial do Brasil na IANAS Hernan Chaimovich também estava presente na República Dominicana. Bioquímico graduado pela Universidad de Chile, ele vem atuando na política científica nacional e internacional com publicações e participações em conselhos, e, durante o encontro, atuou como moderador de um painel que tratou da vulnerabilidade climática.

Assembleia Geral

A Assembleia Geral aconteceu em 18 de julho, terceiro dia de evento. Além da discussão o Plano Estratégico 2013-2016, também foram realizadas pequenas reformulações estatutárias para corrigir imprecisões nos estatutos e regras e regimento geral da Rede. Os principais pontos abordados, no entanto, foram a discussão e posterior aprovação do Plano Estratégico de IANAS e a análise do andamento de seus programas. Na visão de Cortesão, os quatro programas -relativos às temáticas de águas, educação científica, energia e mulheres para a ciência – contam com um engajamento bastante forte por parte das Academias de Ciências associadas à organização. “Portanto, de certa maneira, essa Assembleia foi importante no sentido de reafirmar, devido à presença massiva das Academias membros, a vitalidade da Rede”, opinou.

Sobre o caso específico do Programa de Águas, quem relatou as atividades do programa foi José Galizia Tundisi, Membro Titular da ABC e presidente do Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA) que, ao lado da mexicana Blanca Jiménez, é co-presidente do projeto. Após o programa lançar uma publicação extremamente exitosa, Diagnóstico das Águas nas Américas , Academias de Ciências de países como Argentina, Brasil e México investiram em publicações derivadas que focassem as especificidades de seus respectivos países. Esta iniciativa ora vem sendo desenvolvida em outros países.

Em sua fala, Tundisi explicou que os principais objetivos do programa são: estimular as Academias a estabelecerem Comitês Nacionais de Águas que as ajudem a aconselhar governo e sociedade, preparar publicações focadas – em nível nacional e regional – nos problemas críticos do país ou região, implementar atividades de capacitação, discutir novas perspectivas e soluções inovadoras para o gerenciamento dos recursos hídricos e convidar relevantes atores sociais para ações coordenadas visando o aumento do acesso à água e serviços de saneamento na América Latina e região do Caribe.

Após discorrer sobre os documentos já publicados e também sobre as reuniões realizadas pelo programa, o Acadêmico adiantou que os próximos encontros deverão ter como foco a discussão do gerenciamento de águas em regiões metropolitanas, o que – em sua visão – é um dos grandes problemas enfrentados pelos países da América Latina. “O desafio não é somente assegurar o acesso à água e ao saneamento básico a pessoas que vivem nas cidades, mas também a populações que vivem em áreas de periferia”, explicou.

Além de avaliar o êxito das ações e programas propostos por IANAS, a reunião reservou certo tempo para que fossem considerados os novos pedidos de admissão ao quadro de associadas da Rede. Realizadas por parte das Academias de Ciências de Uruguai, Equador, Honduras, Panamá e Córdoba (Argentina), todas as candidaturas foram aceitas, sendo que a Academia Nacional de Ciências de Córdoba foi incorporada com o status de observadora, face ao fato da Argentina já possuir uma Academia vinculada à Rede.

Durante o encontro também foram eleitos os próximos co-presidentes da organização e seu novo Comitê Executivo (CE). Em seguida, Washington, capital norte-americana, foi designada como cidade-sede da próxima reunião desse CE, a ser realizada em março do ano que vem. A eleição dos co-presidentes, os quais irão estar à frente de IANAS no período de 2013 a 2016, foi um consenso entre os presentes. O americano Michael Clegg foi reeleito e o mexicano Juan Pedro Laclette, que já havia cumprido seus dois mandatos, foi substituído por Juan Asenjo, presidente da Academia Chilena de Ciências.

Juan Asenjo, Milcíades Mejía (presidente da Academia de Ciências da República Dominicana), Michael Clegg e Juan Pedro Laclette

O Brasil e a República Dominicana integram o próximo CE de IANAS porque, segundo o estatuto da Rede, constituem o seguinte CE a nação que estiver sediando a presente reunião e também o país escolhido para sediar a próxima Assembleia Geral – como foi o caso brasileiro, que receberá a reunião de 2016. Cortesão também comentou esse ponto: “Nós achamos interessante, no bojo da celebração do centenário da ABC, inserir a próxima Assembleia Geral no quadro de suas atividades. Apesar da Colômbia também ter se candidatado, ela reconheceu a argumentação e o mérito brasileiros e retirou sua candidatura, passando a apoiar a iniciativa do Brasil, que foi eleito por unanimidade.”

Perspectivas de crescimento

Fundada em maio de 2004, IANAS é uma rede regional de Academias de Ciências com uma vida relativamente curta. Apesar do pouco tempo de atuação, entretanto, ela conseguiu ser bastante efetiva no que se refere à articulação das ações das Academias de Ciências das Américas. Tal êxito é reco
nhecido pela Rede Global das Academias de Ciências (IAP), que usualmente se refere à experiência de IANAS como modelo para as demais redes regionais. Outro ponto importante, ressalta Cortesão, é o fato de quatro instituições recentemente consolidadas desejarem se vincular à Rede. “Um exemplo clássico é o do Panamá, que não tem uma Academia de Ciências propriamente dita, mas uma Associação Panamenha para o Avanço da Ciência (APANAC). Seus membros reconhecem o papel da IANAS na região e, após terem construído uma interação e participado de projetos realizados pela Rede, solicitaram sua adesão”, conta.

Ele ainda explica que o crescimento de IANAS pode ser percebido de forma qualitativa e quantitativa. “Nunca tivemos uma política de estimular a fundação de Academias de Ciências em países que ainda não contassem com comunidades científicas consolidadas e com volume suficiente para a criação desse tipo de organização.” Sendo assim, é interessante o fato de muitas dessas novas Academias – a exemplo da de Nicarágua, que aderiu à IANAS na Assembleia Geral de 2010 – terem suas gêneses estimuladas pela participação de seus países, no papel de observadores, em programas da Rede.

Todos esses fatores demonstram, ademais de claras perspectivas de crescimento para a organização, uma disposição bastante grande por parte das Academias membros de intensificarem suas colaborações no sentido de fortalecerem o uso da ciência, tecnologia e inovação para a construção de um futuro melhor para a região. Para Cortesão, a real importância está em utilizar essas ferramentas na sedimentação de sociedades mais justas e igualitárias, que pautem seu desenvolvimento em modelos de crescimento ambientalmente sustentáveis.